Por: Bárbara J. P. Borges, A. Alberto R. Fernandes
A pesquisa científica no Brasil e no mundo é responsável por gerar novos conhecimentos ao responder, discutir e refutar as questões elaboradas pelos cientistas. Em última e sublime instância, pode-se dizer que a prática da ciência (e os seus praticantes) anseia(m) pelas melhores soluções para os mais diversos problemas e dos seres da sociedade; resultados estes que, em regra, exigem anos de muita dedicação e esforço do/a cientista.
O/a pesquisador/a não possui só o desafio de realizar sua pesquisa, de executar seus projetos. Precisa também publicar, publicar e publicar. Em inglês tem a máxima: "Publish or Perish". E, ainda, angariar fundos para sua pesquisa – o que, em geral, recebe na proporção direta da extensão e do volume de sua “produção” (produção de qualidade? – fica a dúvida...). Outra pergunta relevante é: Qual profissional do setor público, seja no poder executivo, legislativo ou judiciário,é responsável por estruturar o seu ambiente de trabalho, com a necessidade de concorrer em editais para comprar o seu computador ou obter bolsas de estudos para seus assessores? Vamos parar os exemplos por aqui!
Este cenário fez surgir um verdadeiro mercado “paralelo” à ciência – a reunião de alguns veículos de divulgação científica, os quais se denominam revistas predatórias, envolve critérios de avaliação duvidosos e obscuros. Nesse passo, o nicho vem crescendo e ampliando a prestação de serviços, na maioria das vezes, obrigatórios e vinculados à publicação, como a revisão de idioma (a maioria das publicações científicas são realizadas em inglês), análise de plágio e adequação de formatação, dentre outros. Alguns órgãos e instituições não oficiais vêm divulgando listas de supostas revistas e publicações caracterizadas por estas condições, isto é, relação de revistas consideradas predatórias. Porém, é preciso cautela. Na grande maioria dos casos para publicar nestes veículos o pesquisador tem que pagar uma quantia razoável e em geral esse recurso vem do seu próprio salário.
Diz-se isso porque a carreira não coincide, necessariamente, com o currículo; currículo, este, pelo qual se avalia o/a cientista, e também por meio do qual ele/a é conhecido, selecionado/convidado (para palestras, composição de bancas examinatórias, etc), premiado, divulgado e reproduzido como detentor de boa ou má “fama”. Afinal um dos principais, senão o mais importante, veículos de divulgação do trabalho desenvolvido nas instituições de ciência e tecnologia é a publicação em jornais e revistas científicas. E, são as inúmeras (e, criteriosas?) publicações que constam do currículo, o que torna ainda mais relevante a discussão sobre a influência de tais revistas no ambiente acadêmico, sendo crescente a preocupação com a qualidade dessa produção.
Assim, de um lado, tem-se tão belo prospecto acerca do ideal de ciência, de outro, passa-se pela árida realidade de uma construção curricular limitada, de uma formação profissional deficitária de estudantes (ou pesquisadores/as?)na pós-graduação, de incontáveis dificuldades infraestruturais e organizacionais que acabam por fomentar, indiretamente, o mercado de publicações predatórias para divulgação da ciência e do conhecimento. Há grande preocupação com a propagação de informações e dados de modo descompromissado e irresponsável.
E, este quadro não é pintado apenas em verde e amarelo. Em certa medida, os/as pesquisadores/as efetivamente enfrentam, em todo o mundo, este obstáculo à constituição de uma carreira consistente e robusta. Ao/à cientista comprometido/a com a ética e propagação séria da ciência, é necessário criterioso julgamento e análise detida para eleição do veículo no qual será divulgada sua (quase sempre) árdua pesquisa, para que, na ânsia de “cultuar o currículo”, não acabe por prejudicar sua carreira e a própria elaboração dos novos conhecimentos.
Para terminar, muitas pessoas estão se aproveitando para o enriquecimento fácil usando do que é mais caro para a humanidade: seu conhecimento.