Cautela nas compras de Natal. Não comprometa renda de 2016. Nossos sábios economistas estão prevendo que, com a tramitação do processo de impeachment da presidente Dilma e do próprio Eduardo Cunha, o País vai entrar no 12º trimestre de encolhimento da economia logo no início do ano. Os investidores vão desaparecer. As elevadas taxas de juros inibirão os grandes investimentos produtivos e, com a classificação do Brasil, pelas agências internacionais de avaliação de risco, próxima do indicador de mal pagador, poucos vão se interessar em fechar negócios por aqui a curto ou a médio prazo.
Não houve um apagão geral ainda, mas também não há luz no fim do túnel. Nelson Barbosa, o novo ministro da Fazenda que, como assessor, foi conivente com a contabilidade criativa de Mantega, não terá disponibilidade de caixa para pedalar. Além de o Tesouro e as empresas estatais estarem no fundo do poço, o orçamento para 2016 é deficitário, déficit que varia entre R$ 20 bilhões a R$ 500 bilhões. Ninguém sabe ao certo, porque a peça orçamentária contém várias promessas e muita ficção.
A simples troca de ministros fez o dólar chegar aos R$ 4 reais e a Bolsa fechar na sexta-feira passada(19) com queda de 2,98% ( 43.910 pontos), o menor volume de negócios desde 2009. Há uma insegurança generalizada. Consumidor e comércio estão amedrontados. As compras de Natal parecem reduzidas ao mínimo. O consumidor discute se deve comprar agora, na véspera ou depois do Natal , como se os presentes contivessem uma armadilha, fossem já uma representação do primeiro de abril. E, de fato, com uma taxa de juros beirando a 280% a.a, só os corajosos e irresponsáveis se arriscarão a fazer grandes compras financiadas. Os cartões de crédito fantasiados como facilidade passaram a ser demonizados com uma ameaça. Embora com o dinheiro escasso, todo mundo parece optar por comprar à vista. O comércio teme vender, e não receber. Mais de 30% dos 20 milhões de consumidores estão com alguma pendência no SPC ou no Serasa, por não pagamento de dívidas anteriores.
Provavelmente 2016 vai ser um ano muito duro também nas relações trabalhistas. O que será da vida de 8 milhões de pessoas, a maioria jovens,fora do mercado de trabalho, e mais de 1,5 milhão que perdeu o emprego recentemente? Não haverá emprego abundante nem salário suficiente para compensar perdas de renda familiar. As centrais sindicais ao invés de concentrar seu poder de fogo nas mobilizações contra ou a favor dos impeachments, deviam aprofundar suas preocupações na projeção de alternativas não paternalistas de trabalho. As mobilizações pouco ajudarão senão para tentar desviar as atenções sobre a crise. Com os impeachments ou sem eles, falta óleo para acender as lanternas de popa. Os últimos dias de 2015 e os primeiros de 2016 oferecem a oportunidade para uma boa reflexão e uma arrumada na vida. É preciso aproveitar enquanto os políticos estão de férias, enquanto o seu lobo não vem. Tem IPMF, taxas, tarifas e demissões mesmo previstas por aí.
*Jornalista, professor. Doutor em História Cultural