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Crise e Câmbio: Impactos Diferenciados na Manufatura Brasileira em 2015

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02/03/2016

O problema do baixo crescimento da indústria de transformação remonta à década de 1980 e se aprofunda na década de 1990, com a abertura rápida e não planejada. A retomada do crescimento industrial não apresentou solução neste início de século XXI, haja vista a redução de sua taxa média de crescimento. De acordo com os dados das Contas Nacionais, de 2001 a 2005 a taxa média de crescimento da indústria de transformação foi de 3,3% ao ano (a.a.); de 2006 a 2010, o valor foi de 2,1% a.a. No atual quinquênio (2011-2014), os dados apontam para um desempenho médio anual de -0,3% [1].

Os dados das Contas Nacionais Trimestrais para o último trimestre de 2015 serão divulgados somente no início de março de 2016. A partir deles será possível perceber o tamanho do baque sofrido pela economia e, principalmente, pela manufatura, setor que é estratégico para o desenvolvimento nacional. Um dado parcial já leva a uma preocupação: até o terceiro trimestre de 2015, o acumulado do ano para a indústria de transformação foi de -9,0%.

Notícias relativamente melhores da conjuntura são as do setor externo que foram influenciadas, dentre outros, pela continuidade da crise internacional,com queda de preços de commodities, recessão doméstica, aumento dos juros internos e da taxa de câmbio. O déficit em Transações Correntes de 2015 foi de – US$ 58,9 bi, valor que é 43,5%menor do que o de 2014. Nestes mesmos anos (2014-15), o saldo comercial passou de um déficit de US$ 6,6 bi, para um superávit de US$ 17,7 bi, que pode ser explicado mais pela redução das importações (-25,3%), do que do desempenho das exportações (-15,2%) [2].

Neste quadro, cabe perguntar: quais foram os grupos industriais mais (ou menos) afetados? Uma aproximação do desempenho anual de 2015 pode ser realizada a partir da Pesquisa Mensal da Indústria – Produção Física (PIM-PF). Porém, os números não são animadores, sendo piores que os dados parciais das Contas Nacionais, assim como também não são os dados de comércio exterior.Vejamos algumas informações na tabela 1:

Tabela 1 – Taxa de variação entre 2014 e 2015 da produção física*, exportação, importação **por categorias de uso e destino (em %)

Categorias

Produção Física

Exportação

Importação

Indústria de Transformação

-9,9

-12,7

-20,4

Bens de capital

-25,5

-6,5

-22,9

Bens Intermediários

-5,2

-14,2

-18,8

Bens de Consumo

-9,4

-10,2

-20,2

Bens de Consumo Duráveis

-18,7

0,8

-30,6

Bens de Consumo Não-Duráveis***

-6,7

-11,9

-14,6


Fonte: PIM-PF/SIDRA/IBGE. AliceWeb/MDIC. Elaboração própria.
* Classificação fornecida pela PIM-PF/SIDRA/IBGE.
** Em US$ FOB correntes. Classificação fornecida pelo tradutor do MDIC, a partir de dados do AliceWeb.
*** Os dados de produção física incluem os bens de consumo semiduráveis.

Em termos gerais, é possível afirmar que todos os setores sofreram retração, exceção às exportações dos bens de consumo duráveis (0,8%). Foram as importações que tiveram a maior queda, que pode ser explicada pela depressão da demanda doméstica. Neste contexto, é possível que ocorram melhoras nos indicadores de setor externo da manufatura em 2015, como o coeficiente de penetração das importações, calculado pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). Porém, este se dará muito mais em decorrência de um efeito estatístico,do que de um dinamismo industrial, que não houve.

Com efeito, entre 2014 e 2015, na indústria de transformação houve queda de -9,9% na produção física, -12,7% nas exportações e -20,4% nas importações. O setor mais afetado foi o de Bens de Capital, justamente aquele que é o difusor de progresso técnico e tem papel central na articulação de cadeias produtivas, tendo em vista que lá estão presentes as máquinas e equipamentos, que são utilizadas por todos os demais setores. Os dados são expressivos: uma redução de -25,5% na produção física, -6,5% nas exportações e -22,9% nas importações. 

Em seguida, tem destaque os bens de consumo duráveis, onde estão presentes atividades que lideraram o crescimento nos anos 2000, alguns deles beneficiados com políticas anticíclicas, como redução de impostos. Neste grupo encontram-se setorescomo veículos automotivos (carros, motos) e linha branca (geladeira, fogão, micro-ondas, etc).Neste setor é observado o anúncio do fechamento de empresas, como aMabe, em Hortolândia/SP, dona de marcas como Continental e Dako, e que deve demitir aproximadamente 2 mil funcionários [3]. Nesta categoria também estão presentes os eletrônicos, tais como smartphones, tablets e notebooks, que modernizaram os padrões de consumo no país na década passada. Neste grupo, a redução da produção física foi de -18,7% e das importações -30,6%.

Os bens intermediários foram os menos afetados na produção física. Nele estão presentes a atividade de refino de petróleo, de elevada produção e consumo doméstico e a de celulose, que tem sido um vetor de exportação.

A taxa de câmbio pode ter contribuído para amenizar os efeitos da crise e seus impactos sobre a já combalida produção industrial doméstica. Também teve papel na manutenção das margens de lucro de setores exportadores, fortemente impactados pela queda de preços de commodities. Contudo, está longe de sozinha, ou juntamente com o ajuste fiscal, conseguir retomar o dinamismo e protagonismo da manufatura no país.

Diante desse quadro, dadas as taxas de crescimento negativas da indústria de transformação nos anos 2010, já é possível falar em uma desindustrialização em termos absolutos no Brasil? Como reverter esta perversa dinâmica? O ajuste fiscal, com elevado corte de investimentos públicos, será o melhor caminho para a retomada do desejável protagonismo da indústria?

[1] Dados das Contas Nacionais Trimestrais, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Referência 2010. O dado para o Produto Interno Bruto (PIB) foi inferior ao da indústria de transformação somente no primeiro período (2001-05), com resultados médios anuais de, respectivamente, 2,9%, 4,5% e 2,2%. O acumulado do ano até o terceiro trimestre de 2015 é de -3,2%.
[2] Dados do Balanço de Pagamentos do Banco Central do Brasil.
[3] Conforme notícia divulgada pelo Estadão. Disponível em <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,mexicana-mabe-deixa-para-tras-2-mil-empregados,10000017429>.. Acesso em 24 fev. 2016.

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