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Lollapalooza: Destilando Alegria, e Não o Ódio

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17/03/2016

        A expulsão de Aécio e Alkmim das manifestações de São Paulo e as vaias  contra Lula, Dilma e o PT  em todo o Brasil sinalizam para o surgimento de atores novos no cenário Eles já estão aí. Mas não exatamente entre os seis milhões de brasileiros, com idade média de 37 anos (Folha),  que saíram às ruas para protestar.  Sua representação mais próxima são os sessenta mil  adolescentes que  pularam, gritaram e dançaram no Festival Lollapalooza,no Rio de Janeiro, misturando o rock indie, com funk , com o samba e com a música eletrônica. É a próxima geração de governantes que o País terá. 

Eles podem  até concordar que o Governo vai mal, que a corrupção atrapalha a vida do País, mas daí a abrir mão da alegria do festival para ir destilar ódio nas ruas  é uma idéia totalmente  fora do contexto deles! Quando pulam, cantam, dançam, eles estão usando o direito da idade de desfrutar  prazeres intangíveis que a vida oferece à sua idade, enquanto não são totalmente responsabilizados  como cidadãos  compromissados com o politicamente correto. O negócio deles é se divertir. Esse é um campo onde afloram os hormônios da juventude e onde se queima a adrenalina, e não a ideologia.  Conscientemente, não permitem que roubem seus anos dourados. Recusam, portanto,  a ser coniventes seja lá com quem for. Têm consciência prévia de que o mundo deles é outro. 

Não confiam nas gerações médias e mais velhas no Brasil e muito menos nos políticos que, segundo Olavo de Carvalho,  estão intoxicadas  por duas vertentes  ideológicas: o patrimonialismo,  apropriação privada de valores tangíveis e até do Poder do Estado; e o gramscicismo, o controle  do imaginário popular, da cultura, na tentativa de dar a um partido “o poder onipresente, invisível e imperativo de um mandamento divino”. Os gramscinianos falam como supostos  profetas  do   domínio irreversível dos corações e mentes por meio da educação, devidamente aparelhada,  para estabelecer uma hegemonia política.  Batem, entretanto, de frente com os valores do pós-guerra:  as liberdades civis, autonomia existencial, a voz as minorias, direitos ambientais, os espaços amplos da democracia e a livre circulação das  idéias.Patrimonialistas e gramiscinianos  tentam, a seu modo, restabelecer velhas ordens.      

        São, entretanto,  muito lentos e inseguros para  o ritmo do mundo da pós-modernidade. Terminaram assim por diluir o pensamento marxista-leninista, fazendo aflorar a chamada “nova esquerda” que, por sua vez, é, sobretudo, indisciplinada na ação e na ideologia .   De qualquer maneira, nem a nova esquerda sobreviverá aos valores e práticas das  gerações que estão vindo aí (Scruton) que amam a paz, a música e,sobretudo, as novas tecnologias. Abortadas na sociedade da informação,  as  gerações X, Y,Z  se globalizaram e se  conectaram num mundo virtual. Tudo muito diferente do patrimonialismo e  do gramscicianismo.  Os mais aplaudidos nos shows do Lollapalooza não foram Chitãozinho e Chororó, Caetano  e Gil, mas as grandes bandas americanas, canadenses, alemãs, inglesas e até australianas. Não havia samba, nem forró, mas rock da pesada, e inclusive música eletrônica.  
 
         O digital e o virtual vem tomando conta do mundo e das novas gerações. Elas não têm inimigos explícitos, como os partidos,velhas ideologias e até nações. São consumidores das tecnologias, admiradores e parceiros da inteligência artificial. Há céticos quanto a tese de que os computadores e robôs superarão o homem. Não é o que diz, entretanto, o campeão mundial, Le Se dol, de Alpha-Go  - jogo de tabuleiro que introduz complexidades pouco comuns – depois de duas partidas disputadas recentemente  com um computador: ” Em nenhum momento eu senti que estava na liderança.. Foi uma derrota muito clara...”.No início deste século, Kasparov havia perdido, no xadrez, para um computador  primário.

            É perda de tempo, e até ridículo, as velhas ideologias buscar apoio  nos adolescentes. Eles conhecem todas as alternativas dos vilões, aprendidas nos jogos eletrônicos. Lidam com transgressores muito mais espertos que os atuais políticos. Para eles, as gerações médias e velhas logo se tornarão invisíveis.  O número de internautas brasileiros chega a quase 100 milhões, mais da metade são crianças e adolescentes.   Envelhecida as gerações X,Y,Z poderão no futuro ir para as ruas em defesa dos seus interesses? Poderão. Suas ruas são, contudo, avenidas virtuais, que não requerem presença física. As novas gerações (X,Y, Z) conectadas tomarão conta do Planeta. 

              Assim, a onda do politicamente correto, que Marcuse chamou de “a tolerância repressiva”,  não consegue mais tolher a liberdade de pensamento. O seu efeito silenciador acabou.  Falta aparecer alguém capaz de capitalizar as convergência  e as divergências entre internautas e transformar isso numa política pública capaz de  entender  os novos valores e encontrar fórmulas de como colocá-los em prática.  A política tradicional vai entrar no corredor do politicamente incorreto e os políticos vão ser enterrados juntos. Precisamos já de um governo eletrônico, paralelo ou não.

*Jornalista, professor. Doutor em História Cultural

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