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Bresser, o Ajuste Fiscal e o Câmbio

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09/11/2015

Apesar de críticos de alguns pontos do ajuste fiscal do ministro Joaquim Levy, alguns economistas tidos como desenvolvimentistas veem nele aspectos importantes e chegam a considerá-lo mesmo necessário para que se recupere a confiança das empresas e para que o investimento retorne à economia. Luiz Carlos Bresser Pereira, que foi ministro da Fazenda no governo Sarney (1985-1989) é um destes economistas.

Em artigo na Folha de São Paulo, de 26 de outubro deste ano, intitulado “Não Saia, caro Levy”, Bresser defende o ajuste em curso, considera-o mais do que necessário para sanear o Estado, desmantelado com a política fiscal expansionista de Dilma, e não vê alternativa à política implementada por Levy, condenando como nociva toda e qualquer ação do governo voltada para sustentar o crescimento econômico nas condições atuais. Para ele, tal como para o atual ministro da Fazenda, o país tem primeiro de redimir-se dos pecados cometidos em termos de política econômica para purificar-se e só, então, poder voltar a se candidatar a ingressar no paraíso do crescimento.

O entusiasmo de Bresser com a política econômica de Levy, mesmo reconhecendo que não pertencem à mesma escola de pensamento, deve-se muito, como deixa transparecer no artigo, principalmente ao ajuste ocorrido na taxa de câmbio, com a desvalorização, até setembro, de 50% do Real frente ao dólar em relação a dezembro de 2014. Essa depreciação teria, segundo ele, devolvido competitividade à indústria nacional (uma das causas da crise) e dado condições ao país de reconquistar mercados externos e voltar a investir, bastando, para isso, que o Banco Central se convença de começar a reduzir os juros para a economia brasileira sair da crise. Simples assim.

A questão do câmbio parece ter se tornado, há já algum tempo, uma obsessão para o ex-ministro, como se o fato de colocar o seu preço “real” no lugar fosse suficiente para remover os entraves que obstam o crescimento do país, deixando o caminho pavimentado para a retomada dos investimentos. Embora a exagerada apreciação do câmbio tenha, de fato, desde a implementação do Plano Real, prejudicado – e muito! – a indústria brasileira, por ter sido utilizado como âncora dos preços nos governos FHC, Lula e Dilma, essa não deixa de ser uma visão muito estreita dos problemas da economia brasileira que emperram seu ingresso numa trajetória de crescimento mais sustentado.

Bresser parece, assim, enxergar no mercado externo, uma saída para a crise, assim como outros economistas, enquanto o ajuste de Levy cuida de soterrar o mercado interno com a política de reenquadramento do Estado no receituário ortodoxo e de aniquilamento do emprego e da renda, por meio da recessão, produzindo-se, dessa forma, uma interação virtuosa entre estes dois movimentos. Esquece, contudo, que, além do pequeno peso das exportações brasileiras no PIB, nem o cenário econômico internacional é favorável para este se tornar o novo motor do crescimento, nem a indústria brasileira, apesar da melhoria do câmbio se encontra em condições de disputar mercados externos com os países mais desenvolvidos tecnologicamente.

Não é difícil entender a razão disso. Desde a crise do subprime e da dívida soberana europeia, esta iniciada em 2010, juntamente com a desaceleração da economia da China, a economia mundial ingressou, também, numa trajetória de desaceleração da qual ainda não conseguiu sair, especialmente após as economias emergentes reduzirem, também, seu ritmo de crescimento. Com isso, o comércio mundial tem se expandido a níveis inferiores a 3% nos últimos anos e os principais países importadores da indústria brasileira – como os da América do Sul e da União Europeia – têm tido um desempenho econômico nada animador.

A indústria brasileira, por sua vez, relegada a segundo plano com a febre e a ilusão das commodities, enfraqueceu-se perante uma política macroeconômica a ela desfavorável, em termos de competitividade, inovação e desenvolvimento tecnológico, com vários fatores atuando, entre os quais o câmbio, para aumentar o custo-Brasil: carga tributária, juros elevados, infraestrutura precária, baixa qualificação da mão de obra etc., submetendo-a a um processo de desindustrialização precoce. Não parece que apenas a desvalorização do câmbio seja suficiente para reerguê-la e para reverter este processo.

Bresser não se dá, nessa sua obsessão pelo câmbio,nem ao trabalho de discutir os efeitos colaterais danosos que a sua desvalorização causa para a economia e para a condução da política econômica, como a inflação, a depreciação dos ativos cotados em dólar, o passivo dos devedores externos etc. Parece menos preocupado, no artigo, com a natureza do ajuste de Levy e mais com as suas consequências para o ajustamento deste preço, à medida que a recessão com ele produzida contribui para achatar o salário real, melhorando a relação câmbio/salário e, com isso, a competitividade da indústria.Um ajuste que a ortodoxia sente prazer em realizar.

Mas, salvar a indústria do processo de sucateamento a que foi submetida pela política econômica com o enfraquecimento do mercado interno, significa limitar sua capacidade de, efetivamente, contribuir para o reerguimento da economia brasileira em bases mais sólidas. O que o seu artigo não leva em conta.

Eliezer Batista Ligou A Vale Ao Resto Do Mundo

Galgando vários postos ao longo de sua carreira, até ser nomeado presidente da mineradora coube a ele transformar..


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