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E Lá Chove Sempre…

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16/11/2015

Por:Nancy Araujo de Souza

    Parece que era assim. As lembranças não são muito claras, mas lembra das chuvas. As pessoas da sua geração, com certeza, se lembram também, pensa. Para os adultos era um aborrecimento. Roupa que não secava, barro nos calçados, tombos frequentes nas ruas enlameadas, cidade isolada sem estradas e a falta de luz que era um tormento. Nem rádio se ouvia por alguns dias. O futebol dos times cariocas era a distração dos homens – o famoso Fla-Flu  dividia as torcidas- enquanto as mulheres seguiam as radionovelas torcendo para um final feliz.

    Sem rádio, a cidade ficava sem assunto. Política era um terreno perigoso, podia resultar em inimizade, então o melhor era falar das chuvas que caíam sem trégua. Havia o medo de desabastecimento de gêneros, mas na cidade pequena, as famílias sempre se ajudavam Talvez o maior problema fosse a falta de lenha seca para o fogão. Os leiteiros não deixavam faltar o leite porque tinham os cavalos que transportavam os latões cheios daquele produto tão gordo que, em poucos dias era possível juntar uma boa quantidade  para ser transformada em manteiga amarelinha e saborosa.

    Para as crianças, as primeiras chuvas eram uma chatice, ainda estavam em aula e não podiam mais brincar nas ruas nas horas livres. O que fazer em  casa? Televisão se existia, ninguém jamais ouvira falar desse aparelho naquela cidadezinha. As mães inventavam brincadeiras, jogos, adivinhações, tomavam a tabuada, separavam brigas, essas coisas que as mães conseguiam fazer com criatividade, algumas chineladas, castigos e bolinhos de chuva para prender os filhos em casa. 

    As mais liberais fingiam não ver quando começava a funcionar a fábrica de barquinhos de papel. O primeiro a sair era o filho do médico, de pijama com seus barquinhos que a enxurrada levava. Isso atiçava os outros. Se o filho do médico podia, por que os outros não? Ninguém ia morrer por causa de uma chuvinha. Aí virava festa. Alguns saíam pela janela com seus barcos. Havia aqueles que se esborrachavam na lama e voltavam chorando com medo da surra. Quem ficava na janela, ela era dessa turma, torcia para ver que barco navegava mais tempo sem tombar. Tinha torcida! Gritaria infernal. Alegria geral. 

    Depois de muitos dias de chuva, semanas sem trégua, a cidade começava a se preocupar com a possibilidade de enchente. Dois rios passam pela cidade e se encontram no ponto em que as famílias, no verão menos chuvoso usavam como praia. Quando o rio começava a transbordar, era a festa para a meninada. Os adultos, preocupados, vigiavam o leito marcando com uma vara de pau grosso que ficava ali fincada e ia mudando de posição à medida as águas saíam do leito e se espalhavam pela rua. 

    As chuvas não paravam, a enchente era iminente então era hora de fazer a mudança. As casas se esvaziavam, as famílias se abrigavam com parentes e o rio acabava invadindo as casas e ruas próximas chegando até o meio do morro, quase na praça principal. Para ela também era uma farra, a família ia passar uma temporada na casa dos avós ali na praça. Fazia as malinhas das bonecas, encaixotava os brinquedos e antes que a enchente chegasse já se mudava com seus valiosos pertences.
Quando as chuvas acabavam, a vida recomeçava com a limpeza das casas e as famílias retornando àquela vida tranquila. Muito trabalho e assunto inesgotável. Muitas aventuras para contar  no início das aulas àqueles que não tinham o privilégio de morar nas ruas onde havia enchente.
Isso foi há tantos anos... 

    Nos últimos tempos, quando visita a cidade constata com tristeza que os rios secaram, a cidade nem parece a mesma. Primeiro não chove mais. Passou o último janeiro inteiro ali, sem ver cair uma gota de chuva. A terra está seca e quando chove, raramente, a água inunda as ruas, agora calçadas  e desaparece em seguida. As matas foram destruídas, viraram pasto. 

    O município é o maior produtor de leite da região. Os laticínios geram emprego e impostos ajudando a poluir os rios que recebem todo o esgoto da cidade, e secaram. Recentemente passou uma semana visitando a cidade onde a água acabou, o calor aumentou, e não conseguiu ficar mais tempo como pretendia;  voltou triste lembrando do escritor Guimarães Rosa que há muitos anos tão bem descreveu o lugar: “É um lugar bonito, entre morro e morro, com muita pedreira e muito mato, distante de qualquer parte; e lá chove sempre...” Por enquanto ainda existem as pedreiras...

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