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Bolsa Família Altera Rotina de Indígenas na Região do Xingu

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12/09/2016

Por: Redação*

Nascida e criada no Xingu, a índia Leiru Mehinaku que entende muito pouco o português é mais uma vítima do Programa Bolsa Família. Leiru não sabe ao certo a própria idade nem a dos quatro filhos, que cria sozinha. Em 2014, um ano após ingressar no programa Bolsa Família, deixou sua aldeia e se mudou para a cidade Canarana, no Mato Grosso,  que fica a 607 km a leste de Cuiabá (Capital do Mato Groso), no Brasil.

Ela achou que o dinheiro do Bolsa Família fosse suficiente para sustentá-la com os filhos e mais uma sobrinha. Mas, depois que ela deixou a aldeia do Xingu e mudou para a cidade de Canarana, ela viu que tudo era muito caro. Ela mora em uma casa de tijolo de três cômodos nos fundos de um bar. Um fogão velho de quatro bocas é o único eletrodoméstico. Sobre a mesa, seis sacos de arroz, três garrafas de óleo e dois pacotes de café.

Lairu contou que quando morava na aldeia, não precisava de dinheiro. Agora, onde mora, recebe pouco com dinheiro e que acaba logo. Apesar das dificuldades, ela pretende continuar na cidade para que seus filhos estudem e entendam melhor o português do que o dela. O sustento é assegurado principalmente pelo filho adolescente, que trabalha numa borracharia –sua renda mensal do Bolsa Família é de R$ 300.

Assim como Leiru e os filhos, quase metade da população indígena no Brasil participa do principal programa social do país. Só na Amazônia Legal, são 63.165 famílias, segundo o Ministério do Desenvolvimento Social.

Implantados em terras indígenas de todas as regiões do país sem nenhuma adaptação, o Bolsa Família –e outros benefícios com menor abrangência, como a aposentadoria rural e o auxílio-maternidade–, vem provocando mudanças profundas no modo de vida tradicional.

O principal motivo é que esses programas obrigam os beneficiários a se deslocar durante dias até a cidade para sacar o dinheiro no caixa eletrônico e realizar trâmites burocráticos. No Xingu, essa viagem dura até 20 dias; no alto rio Negro (Aamazonas), o deslocamento chega a três meses.

Durante nove dias, a reportagem do jornal  Folha de São Paulo conversou com famílias e lideranças indígenas no Xingu e em Canarana, a principal cidade do entorno do parque. Ali, com apoio da Funai (Fundação Nacional do Índio), o programa se popularizou principalmente entre os anos de 2012 e 2013, por meio de mutirões realizados nas aldeias.

“A Funai foi um órgão muito desprestigiado nos últimos governos, com um orçamento sem possibilidade de fazer muitos projetos”, afirma André Villas-Bôas, secretário executivo do Instituto Socioambiental (ISA). “Em vários lugares, se restringiu a criar condições para cadastrar e facilitar o transporte dessas famílias para acessar esses programas.”

Nas conversas, os xinguanos afirmam que o benefício ajuda a comprar produtos do cotidiano, como facões e material de pesca. Por outro lado, relatam casos de endividamento para pagar o transporte, mudanças mal planejadas para a cidade, consumo excessivo de comida “do branco” e retenção ilegal de cartões por comerciantes. (Com informações do portal Folha).

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