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Um partido para ser chamado de oposição

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01/07/2015

por: Guilherme Henrique Pereira*

 

No Brasil é comum surtos de exageros. Ao reiniciarmos a democracia estávamos ávidos por votar e algumas propostas foram claramente exageradas, basta lembrar a ideia de voto direto até para diretor de escola ou chefe de departamento em Universidade. Mas, sem dúvida, a proposta de consequências  mais negativas para o funcionamento do sistema político foi o grande número de partidos criados. Quem sabe quantos são? Hoje registrados são 32, e existem alguns processos em andamento, tanto para novos quanto para fusão de partidos. Em todo o mundo há exemplos de que a democracia pode funcionar muito bem com poucos partidos, um ou dois à esquerda outro tanto à direita, revezando-se no poder são mais que suficientes para garantir um grande debate de políticas governamentais, de fiscalização de quem está no Executivo e de transparência do processo eleitoral.

Hoje estamos em franco debate sobre reforma política. Para muitos nada sairá do papel, aliás, não é primeira vez que, terminada as eleições, inicia-se a apresentação de proposta e nada é finalizado até por volta de Julho do ano anterior ao novo período eleitoral. Assim, temos menos de dois meses para publicar alguma alteração. Em prazo tão exíguo, se algo acontecer não passará de pequenas mudanças relativas ao processo eleitoral, muito pouco em relação ao que precisamos para dar uma balançada neste nosso ecossistema político. As melhores notícias vêm do “mercado político” e dizem respeito à fusão de partidos, que poderá acontecer nos próximos três anos, e de dificuldades em avançar o registro de novos partidos. Quem sabe o amadurecimento da nossa democracia será em breve beneficiado pela qualificação dos partidos, o quê só se viabiliza se eles se tornarem programáticos. A única maneira de o eleitor compreender a diferença entre eles e escolher de fato as propostas nas quais acredita e que se sentirá atendido, caso se realizem. O que acontece hoje é o avesso do desejável, votamos nas pessoas que conhecemos na expectativa de ter um canal de acesso à burocracia, caso precise de algum jeitinho brasileiro. Ficamos no pessoal em vez de escolher as melhores propostas. E se é assim, o candidato também não pode pensar muito em conteúdo, tem é que apertar a mão de maior número de pessoas. Daí a campanha caríssima que temos. Para que os partidos se tornem programáticos, impõe-se que seja poucos afinal, como alguém já disse, não temos 32 ideologias para justificar tal número de partidos.

Outro grande problema entre nós é que todo partido tem como meta alcançar o mais depressa possível o Governo. É distribuindo cargos e recursos financeiros que os candidatos crescem em potencial de votos. Mas na democracia desejada os partidos deveriam crescer, e com eles seus candidatos, porque têm propostas de políticas que atendem a um grande número de grupos de interesse. A busca incessante para chegar ao poder executivo não é compatível com programas, é necessário compatibilizar o que se fala na campanha com o “mercado.” Basta lembrar que Lula precisou da carta aos brasileiros para dizer e comprometer-se que abriria mão de governar segundo as propostas do seu partido. Embora seja possível registrar alguns anos de crescimento econômico e avanços na inclusão social durante seu mandato, o abandono das teses do seu partido deu no que deu. Para a atual presidenta não foi suficiente a carta, foi necessário entregar o comando da política econômica ao capital financeiro e agora estamos mergulhados em profunda crise econômica, ética e política, sem falar das questões conjunturais relacionadas à energia e água. Pior, sem perspectivas de saída em curto prazo. Os mercados financeiros desregulados e os grandes fluxos de mercadorias no mercado mundial estabelecem em seu rastro uma rede de interesses que de fato constrange a liberdade das nações na implementação da política econômica. Então se todo partido almeja chegar ao Poder Executivo, é preciso falar à linguagem que o “mercado” quer ouvir. Perde a democracia, pois ficamos sem partido de oposição, perde a sociedade – especialmente as emergentes -, pois a construção de um eventual projeto nacional fica sem defensor.

Nesse cenário, como seria bom contar com um partido que não tem como meta ser Poder Executivo. Isso lhe permitiria a liberdade de ser chamado de e realmente exercer a oposição. Uma fusão do tipo PPS/PSB tem tudo para ser algo diferenciador, porque têm uma história e um grande valor em comum. Ambos foram fundados a partir do valor da igualdade. Se de um lado a preservação desse valor representa um grande desafio a ser superado nos detalhes operacionais e interesses eleitorais do processo da fusão, de outro poderá ser o fundamento de um grande partido com todas as prerrogativas para ser um partido de oposição verdadeira. Terá história, tradição e valor fundante para ser construtor e defensor de um projeto de nação brasileira.

 

* Professor, Doutor em Ciências Econômicas.