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Juros de 425%: Uma Agiotagem na Adiposidade Financeira

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04/02/2016

Como você reage ao saber que no Japão o mercado financeiro opera com juros negativos – o cliente paga para guardar o dinheiro -  enquanto  por aqui, os bancos fazem empréstimos com taxas positivas que chegam a 425 % ao ano? Os bancos brasileiros estão registrando lucros de bilhões em plena recessão. Negociando títulos da dívida pública, que  hoje  está próxima de R$ 4 trilhões, correspondendo a 66,2% do PIB, geraram para si uma “adiposidade financeira”. 

Na sua sabedoria, para facilitar a vida dos clientes, os bancos introduziram no País as bandeiras  de cartão de crédito, tendo como sócios congêneres  no exterior. Sem que se perceba, operam em duas frentes: como intermediários  de instituições financeiras internacionais, titulares dos cartões; e, internamente, como  canais de  intermediação  entre os consumidores e o comércio. A difusão do uso do cartão gerou um modelo de demanda  cada vez mais amplo e comprometedor, confundindo o consumidor, por meio de facilidades dúbias de compra  com pagamento  à prazo,  amparada em taxas de juros de 425% ao ano nos cartões e de  247% no cheque especial. Pessoas simples e desinformadas, um grande número de consumidores  não fazem sequer idéia do que seja isso.

Não é difícil entender  que a taxa de juros alta funciona como inibidora da inflação. Complicado é aceitar uma fórmula que permite chegar a juros dessa magnitude ou,  ainda, que, mesmo diante dele,  pessoas continuem a comprar à crédito. Imagino duas grandes motivações: a tentativa de agredir consciente e politicamente o sistema bancário,  premeditando-se  a disposição  de não pagar as compras financiadas pelos cartões; ou, em estado de desespero, não ter outra opção para a sobrevivência a curto prazo. De antemão já se sabe que esses tomadores não vão pagar o banco ou vão renegociar até morrerem na praia, ou seja voltar ao estado miserável da origem. Estão nesses casos 56% dos devedores dos cartões de crédito. 

Para quem não curte a macroeconomia, assusta o fato  de o Banco Central  sequer se indignar diante de taxas de juros tão variadas e absurdas praticadas, cuja sinalização parte dele mesmo, com sua taxa Selic, hoje de 14,25% ao ano, e dos recolhimentos compulsórios dos saldos bancários, remunerados, por ele, para ficarem congelados.  É um problema político ou econômico? A componente especulativa é parte de qual das duas vertentes?  Embora os cartões tenham origem nos países  capitalistas, o dinheiro  que circula é brasileiro.  A observação vem do fato de que o balanço contábil dos cartões passa pelas cotações  em dólar ou em euro, já que dessas moedas   fluiria o dinheiro para financiá-los. O Banco Central dá outra informação: 95,4% do crédito total manipulado pelos cartões são referenciados em moeda nacional, enquanto 4,6% corresponderiam àqueles em moeda estrangeira. 

Mas os juros dos cartões vêm ajustados às taxas de câmbio , acrescidas de taxas de administração, impostos diretos e indiretos, margem líquida, erros, omissões , inadimplência potencial, e mais – incompreensível - taxas de risco e de spreads bancários cada vez mais altos . A deterioração do câmbio  pesa nos cálculos dos juros internos, assim como nas taxas de administração. As surpresas não param. Surgem no meio da composição das taxas de juros as oscilações das taxas de risco e os spreads bancários, estes últimos explicados como  diferença entre a taxa de aplicação e a de captação dos bancos. No passado  o spread resumia  os riscos e essa diferença operacional.  Elas terminaram por  serem divididas em duas taxas, com o mesmo objetivo.Paga-se a mesma coisa duas ou três vezes com nomes diferentes.  Taxas de juros altas ajudam, sim, a controlar a inflação, mas engrossa o desemprego porque, ao extrair a mais valia  do trabalhador e do próprio patrão  desestimula investimentos  produtivos e a produtividade, levando `a conseqüente recessão.  
        
       Não é que o Banco Central desconheça esses estratagemas. Em alguns momentos ele parece até ser conivente, o que se depreende da subordinação à máquina da política. Nada indica também, com clareza, que com o BC autônomo as coisas seriam diferentes. É como colocar o gambá tomando conta dos ovos. Parece, entretanto, que os mecanismos usados pelo BC  para controlar os abusos  do sistema financeiro são muito fluídos: transparência e concorrência, informações prévias sobre os clientes, aumento da segurança jurídica. Politicamente, torna fácil miná-los. No Brasil, nesse momento, a justificativa para a escassez de moeda que alimentaria os juros não encontra também respaldo nem político, nem técnico  . Todo dinheiro das pedaladas foram passados aos bancos, e eles precisam livrar-se dele. Mas querem fazê-lo a taxas de juros nesse nível com, senão o respaldo, a omissão oficial. Não dá. Os bancos são donos de mais da metade do PIB. Segundo o jornalista César Fonseca, “os bancos deixaram de exercitar empréstimos para virar agiotas”. Agiotas do crédito fácil e barato do passado recente.
*Jornalista, professor. Doutor em História Cultural 

Eliezer Batista Ligou A Vale Ao Resto Do Mundo

Galgando vários postos ao longo de sua carreira, até ser nomeado presidente da mineradora coube a ele transformar..


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