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A Economia Brasileira: Zona de Conforto e Síndrome de Avestruz

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10/03/2016

Alguns economistas continuam otimistas com o ano de 2016. Como a presidente Dilma Rousseff acham que estamos próximos de “dobrar a esquina”, deixar a crise para trás e retomar a trajetória de crescimento. Trata-se da conhecida preferência de se situar na zona de conforto, evitando aborrecimentos com visões desagradáveis, ou da síndrome de avestruz, a qual enterra a cabeça no solo ao menor sinal de confusão no ar, mesmo que mantendo desprotegido o resto do corpo.

Os órgãos de pesquisa e as instituições do mercado, que são vacinados contra essas síndromes, só têm piorado as projeções para 2016. Pelas últimas que foram divulgadas na imprensa, uma queda de 4% do produto vai se tornando consensual e há até quem aposte em um recuo de 5,9% (MB Associados) caso a presidente continue no poder. Se isso ocorrer, destronará Fernando Collor de Mello do segundo lugar como o presidente que conseguiu produzir o pior resultado econômico do país durante o período republicano (-4,35%), e só continuará perdendo para Floriano Peixoto (1891-1894), que se defrontou, no entanto, praticamente com uma guerra civil no país.

Não há nenhuma razão para duvidar de que 2016 poderá ter um desempenho ainda pior do que 2015. O último trimestre deste ano, ante o mesmo trimestre do ano anterior, revelou, de acordo com os dados recentemente divulgados pelo IBGE, uma queda de 5,9% do PIB, de 8% da indústria e de 4,4% do setor serviços, o qual vinha sustentando minimamente a atividade produtiva, com apenas a agropecuária apresentando um modesto crescimento de 0,6%, mas com participação de pouco mais de 5% na sua geração.

Pelo lado da demanda, esses resultados apresentam-se ainda mais críticos: o consumo das famílias, motor do crescimento da era Lula/Dilma caiu 6,8% neste último trimestre sempre em relação ao mesmo período do ano anterior; o consumo do governo, devido ao ajuste fiscal, 2,9%; e, os investimentos, surpreendentes 18,5%, fechando o ano com um recuo de 14,1%, depois de já terem caído 4,5%, em 2014. Se esses números ainda não são suficientes para indicar as dificuldades colocadas para 2016, considerando o efeito dominó em economia, seguem-se outras questões que devem agravar a situação.

Do ponto de vista das expectativas dos agentes econômicos, é significativo o pessimismo predominante sobre o futuro da economia. Tanto o Índice de Confiança da Indústria (ICI) como o do Consumidor (ICC) se encontram em torno de 75 pontos (num total de 200), significando elevado grau de pessimismo e pouca disposição para investir ou consumir. Não é para menos diante da situação interna reinante e do quadro externo anêmico que se desenha para o próximo ano, com as projeções de crescimento de apenas 2,4% para a economia mundial.

Do ponto de vista do consumidor, o crescente desemprego, projetado para mais de 10% no ano, acompanhado da queda real dos salários, e defrontando-se com elevados níveis de inadimplência (dívida em atraso de mais de R$ 250 bilhões) não permitem otimismo de que,do consumo,as famílias consigam extrair alguma força dessa situação para dar vida à produção e ao investimento. O mesmo acontece com o consumo do governo, que segue comprometido com o ajuste fiscal primário, sem recursos para dar sua contribuição neste sentido. Já os investimentos, que dependem também do impulso do consumo, se encontra prostrado, anêmico diante de uma política econômica que prejudica sua rentabilidade e de condições internas e externas tão desfavoráveis. Apenas as exportações, com a desvalorização cambial ocorrida pode injetar algum oxigênio à atividade produtiva, mas numa economia mundial morna e, com uma participação de apenas 13% no PIB, não parece que tenha condições de deter a forte trajetória recessiva em curso.

De outro lado, a política econômica, após a substituição do ministro Joaquim Levy, por Nelson Barbosa, de orientação mais desenvolvimentista, ainda não disse a que veio, aumentando as incertezas reinantes. Apenas anunciou a expansão de R$ 83 bilhões do crédito, que não deve ter sucesso diante do elevado nível de endividamento de consumidores e empresas; uma possível mudança na meta do superávit primário, com a introdução de um sistema de bandas; e uma reforma da previdência, restringindo a aposentadoria unicamente ao critério de uma idade mínima, o que pode gerar economia de recursos, mas apenas no futuro.Pela natureza dessas medidas, não tem agradado nem à esquerda, nem à ortodoxia.

Como se não bastasse, além de ter perdido o grau de investimento nas três agências de rating – S&P, Fitch e Moody’s - a crise política continua não dando trégua, mantendo em suspenso quaisquer ações para tirar a economia dessa situação. E, pelo que tudo indica, correndo o risco de atravessar todo o ano, não se descartando a possibilidade de impeachment da presidente e a condenação de mitos do cenário político brasileiro. É possível algum otimismo neste quadro, quando tudo indica que até mesmo os anos do imbatível Floriano Peixoto, em termos de profundidade da recessão, poderá ter seu recorde também quebrado?

*Doutor em economia pela Unicamp, membro da Plataforma de Política Social, articulista do Brasil Debate e Folha Diária, e autor, entre outros, do livro “Política econômica, estagnação e crise mundial: Brasil, 1980-2010”.

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