(Minha homenagem ao Eduardo, menino de 10 anos, que encontrou a morte na ponta de um fuzil, que deveria protegê-lo)
Esta aliteração não nos conduz a uma parada do orgulho da homofonia. Por outro lado, é uma seqüência histórica que nos traz uma realidade perversa estampada nos diários e nas ruas.
A primeira remete à infância. Os inocentes estalinhos envolvidos em pó de serra e atirados aos pés dos desavisados. O barulhinho assusta, altera a inércia dos pensamentos e atos mecânicos, mas é experimento infantil que termina em gostosas gargalhadas.
Acima da média, desenvolto e produtivo é craque.
Já foi sinônimo de exemplo, de modelo.
Todo mundo queria ser. Os pais torciam que os filhos fossem.
E ainda querem.
Em qualquer situação é uma distinção que gera recompensas e aplausos gerais.
Os craques são saudados com cracs.
Assim comemorei tantas copas e tantos gols. Celebrei pelés, airtons, hortências e zicos. Agora, com a crista sempre ao alto, podemos contemplar o nascimento de outro, o craque Neymar!
Todas as manhãs pelas ruas da nossa maravilhosa cidade quase tropeço em crianças e adolescentes que não brincam de estalinhos, nem tem olhos para seus ídolos.
Fecham nossa sequência sonora com a terrível e inexorável rota do crack.
Mais irreversível que o similar dos americanos de 1929, que corroeu o mercado financeiro e provocou o desespero de adultos e mercados.
Toda manhã vejo vidas anuladas. Vidas mal começadas. Vidas desperdiçadas. Vejo também craques em quem não se pode espelhar e que se deixam levar pelo delírio fugaz da fama e retornam ao pó sem se imortalizarem.
Crac, craque, crack.
Pode até dar samba.
Mas precisamos urgentemente de ressignificar estas palavras quebradiças que afetam o ritmo de nossas vidas urbanas.