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Por Que os Juros Sobem e a Inflação Não Cai

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31/08/2015

      Atualmente em 14,25%, a taxa de juros Selic deve permanecer em patamares elevados por um bom tempo, mantendo-se a expectativa, do mercado, de que só deverá ser reduzida em 2016, mesmo assim para níveis não distantes do atual. Tal expectativa pode, no entanto, piorar em função dos desdobramentos da crítica situação da economia da China e de suas repercussões no Brasil, da decisão ainda a ser tomada pelos Estados Unidos sobre a trajetória de suas taxas de juros, do imbróglio grego na Zona do Euro, e dos riscos que o país corre de perder o status de grau de investimento pelas agências de risco.

      No último Relatório da Inflação, do final de junho, o Banco Central justificou a elevação da Selic – à época em 13,75%% - como necessária para “assegurar a convergência da inflação à meta de 4,5% em 2016”, considerando perdido o de 2015 para este objetivo, já que estimando que a mesma atingiria 9% neste ano. Para 2016, o Relatório projetava uma inflação de 4,8% (contra 5,1% do mercado), confiando que com mais um aumento da Selic, como viria a ocorrer em julho, quando a mesma foi elevada para 14,25%, este objetivo estaria garantido, permitindo à política monetária reduzir sua agressividade.

      Desde que começou a elevar a taxa de juros para combater a inflação, em abril de 2013, a política do Banco Central não tem se revelado exitosa nessa empreitada. Então em 7,25%, a Selic praticamente dobrou nos últimos dois anos, passando para 14,25%, enquanto a inflação continua em trajetória triunfante. As últimas projeções do mercado, feitas em agosto, apontam uma inflação de 9,29% em 2015 e, por enquanto, de 5,5% em 2016, ainda bem acima da meta de 4,5% perseguida pela autoridade monetária.

      Isso se deve muito ao modelo utilizado pelo Banco Central de combate à inflação, o do regime de metas inflacionárias, que considera este fenômeno como sendo causado exclusivamente por um excesso de demanda, ou seja, por pressões de gastos em consumo e investimentos, provocados por um sobreaquecimento da economia. Neste caso, a elevação dos juros e a contração do crédito seriam suficientes para derrubar esses gastos, ao encarecê-los, e retirar forças da inflação, reconduzindo-a aos níveis pretendidos. Não é o que está acontecendo.

      Isso se explica pelo fato de que a inflação brasileira apresenta, na atualidade, um componente predominantemente de custos, pouco sensível aos movimentos dos juros, o que o modelo “cego” do Banco Central não considera. Em boa medida, a forte aceleração dos preços no ano tem resultado, de um lado, do aumento considerável dos preços administrados de energia e combustíveis, que contaminam os custos de toda a cadeia produtiva e, de outro, da acentuada desvalorização cambial, que ultrapassou em termos nominais, nos últimos doze meses, a barreira dos 60%. Além disso, o próprio aumento dos juros torna-se alimentador da inflação, ao encarecer o crédito para o consumo, a produção e os investimentos. A isso ainda se somam fatores sazonais, como a alta do preço dos alimentos provocado por problemas da seca registrada no país. Não são fontes de pressão de preços muito sensíveis à política de juros.

      Em relação à demanda agregada, alvo principal do modelo do Banco Central, a verdade é que não se pode mais enxergar quaisquer sinais de vida em seus componentes, com o avanço em ritmo forte da recessão. O consumo das famílias se encontra em queda livre, com o aumento do desemprego, da queda real dos salários, do avanço da inadimplência e das maiores restrições ao crédito. O consumo do governo, sitiado por uma política ortodoxa de ajuste fiscal, mostra-se sem fôlego para exercer qualquer pressão sobre a demanda. Os investimentos, paralisados por falta de competitividade da produção nacional, de confiança na política econômica e no futuro do país, afundam nas investigações de corrupção da operação Lava Jato, envolvendo grandes empreiteiras e investidores. Já a demanda externa, desfalecida pela crise mundial, não se apresenta como candidata a ajudar na retomada do crescimento econômico no país.

      Em contrapartida, se, de um lado, a economia real está pagando um preço muito alto com essa política inócua e esquizofrênica do Banco Central, diante do avanço da recessão, do desemprego e da queda da arrecadação, por outro, com ela se arrebentam ainda mais as contas públicas, à medida que a carga de juros não para de crescer: nos últimos doze meses, encerrados em junho, os gastos com essa conta atingiram R$ 417 bilhões (ou 7,32% do PIB), enquanto o déficit nominal do setor público chegou a R$ 462 bilhões (8,12% do PIB), provavelmente superando o da Índia, único país entre as economias desenvolvidas e emergentes que havia registrado, em dezembro de 2014, rombo maior que o do Brasil. Com este desequilíbrio, a relação dívida do setor público, como proporção do PIB, tem evoluído de forma temerária, atingindo 63% em junho, um crescimento de mais de 4 pontos percentuais em apenas 6 meses, prenunciando a necessidade de mais ajustes recessivos para escapar da maldição da perda do grau de investimento pelas agências de rating.

      Isso não significa que a política do Banco Central não conseguirá debelar a inflação em algum momento. Não se tem notícia de que essa resista, por tempo prolongado, a uma política de terra arrasada e de que com ela não se tenha conseguido alcançar a paz no reino dos preços. Essa pode corresponder, no entanto, à “paz dos cemitérios”, situação em que, se não há inflação, não se encontra, também, vida econômica e social pulsante no país.



Eliezer Batista Ligou A Vale Ao Resto Do Mundo

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