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Marcha da Vergonha: “Pas en notre nom”

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14/12/2015

         Mais de um ano sem governo, a sociedade civil belga, cansada do “lenga-lenga” dos políticos, não pegou em armas, nem  pediu a intervenção do exército.  Foi simplesmente para a rua e realizou uma série de atos  inusitados e simultâneos nas diferentes cidades. Os internautas promoveram o  cerco virtual ao palácio do governo.  No velho estilo do nosso deputado Márcio Moreira Alves, uma senadora sugeriu que as esposas dos políticos fizessem greve de sexo. Teve strip tease na rua, distribuição gratuita de batata frita (o equivalente à nossa “pizza”). Tudo em protesto contra a inoperância e o fisiologismo dos políticos. Um geek - excêntrico fã da tecnologia eletrônica – criou uma guerra de brinquedo para ridicularizar os adeptos da violência.

         O conjunto das manifestações populares foi estigmatizado como “A marcha da vergonha”, cujo mote principal era “Pas en notre nom” , ou seja,  você não estão autorizados pela população  a agir dessa forma. Não se tratava de impeachment de governante, mas da renúncia do primeiro ministro Yves Leterme, no dia 10 de abril de 2010, que concluíra,consciente e responsavelmente, que   não tinha mais apoio popular para resolver o impasse. Surgira nos meios políticos a tentativa de dividir o país entre duas comunidades lingüísticas: a valona, mais pobre, que fala o francês; e a flamenga, mais rica, que fala um dialeto próximo do holandês. Emergiam daí diferenças culturais, na maneira de governar e nos privilégios para um e para outro.
 
         Aos 365 dias sem governo, o país estava politicamente à deriva. Nem assim a Bélgica parou. A economia continuou crescendo, as exportações mantinham-se estáveis, os investimentos inalterados e os programas sociais atendidos sem a necessidade de pedaladas. O segredo: o Estado amparava-se em instituições sólidas, diretrizes orçamentárias claras  e políticas públicas bem definidas, que foram assumidas e executadas no nível regional e municipal, independentes da presença do governo central. No Brasil acontece, nesse momento, o contrário. Tudo está fragilizado: o  governo, as instituições e as políticas públicas.  Há uma generalizada perda de confiança popular nos Poderes constituídos e nos chefes dos Executivo, do Legislativo e do Judiciário. São pessoas  que se dirigem `a população como se estivessem falando para autistas. Deixam transparecer uma  aparência falsa, que alimenta a insegurança.
             
             No sistema parlamentarista, como o belga, a perda da confiança  popular obriga moralmente os governantes a se afastarem. Houve momentos em que, na Itália, o país funcionou também sozinho, diante das sucessivas trocas de primeiro ministro. E todos eram legitimamente eleitos. Golpe? Não precisa por lá . Os institutos jurídicos e as normas legais são suficientes para dar conta do funcionamento do Estado e das suas relações com a comunidade nacional.  

            Por aqui o grande instituto de sobrevivência política é a retórica  recorrente e abstrata em “defesa da democracia” . Parece “desmanchar-se no ar” quando saí da boca de governantes que, sem constrangimentos,  querem dar à História a própria versão: “Nunca antes neste País”. Há, na verdade, uma impertinência, quem sabe, doentia – Hitler, Mussolini, Stálin, Hoxha, Khadafi - eram psicopatas que chegaram ao Poder.  Mantinham-se como chefes de Estado ou de governo  por meio de artifícios vários, usando, sem pudor, até  mecanismos de terror. No Brasil, a fase é de convencimento de que dias  melhores virão. Mas, pela própria matemática do governo, já se sabe que isso não vai  acontecer tão cedo.  A população  amargará ainda  um longo tempo essa agonia de não poder prever o futuro, nem das contas pessoais.  A produção encolhe, o emprego desaparece, o salário cai, a saúde está fragilizada, e a educação perdeu o rumo. Não é o caso de ter ou não ter governo. É de  desgoverno mesmo. Há uma avaria geral nas instituições

             Por causa do tamanho e a complexidade dos interesses políticos e das deslealdades nos engendramentos com o dinheiro público, o nosso paquidérmico Estado de 8 milhões de km2 e 200 milhões de brasileiros, não consegue mover-se sozinho. Não se trata exclusivamente de condições políticas para a governabilidade, nem nada de revolucionário. É patologia pura. Um embate de loucuras pessoais,  nadando numa maré em baixa, que confunde  a população indignada.  “Até quando Catilina abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós?”(Cícero ano 63 AC). Ou a resposta vem das  ruas, ou ressuscita-se Machado de Assis, com seu “Alienista”, para explicar o que está acontecendo. Há uma psicopatia pairando no ar. Nenhum político está falando ou pode falar mais em nome de ninguém (“Pas en notre nom”).  E tudo que se fala não merece crédito. O povo brasileiro começa a caminhar de cabeça baixa face ao estrangeiro: todos os índices do Brasil caíram. É " A marcha da vergonha" belga repetindo-se no Brasil  . 

 *Jornalista, professor. Doutor em História Cultural.

Eliezer Batista Ligou A Vale Ao Resto Do Mundo

Galgando vários postos ao longo de sua carreira, até ser nomeado presidente da mineradora coube a ele transformar..


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