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De Natal e Luz no Fim do Túnel

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21/12/2015

Se faltava algum ingrediente para concluir o processo de formação de uma “tempestade perfeita” para a economia brasileira, este surgiu com a aceitação pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, do pedido de impeachment da presidente da República, Dilma Rousseff. Mesmo que o mercado tenha comemorado o fato, com a bolsa subindo e o dólar caindo no dia do anúncio, o país pode se preparar para dias ainda mais difíceis, considerando que deve se acentuar a paralisia que havia tomado conta da economia, dos investidores e da política econômica até a conclusão deste processo, que promete ser longo. 

O fato é que, se havia se estreitado perigosamente o espaço para a política econômica realizar algum tipo de ajuste para o país sair da crise, diante da falta de legitimidade e de confiança no governo, o processo de impeachment tende a agravar ainda mais essa situação, indicando que os indicadores econômicos, já ruins, devem continuar em progressiva deterioração alimentando e reforçando o caos político, ao mesmo tempo em que é por ele afetado.

Independentemente do resultado deste processo não há como o Brasil conseguir, tão cedo, se libertar das dificuldades econômicas em que está enredado e que prenunciam um período de crise prolongada, talvez pior do que a da grande recessão de 1930-1931, com produto em queda e taxa ascendente de desemprego que devem se manter pelo menos até 2017.

Para 2016 não há muito o que fazer, ainda mais que a paralisia tomou conta do governo, da política econômica, dos investidores e também dos consumidores, os últimos se defrontando com níveis crescentes de desemprego, queda dos rendimentos salariais e alta inadimplência. Com a queda de 3,5% do PIB prevista para 2015, já começavam a surgir previsões mais otimistas de que o país deve se manter nessa trajetória no próximo ano, amargando uma contração do produto de mais de 2%, enquanto outras, mais pessimistas, como a do Goldman Sachs, já apontam para um resultado bem pior.

Com as contas públicas em frangalhos, revelando um déficit nominal que chegou, em outubro, a 9,5% do PIB no acumulado de doze meses – o maior do mundo – e sem condições de reverter o déficit primário, que deverá ser elevado em 2015, pelo segundo ano consecutivo, em torno de 1% do PIB, não há como resgatar a confiança dos agentes econômicos e nem das agências de rating de que o Estado será capaz de reequilibrar suas contas, no horizonte próximo, tornando-se confiável como agente capaz de cumprir seus compromissos financeiros.

Lado a lado com isso, a inflação que, também no acumulado de doze meses, ingressou, em novembro, na temida casa dos dois dígitos, atingindo 10,28%, mesmo que para ela se projete um recuo, em algum momento no futuro, pela força da recessão e o crescente desfalecimento da demanda, deve continuar sustentando, ainda por mais algum tempo, como já anunciado, a política equivocada do Banco Central, porque desnecessária, de dar continuidade à elevação das taxas de juros, agravando a prostração da atividade econômica.

Nessas condições, o processo de impeachment aumenta consideravelmente as incertezas que reinam na economia e deve, ainda em 2016, levar o país a perder o grau de investimento nas duas agências em que ele ainda se mantém com este status – na Moody’s e na Fitch -, o que só deve agravar este quadro problemático, com a saúde de capitais que tal fato provocaria e o encarecimento do crédito para o financiamento do balanço de pagamentos, aumentando sua vulnerabilidade externa, a qual parecia ter ficado para trás. Tanto isso é verdade, que a Moody’s já sinalizou que poderá, a qualquer momento, realizar este rebaixamento.

O fato inegável é que Dilma cometeu vários erros na condução do país desde a sua posse em 2011 e o quadro que se apresenta no momento é muito reflexo disso. Na primeira fase de seu governo, comprometeu-se com o figurino ortodoxo e implementou uma política contracionista até agosto do primeiro ano. Como o tranco revelou-se forte, ensaiou, por mais de dois anos uma política de crescimento apoiada num modelo chamado de Nova Matriz Econômica, que contemplou o consumo das famílias como motor de crescimento, mas que terminou fracassando, diante de um cenário de crise e incertezas na economia mundial, por não ter obtido respostas do investimento privado, aumentado as fricções do tripé macroeconômico diante de uma capacidade de oferta estagnada. Em 2014, por se tratar de um ano de eleições, insistiu em manter a mesma política para sair vitoriosa da disputa eleitoral, o que acabou de minar as bases do modelo da ortodoxia. Não hesitou, depois de eleita, em se render, em 2015, aos seus quadros, adotando o ajuste fiscal esquizofrênico por eles sugerido e condenando a economia ao calvário da recessão. Perdeu, com isso, também o apoio dos segmentos que constituíam sua principal base de sustentação. 

Deu no que deu. Com um Congresso resistente à aprovação do ajuste proposto, o qual vai se tornando cada vez mais uma ficção, um presidente da Câmara dos Deputados enredado em denúncias sobre corrupção e disposto a retaliar o governo, enquanto este não consegue resgatar apoios para tornar efetiva qualquer medida que mostre a porta de saída da crise, vai ficando cada vez mais difícil enxergar uma luz no fim do túnel para o país. Mas, como é mês do natal, quem sabe com um pedido sincero isso aconteça. Improvável, mas na situação atual, só nos resta rezar.

*Doutor em economia pela Unicamp, membro da Plataforma de Política Social, articulista do Brasil Debate e Folha Diária, e autor, entre outros, do livro  “Política econômica, estagnação e crise mundial: Brasil, 1980-2010”.

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