Finalmente, o filme que já era esperado desde o final dos anos setenta e o início dos oitenta – isso, no século passado, bem entendido, está a ser exibido: “O Despertar da Força”, abrindo a última – até o momento – trilogia da série Guerra nas Estrelas.
O primeiro filme já veio mostrando a inacreditável genialidade de George Lucas, um aluno dedicado de Francis Ford Coppola, que começou sua fama atuando no lugar do mestre no clássico “ApocalypseNow”, enquanto ele se recuperava da saúde. Ele já era aclamado com a ficção científica “THX 1138”, um filme nada óbvio e hoje conhecido somente pelo sistema sonoro THX criado pelo diretor.
Na época da idealização, com o lançamento do personagem com seu mesmo nome, Luke, os estúdios lhe fecharam as portas. Ele já tinha outro sucesso de público e crítica: “American Graffiti”, uma obra prima de encher os olhos e os ouvidos, com uma excelente coletânea musical, apresentando o bom rock dos anos cinquenta.
Precisou da intervenção do “padrinho” Coppola para garantir que o filme seria bom. Foi difícil, pois o orçamento seria “estelar”, mas isso foi logo demonstrado ser um engano. George Lucas já tinha mostrado sua habilidade de fazer o bom e barato em “ApocalypseNow”. Guerra nas Estrelas custou menos de dois milhões de dólares e se tornou um dos filmes mais assistidos de todos os tempos.
Para isso, a criatividade foi intensa. Formou-se um time de engenheiros para detalhar cenas em maquetes, e, assim, surgiu a Industrial Light and Magic. Precisou de animadores para criar uma cena de tabuleiro, e daí nasceu a Pixar, que passou mais tarde a Steve Jobs e, depois, para o grupo Disney. A Industrial Light and Magic não só revolucionou o cinema, mas, também, a fotografia holográfica, passando a ser aplicada em diversas áreas científicas, como, por exemplo, a medicina. Ele também inovou no marketing, franqueando as vendas de miniaturas da nave Millenium Falcon, da Estrela da Morte e das demais naves do filme, todas catalogadas e com dados pseudo-técnicos para a apreciação dos nerds.
Mas, o mais ousado de tudo foi ele ter iniciado pelo episódio número 4! E, ainda, anunciou que seriam nove episódios. Vieram o cinco e o seis, e, depois de dezesseis anos, lança o episódio 1. Os demais vieram em seguida, decepcionando um pouco os fãs, pois ocorreram visíveis falhas de continuidade ao se mostrar o passado antes do futuro, e pelo fato das armas e naves serem visivelmente mais avançadas do que as da prematura sequência. Decepcionou, mas o pessoal foi, assistiu e, com demonstrações de tristeza ou alegria, revelou a ansiedade pelo episódio 7. Exatamente esse que está a ser lançado em breve.
O que tem qualidade sabe evoluir para melhorar, e, nisso, toda a legião de fãs crê. Com os episódios 1 a 3, George Lucas mostrou que ele criou algo gigantesco que, sozinho, não poderia mais administrar. As histórias ficaram complexas e os efeitos especiais eram convincentes, mas com poder de cansar as pessoas, de tão intensos que ficaram. Precisavam de uma equipe de peso.
Aí, entrou quem sabe trabalhar. O grupo Disney sabe fazer escola há mais tempo que Lucas – ele também fez escola, podemos afirmar – e, envolvendo várias companhias cinematográficas, parques e navios temáticos e até uma universidade de renome, todas tocadas sob um fantástico alinhamento administrativo, eles puderam oferecer a George Lucas o que ele precisava: uma equipe capaz, um diretor à sua altura e todo apoio necessário para que ele se concentrasse no roteiro, juntamente com seu parceiro de longa data Lawrence Kasdan e o novo diretor do filme, J. J. Abrams, hoje um celebrado cineasta à frente de muitos sucessos do cinema e da televisão, indo de Lost a “Super 8”, de “Missão Impossível III” a “Star Trek”. Melhor escolha não há!
Então, façamos previsões. Talvez se erre nesse exercício, mas a chance de insucesso é pequena.
A primeira previsão é que a escola continua. George Lucas influenciou o próprio Abrams, a Disney, Peter Jackson (“O Senhor dos Anéis”) e é amigo de Spielberg – um colabora com o outro, constantemente. Disney, um gigante do entretenimento que teve a humildade de aprender e se curvar diante dos novatos, é outra escola de excelência. Adquiriu a LucasFilms, a Pixar e a Marvel – todas companhias interligadas ao Star Wars de alguma forma – a Marvel colocou episódios das aventuras de Luke Skywalker nos seus quadrinhos. É claro que continua a fazer escola. J. J. Abrams é um jovem mestre que se deixou influenciar pelo que é bom no cinema e, se não fez ainda escola, é porque não se teve tempo para assumir seu estilo sem se ser óbvio demais.
A segunda previsão é que o filme, mesmo se for ruim – o que parece improvável – será um sucesso estrondoso. As novas gerações, que nunca souberam o que significa ser um Jedi, o que é a Força nem o que é Tatooine, irá assistir por curiosidade, após consultar umas das mais de 400 milhões de referências sobre a saga no Google. Os mais velhos vão animados, loucos para ver o que vai acontecer depois da morte do Imperador Palpatine
Rever Harrison Ford no papel de Han Solo, que lhe deu sua primeira consagração e assistir Carrie Fisher, atriz de família tradicional no cinema e também consagrada na pele da Princesa Leia, deve dar hoje a mesma emoção que os cinéfilos da época do lançamento tiveram ao verem Sir Alec Guiness e Peter Cushing, ambos monstros esquecidos. Quiçá, veremos rostos novos e pouco famosos como o próprio Harrison Ford além de James Earl Jones, na época, partirem para carreiras exitosas.
Francis Ford Coppola pode continuar orgulhoso com sua cria: Lucas foi seu aluno, literalmente – e colega de faculdade de Spielberg – e, hoje, não podemos dizer que o aluno superou o mestre, mas que vendeu mais que ele, nem discutimos.
Só um detalhe a mais: classificar Star Wars como ficção científica é uma aberração. Não é. Alguém apelidou de “bangue-bangue espacial”. Mais adequado. Um gênero diferente, com citações sobre astrofísica misturadas com conceitos do bushidomais dramalhão de novela mexicana deu, no somar de tudo, maravilhosamente certo. Ficção científica é “THX 1138”, é “2001 – Uma Odisseia no Espaço” e os filmes tirados dos contos loucos de Philip K. Dick. As maravilhas de Guerra nas Estrelas estão longe disso.
Bom, agora, paciência. Já vou para a fila da bilheteria.