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Meia Noite no Funchal

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23/05/2016 - por Nancy Araújo de Souza

   Se começasse dizendo que era uma linda noite de lua cheia, estaria mentindo. Era uma noite de lua crescente, mesmo assim linda. Poderia dizer que era uma noite comum de lua crescente, mas para mim, nada aqui é comum, tudo é especial e mágico. Era uma noite de sexta-feira treze. Não era uma noite para pensar em azar, gato preto ou quaisquer superstições, pois não sou dada a esse tipo de medo que atinge as pessoas mais delicadas e frágeis. Minhas fragilidades são outras.

Até por volta das 21 horas estivemos perambulando pela 42ª Feira do Livro que acontece anualmente na Madeira. Este ano foi de 13 a 22 de maio. As tendas são montadas na Avenida Arriaga, centro do Funchal, são muito visitadas e, como em toda a Ilha ali se ouvem idiomas variados, tantos são os turistas que passeiam pela “Pérola do Atlântico”.

A Feira oferece ainda espaços para entrevistas com escritores, lançamentos de livros e palcos para concertos. Creio ser necessário explicar que todo espetáculo musical  -  que nós, brasileiros  denominamos show -  aqui é  “concerto”, termo que usamos apenas para os de música erudita.

Encontramos amigos, visitamos tendas de várias editoras e livrarias e por fim, assistimos à entrevista com o escritor português vindo do continente. Saindo dali fomos degustar delícias portuguesas num café  próximo e nos dirigimos, em seguida, à Rua Santa Maria para as Tertúlias de poemas numa Galeria de Arte .Já nas proximidades, fomos recebidos pelo amigo poeta que nos informou sobre a mudança do local para o parque ali pertinho.. Foi muito melhor..Coisa de muito encantamento.

O parque onde fica o terminal do teleférico que leva ao Monte é muito bonito, todo gramado, com belas árvores e o mar bem perto.  Pode-se pi-sar na grama à vontade. Em uma mesa retangular ladeada por dois bancos foram colocados os livros que as pessoas levaram, sendo que um dos rapazes nos surpreendeu com  uma pequena mala repleta de livros que foram espalhados ali. Aos poucos chegavam mais pessoas e o grupo foi crescendo.

Antes das 22 horas começamos a rodada de leitura dos poemas. Cada pessoa escolhia um livro, encontrava o poema, citava o autor e lia, algumas um pouco tímidas, outras com mais experiência caprichavam na entonação. Havia um ator de teatro que, sem dúvida, era dos melhores na interpretação. Foi então que me apaixonei por Eugênio de Andrade.Sou assim mesmo, de me apaixonar facilmente por qualquer coisa, pessoa, lugar, poema, livro, música que me chegue ao coração. 

Já havia lido um poema do Eugênio há pouco tempo no Face, postado por alguém, e achei tão bonito que o copiei. Quando peguei o segundo livro, na 2ª rodada de leitura, era a Antologia Breve do poeta com o poema que havia me deixado encantada: “Urgentemente”. Li com toda a emoção que senti naquela hora. Alguém discorreu um pouco sobre o autor para que eu o conhecesse e  decidi que ia procurar e comprar o livro na Feira. Li outros poemas do Eugênio, fiquei apaixonada, é claro, pelo poeta morto há muitos anos.

Enquanto as pessoas liam, alguns liam seus próprios textos, eu olhava ao redor e ficava mais surpresa com aquele lugar e aquele encontro de pessoas tão sensíveis lendo poemas ao ar livre, numa noite fria, mas com tanto calor humano. Olhava o céu por entre as ramagens de uma árvore, via a lua e pensava que nunca mais teria uma oportunidade assim. À frente o mar, atrás as montanhas e as ruas iluminadas e nós, ali no parque, lendo poemas de autores de várias gerações com alguns poetas presentes apresentando seus textos inéditos. Que noite, maravilhosa!

Todos nos emocionamos quando um dos presentes recitou, de cor, um trecho enorme  de “O Operário em Construção” do Vinícius de Moraes. Foi lindo ouvir um madeirense recitar o poema do nosso conterrâneo com o seu bonito sotaque chiado.
 
Olhando a mesa cheia de livros, eu não me cansava de admirar que ali não houvesse uma garrafa de bebida. Todos sóbrios, porém embriagados de poesia. Não apareceu sequer um policial nos alertando de perigos, nenhum vendedor surgiu oferecendo seus produtos, nenhum mendigo pedindo dinheiro ou comida, nenhum assaltante ….Nenhum medo de nada!  Difícil compreender tanta paz e beleza. Total segurança. A noite acabava... Meia noite no Funchal! 

Alguém sugeriu, ao fim da Tertúlia, que fôssemos à Padaria Mariazinha  e assim fizemos. Fica na Rua Santa Maria e eu precisaria de dois meses para descrever esta rua. Localizada na região histórica, parte antiga da cidade, cada porta nos mostra uma tasca, restaurante ,café ou Galeria de Arte.Mais parece um beco do que uma rua  toda calçada de pedrinhas.

Na Mariazinha as pessoas compram  pães de diversos tipos e saem comendo. Assim fizemos e fomos para o ponto do autocarro, que demorou demais e só apareceu por volta de uma hora, quase no momento em que as ruas são lavadas. Não se espantem ao saber que as ruas são lavadas, de madrugada permanecendo limpas o dia inteiro sem lixo pelo chão. Nunca vi um varre-dor de ruas por aqui. Primeiro Mundo de fazer inveja! 

 Enquanto esperávamos o ônibus, com outras pessoas, o  movimento continuou normal àquela hora da madrugada, sem policiamento, sem mendigos ou drogados, sem pedintes, sem brigas. Jovens e idosos na maior tranquilidade pelas ruas. Meia noite no Funchal, madrugada de sábado e a vida aqui é uma maravilha, parece um sonho...

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