Golpe? Quem falou em golpe? Se aconteceu, ocorreu de uma forma inusitada e criativa: Dilma simplesmente renunciou. Não tem sequer como voltar. Mas renunciou com dignidade. Não entregou o Poder ao Vice-Presidente Michel Temer, como ele almejava. Devolveu-o ao PT, ao qual pertencia de fato. Ganhou-o graciosamente, num estalo de dedos de Lula, ao migrar para o Partido dos Trabalhadores, abandonando o PDT de Brizola , o verdadeiro herdeiro do velho PTB de Getúlio e de Jango .
Sabidamente também devolveu ao PT a responsabilidade pelas falcatruas dos militantes e empresários oportunistas, das quais afirma nunca ter participado. Nomeado chefe do Gabinete Civil, Lula ganha foro de ministro, e escapa da justiça de Sérgio Moro. Um escárnio às reivindicações das ruas. De maneira falaciosa, o Palácio do Planalto explica que a nomeação de Lula tem o objetivo de usar o seu carisma e capacidade negociação para recompor a base política do Governo, ao mesmo tempo em que atrai as organizações sociais que estão desembarcando do seu Governo.
O problema é que Dilma entrega a chefia do Governo a Lula, num momento em que ele está sendo acusado de corrupção, mas não passa o cargo de Chefe de Estado. Ela está dando uma feição nova para o Poder, a exemplo do que Putin fez na Rússia com seu vice. Por aí não escapa, entretanto, da conivência com tudo de ruim que vem aflorando na Operação Lavajato, e que chegou justamente ao seu novo chefe da Casa Civil. Valei-me Santo Dirceu! A questão é de credibilidade pública que Lula parece ter perdido inteiramente. Mas Dilma, particularmente, nada tem mais a oferecer.
Cuidado! O drama não é pessoal, mas nacional. Não é a economia, nem propriamente a política. O País foi apropriado por corruptos, corruptores e por gente com fortes tendências psicopatas. Basta ver a expressão e o conteúdo dos discursos de nossos dirigentes: afirmativos, falaciosos, raivosos e, ameaçadores. Numa situação dessas, em que seis milhões de pessoas vão para as ruas pedindo clara e ordeiramente a cabeça dos dirigentes da Nação, um pouco de humildade não faria mal. Mas não, a agressividade aumenta na tentativa de intimidar: a quem? Às ruas?! Isso tem conseqüências. Ninguém está pensando nisso?!...
Para esse quadro, só existe uma explicação. Essas pessoas estão, no mínimo, doentes. Mas não é o câncer, é psicopatia mesmo. Como a Nação pode continuar a ser governada por pessoas com esse tipo de quadro clínico. Cairiamos no hitlerismo ou mesmo no stalinismo. Senão vejamos. Numa canetada, ao estilo Maduro, da Venezuela, Dilma cria um ministério e transforma o seu chefe de Gabinete em ministro, com foro privilegiado também. Depois de mandado explicar-se publicamente sobre a tentativa de suborno ao senador Delcídio Amaral, provavelmente o Mercadante não será mais quem descerá a rampa do Palácio do Planalto com Dilma. Ao expressar, mal e porcamente, sua fidelidade à Presidente, assim como fazia, como líder do Governo, o senador Delcídio Amaral, ele se deu mal. Fez o papel de “menino de recado” e, como Delcídio, corre o risco de ficar também isolado.
Não se pode subestimar a manobra petista. O Supremo Tribunal Federal, com 2/3 dos ministros nomeados por Lula e Dilma, e que tem procrastinado uma série de medidas contra a corrupção, está agora também totalmente envolvido na Lavajato. Não é só o ministro Zavaski, nomeado por Dilma. É bom que cada membro da Alta Corte faça uma reflexão sobre si mesmo, porque essa forma de cavucar e distorcer a história – “Vou falar com Lewandowski” , “Falei com o ministro Tófoli”- pode deixar alguns currículos fragilizados. De pessoas que apresentam esse tipo de quadro clínico não se deve esperar menos.
Enfim, o Palácio do Planalto poderá transformar-se num novo Palácio de Buckingham, e a Dilma a Sua Majestade. O povo ficará, no máximo, atrás do espelho d’água. A menos que se coloque uma estrela do PT lá na entrada, assim como já o fizeram nos jardins do Palácio da Alvorada. A Presidência da República também poderá ter institucionalizada uma sub-séde - como há muito tempo já o é - no Instituto Lula. Os urubus vão se voltar para ali. Como Chavez, o passarinho, Lula, o passaralho, pode tudo. O que acaba de acontecer no Brasil repetiu-se, em cada lugar à sua maneira, na Venezuela, na Nicarágua, na Bolívia e na Argentina. É a tentativa de safar-se das responsabilidades, mas, ao mesmo tempo, de procurar perpetuar-se no Poder, acho que já não é mais sequer nem nome do tal Bolivarismo. É só uma estratégia do Fórum de São Paulo. “Seria Lula ainda o cara?!”
*Jornalista, professor. Doutor em História Cultural