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Dilma Renunciou: Lula É (Ainda) o Cara?

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16/03/2016

               Golpe? Quem falou em golpe?  Se aconteceu,  ocorreu de uma forma inusitada e criativa: Dilma simplesmente renunciou.  Não tem sequer como voltar. Mas renunciou com dignidade. Não entregou o Poder ao Vice-Presidente Michel Temer, como ele almejava. Devolveu-o  ao PT, ao  qual pertencia de fato. Ganhou-o graciosamente,  num estalo de dedos de Lula, ao migrar para o Partido dos Trabalhadores, abandonando o PDT de Brizola , o verdadeiro herdeiro do velho PTB de Getúlio e de Jango .

        Sabidamente também devolveu ao PT a responsabilidade pelas falcatruas  dos militantes e empresários  oportunistas,  das quais afirma nunca ter participado. Nomeado chefe do Gabinete Civil, Lula ganha foro de ministro, e escapa da justiça de Sérgio Moro. Um escárnio às reivindicações das ruas. De maneira falaciosa, o Palácio do Planalto explica que a nomeação de Lula tem o objetivo  de usar o seu carisma e capacidade negociação para recompor a base política do Governo, ao mesmo tempo em que  atrai as organizações sociais  que estão desembarcando do seu Governo.     

         O problema é que Dilma entrega a chefia do Governo  a Lula,  num momento em que ele está sendo acusado de corrupção, mas não passa o cargo de Chefe de Estado. Ela está dando uma feição nova para o Poder, a exemplo do que Putin fez na Rússia com seu vice.  Por aí não escapa, entretanto,   da conivência com tudo de ruim que vem aflorando na Operação Lavajato, e que chegou justamente ao seu novo chefe da Casa Civil. Valei-me Santo Dirceu! A questão  é de credibilidade pública que Lula parece ter perdido inteiramente.  Mas Dilma, particularmente, nada  tem mais a oferecer.         

        Cuidado! O drama não é pessoal, mas nacional. Não é a economia, nem propriamente a política. O  País foi apropriado por  corruptos, corruptores e por gente com fortes tendências psicopatas. Basta ver  a expressão e o conteúdo dos discursos de nossos dirigentes: afirmativos, falaciosos, raivosos e, ameaçadores. Numa situação dessas, em que seis milhões de pessoas vão para as ruas pedindo clara e ordeiramente  a cabeça dos dirigentes da Nação, um pouco de humildade não faria mal. Mas não, a agressividade aumenta na tentativa de intimidar: a quem? Às ruas?! Isso tem conseqüências. Ninguém está pensando nisso?!...   

       Para esse quadro, só  existe uma explicação. Essas pessoas estão, no mínimo, doentes.  Mas não é o câncer, é psicopatia mesmo. Como a Nação pode continuar a  ser governada por  pessoas com esse tipo de quadro clínico. Cairiamos no hitlerismo ou mesmo no stalinismo. Senão vejamos. Numa canetada, ao estilo Maduro, da Venezuela, Dilma cria um ministério e transforma o seu  chefe de Gabinete em ministro, com foro privilegiado também.   Depois de mandado explicar-se publicamente sobre a tentativa de suborno ao senador Delcídio Amaral, provavelmente o Mercadante não será mais quem descerá a rampa do Palácio do Planalto com Dilma. Ao expressar, mal e porcamente, sua fidelidade à Presidente, assim como  fazia, como líder do Governo,  o senador Delcídio Amaral,  ele se deu mal. Fez o papel de “menino de recado”  e,  como Delcídio, corre o risco de ficar também isolado.    

          Não se pode subestimar a manobra petista. O Supremo Tribunal Federal, com 2/3 dos ministros nomeados por Lula e Dilma, e que tem procrastinado uma série de medidas contra a corrupção, está agora também totalmente envolvido na Lavajato. Não é só o ministro  Zavaski, nomeado por Dilma.   É bom  que cada membro da Alta Corte faça uma reflexão sobre si mesmo, porque  essa forma de cavucar e distorcer a história – “Vou falar com Lewandowski” , “Falei com o ministro Tófoli”-  pode deixar alguns  currículos fragilizados.  De pessoas  que apresentam  esse tipo de  quadro clínico não se deve esperar menos. 

      Enfim, o Palácio do Planalto poderá transformar-se num novo Palácio de Buckingham, e a Dilma a Sua Majestade. O povo ficará, no máximo, atrás do espelho d’água. A menos que se coloque uma estrela do PT lá na entrada, assim como já o fizeram nos jardins do Palácio da Alvorada. A Presidência da República também poderá ter institucionalizada uma sub-séde  - como há muito tempo já o é -  no Instituto Lula. Os urubus vão se voltar para ali.  Como Chavez, o passarinho,  Lula, o passaralho, pode tudo.  O que acaba de acontecer no Brasil repetiu-se, em cada lugar à sua maneira,  na Venezuela, na Nicarágua, na Bolívia e na Argentina. É a tentativa de safar-se das responsabilidades, mas, ao mesmo tempo,   de procurar perpetuar-se no Poder, acho que já não é mais sequer  nem nome do tal Bolivarismo. É  só uma estratégia do Fórum de São Paulo. “Seria Lula ainda o cara?!”

*Jornalista, professor. Doutor em História Cultural 


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