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Corrompa-se ou Te Devoro

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10/03/2016 - por Erlon José Paschoal

Há algumas décadas estávamos todos empenhados em construir uma sociedade democrática, contrária à ditadura militar, regime truculento e impiedoso, cuja prática repressiva principal consistia da prisão indiscriminada de possíveis opositores e da tortura.  Hoje a luta pela consolidação da democracia no país passa pelo combate à corrupção já entranhada nas estruturas do poder e tornando-se perigosamente a regra nas relações institucionais, ao invés de uma exceção esporádica.

O aparelhamento de diversas instâncias da Justiça por representantes partidários com o propósito explícito de perseguir supostos desafetos e inimigos políticos deixa boquiabertas a todas as pessoas honestas e que acreditam na democracia.  O autoritarismo e as arbitrariedades tão combatidas há algumas décadas voltam com nova roupagem assustando a todos. Mas agora em uma associação com um tipo de jornalismo torpe, especializado em calúnias, ameaças e difamações, e setores do Judiciário saudosos dos tempos de ditadura, nos quais as ordens pareciam “leis”, por mais esdrúxulas que fossem. O Brasil e o mundo assistiu recentemente a uma demonstração fascista de agressão ao Estado de Direito e à democracia impetrada por um juiz, em conluio com parte da imprensa aparentemente empenhada  em incitar o país à violência e ao caos. São momentos difíceis pelos quais o país está passando.

Neste contexto como ficam os direitos do cidadão comum? Como os poderes instituídos estão lidando com esta questão? Sobretudo com o tratamento costumeiro dado pelos policiais à população pobre? Ou talvez com a situação degradante em que vive a imensa população de pobres encarcerados em nosso país? Ou com a forma covarde e violenta com muitas vezes a polícia age em manifestações públicas legítimas e democráticas?

Num malabarismo intelectual cínico, muitas figuras notórias da sociedade brasileira, defendem colegas do alto escalão, notoriamente comprometidos com a corrupção e a desfaçatez, lembrando em tudo situações semelhantes àquelas corriqueiras durante a ditadura militar. 

Entre os inúmeros males causados pela corrupção nas três esferas de poder e no setor privado, o pior deles é a destruição sistemática da legitimidade das instituições democráticas. Num ciclo vicioso intermitente a corrupção se fortalece, pois inexistem instâncias superiores especializadas neste tipo de crime; o Judiciário protela ad infinitum as possíveis condenações, sobretudo de seus protegidos, e distribui habeas corpus a granel aos criminosos de colarinho branco e/ou de toga facilitando as negociatas e as práticas abusivas de advogados inescrupulosos; o legislativo não aprova leis que venham a dificultar a prática da corrupção porque tem grande interesse nela; a população vai se acostumando com os escândalos que geram prejuízos de bilhões aos cofres públicos; a corrupção se fortalece... e assim a roda da degradação vai girando.

É preciso sim discutir a corrupção, refletir sobre essa prática hedionda, e sobre a participação ativa ou passiva de inúmeros setores da sociedade. É um tema que deveria estar presente nas escolas e em programas de televisão. Que fenômeno é esse com o qual somos obrigados a conviver como se fosse um mal hereditário, uma doença de família? Esse é o novo ponto de mutação da cultura brasileira: ou superamos essas práticas calhordas e nos tornamos uma sociedade menos injusta ou seremos eternamente o país do futuro, repleto de crises e disparates sociais. O futuro deve ser criado agora.


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