‘Democracia é um péssimo regime político’ sentenciava Churchill, ‘mas ninguém conseguiu inventar outro melhor...’. Faz parte do sistema democrático o pluripartidarismo. Está constantemente em discussão, em todos os países democráticos, o sistema partidário aí vigente, e é normal. Qual a especificidade desta discussão hoje aqui no Brasil? Vale a pena lembrar que as ‘manifestações de junho de 2012’ focaram o repúdio realmente popular, maciço, contra nossa realidade partidária. Mas nada mudou de lá pra cá, ao contrário, piorou inclusive pela decepção que foi a tal de Reforma Política empreendida pelo Congresso Nacional em 2015.
A diversidade e a oposição de interesses que permeiam a vida sociopolítica de cada nação é o insumo das lutas políticas e sociais. Mas não é só isso. Por que pessoas se associam em partidos? Porque os partidos, como outras instituições tipo religiões, permitem socializar identidades de indivíduos que, sem esta forma de expressão, criam frustrações profundas. As dimensões da ‘identificação’ é um discurso sem limites, amplo: desde o espaço familiar, passando por outros mil espaços como o religioso, o das gangues, o dos círculos de amizade, da torcida esportiva, etc., nós seres humanos criamos, recriamos, institucionalizamos e destruímos formas societárias de identificação.
A identificação nos partidos é extremamente próxima à identificação nas instituições religiosas, mesmo se há poucos séculos apareceu a vertente da separação entre religião (a mais antiga forma de fazer política) e política partidária. Note-se: é irreal afirmar que existe separação entre religião e política, pois toda religião interfere na vida política dos seus membros e, muitas vezes, nas instituições propriamente políticas.
A partir desta análise - que não é de princípios, mas de observação histórica e sociológica – construiremos esta reflexão que é ver o pluripartidarismo no Brasil de um ponto de vista ideológico, o socialismo democrático, como pensado e praticado pelo PSB.
Procurando seguir uma lógica, se é que é possível, neste primeiro ensaio escrevo sobre o panorama político das agremiações partidárias. São várias as denominações dos campos políticos/partidários: direita, centro, esquerda; conservador, progressista, revolucionário; liberal, socialista, comunista, as mais comuns. Entre estes paradigmas teóricos e a realidade existe uma promiscuidade indescritível, sempre justificada por termos como governabilidade, eficiência ou consistência eleitoral, política realista, presidencialismo de coalizão, etc., etc.
Quando a análise toma como paradigma ‘direita-centro-esquerda’, assume-se uma plasticidade horizontal na qual todas as agremiações estão na mesma linha de atuação, no mesmo nível. Neste imaginário político, as agremiações partidárias são a frente da ação política, e travam entre elas uma competição para ocupar os lugares do “poder”, o executivo, o legislativo e, de forma indireta, o judiciário. Disputa-se a preferência do eleitorado por vários meios: o melhor discurso, a melhor proposta, a melhor performance administrativa ou legislativa entre outras. As funções do marketing político, da propaganda, do poder econômico, da capacidade de convencer ou enganar compõem o arsenal desta guerra política e eleitoral.
Quando a análise toma como paradigma ‘conservador-progressista-revolucionário’, foca-se conteúdos ideológicos, cujos conteúdos assumem valores e intensidades bem diferentes e até muito peculiares dependendo do momento e dos indivíduos que utilizam este conceitos.
Enfim, dentro desta limitada proposta de análise, quando utiliza-se o paradigma ‘liberal-socialista-comunista’, além dos conteúdos ideológicos colocam-se elementos históricos de análise onde as experiências reais de capitalismo, socialismo e comunismo tornam-se referenciais muito significativos.
No Brasil o PSB parece ser o partido constituído a mais tempo sob a proposta de ser socialista, daí a pergunta: Onde se situa o PSB, considerado a partir de sua refundação em 1985? Pretendendo esta análise refletir sobre aspectos teóricos e as práticas políticas, é natural que sejam realçados aspectos contraditórios e polêmicos.
Direita, centro ou esquerda? Talvez a resposta mais próxima da realidade seja afirmar que o PSB pós 1985 foi um partido de centro-esquerda. Conservador, progressista, revolucionário? Com mais firmeza, pode-se dizer que ele foi e é progressista.
Liberal, socialista, comunista? Aqui deve-se recorrer a uma das várias subdivisões, qual seja, socialdemocrata. O PSB foi fundado basicamente como partido de esquerda, revolucionário, socialista. A realidade fez e faz com que no seu seio muitas pessoas se sintam incomodadas, insatisfeitas, não realizadas. É a questão da identidade, base desta reflexão, que cada militante político procura constantemente viver no partido. Nenhum partido, por ser uma construção coletiva, nunca conseguirá satisfazer plenamente seus filiados, mas qualquer partido pode ser o espaço político em que seus filiados procuram realizar seus ideais políticos e aí permanecem enquanto acharem que isto é possível.
Com base nestas premissas, daremos continuidade à reflexão no próximo artigo.