O título foi fiel ao tempo atual. Mas, os capixabas dessa idade e acima gostam mesmo é de falar em CST (Companhia Siderúrgica de Tubarão). Era o nome que expressava impactos muito significativos na economia e na sociedade locais naqueles idos dos anos finais da ditadura militar. Junto com Aracruz Celulose (atual Firia) e pelotizadoras dobraram o valor da produção industrial local, ou 15% do PIB do Espírito Santo. Era a fase dos Grandes Projetos, do Brasil Potência. Não tinham a mesma importância no número de empregos, mas na massa salarial também se destacavam. Aliás esse é o perfil da economia capitalistas: os empregos são garantidos pelos pequenos e médios negócios, enquanto os grandes negócios têm maior presença nos fluxos medidos em valores.
Nascida de uma associação de capitais japoneses, italianos e governo brasileiro, certamente motivada por condições favoráveis de mercado internacional de placas, aqui, confluência de matéria prima e porto, facilidades de licenciamento ambiental e, pelo lado do Governo brasileiro, duas motivações que então orientavam o maior plano de desenvolvimento executado até hoje – II PND (segundo Plano Nacional de Desenvolvimento) -: gerar divisas para atender aos serviços da dívida externa e melhorar a distribuição do Produto Interno Bruto (PIB) pelo território nacional.
Os planos dos governos estaduais (naquela época os Governos, inclusive os estaduais, tinham planos) das décadas de setenta e oitenta foram muito influenciados pela CST. Comum nessa época a elaboração de muitos estudos: mobilidade urbana, abastecimento de água, impactos nos equipamentos de saúde e educação, problemas com a violência e tantos outros inerentes ao processo de urbanização, sobretudo quando rápida como era o esperado.
Na academia, motivou muitos trabalhos de final de curso, dissertações e teses. Discutia-se nesses trabalhos, basicamente, os impactos da empresa na economia local, outros buscavam compreender a estratégia do Governo brasileiro para a siderurgia sob os aspectos do desenvolvimento regional, da expansão das empresas públicas, do cumprimento das metas de exportação ou, ainda, da produção de insumos para alavancar o processo de industrialização. Um excelente exemplo é o livro Na Mão da História: A CST na Siderurgia Mundial, da professora AngelaMorandi, editado com base em sua tese de doutoramento – pela discussão que traz e também sobre uma rica bibliografia. Discute estratégias e fala da história da siderurgia brasileira, contexto em que nasce a CST e principalmente da inovação no mercado internacional criando o mercado de placas.
Aos poucos, atualizando-se e aceitando os movimentos globais dos grande capitais o capixaba vai se acostumando ao nomeArcelorMittal, mesmo que para os mais de 40 anos de quando em vez são apanhados referindo-se a CST, mais capixaba. O Bin, que é o seu Boletim Informativo,de 30 de novembro foi dedicado a relembrar o dia 30 de novembro de 1983, ano em que o Brasil viveu uma das mais duras recessões porque já passou, mas, os capixabas estavam otimistas com o acendimento oficial do alto-forno 1, depois de acompanhar por cerca de 5 anos a evolução de uma obra que consumiu US$ 3 bilhões, era a maior e mais moderna planta siderúrgica do Brasil que caminhava para o retorno da democracia. Também assinava seu primeiro grande contrato de venda, primeiro passo para operar as 3 milhões de toneladas de sua capacidade instalada. Sua linha do tempo, no mesmo Bin, destaca os fatos marcantes, dos quais destacamos:
1983
Acendimento do Alto-forno 1 e assinatura do primeiro grande contrato
1986
Assume a administração do Terminal de Produtos siderúrgicos; Inicia a construção do cinturão verde.
1994
Já privatizada, inicia o funcionamento da Escola em parceria com o SESI que possibilito 2,7 mil pessoas completarem o ensino fundamental e médio;
1998
Entra em operação o Alto-forno 2; a segunda máquina de lingoteamento contínuo elevando a capacidade instalada para 4,5 milhões de toneladas; Inicia o plano de investimentos de US$ 700 milhões para implantar o Laminador de Tiras a Quente;
2006
Torna-se a primeira empresa produtora integrada de aço autorizada a comercializar créditos de carbono com o seu projeto “Cogeração de Energia Elétrica a Partir de Recuperação do Gás LDG”.
2007
Acendimento do Alto-forno 3 que representou investimentos da ordem US$ 1,8 bilhões, permitindo a empresa alcançar a capacidade instalada de 7,5 toneladas/ano;
2015
Lançamento de uma novo produto, o Usibor, e instalação do primeiro Centro de Pesquisas do Grupo na América do Sul.
Inicialmente uma empresa quase enclave, com poucas trocas com o setor produtivo local, destacando-se apenas na demanda de bens de consumo, via salários pagos. Aos poucos foi ampliando suas trocas e cooperando com o desenvolvimento de fornecedores locais, o que já permitiu nos seus últimos investimentos maior participação de conteúdo local, portanto, maior contribuição para o desenvolvimento estadual.
A instalação do Centro de Pesquisas em terras capixabas pode se colocar, daqui para frente, como um marco inicial de uma presença mais forte dessa empresa no desenvolvimento regional. É por isso que Folha Diária dedicará a esse fato um artigo específico. Leia também “Pesquisa e Inovação em Siderurgia: do ES para o Mundo”.