Muitas pessoas concordam que assistir a um filme junto é um dos melhores programas familiares de lazer. Permite um momento de contemplação a cada pessoa e, melhor ainda, arranja-se assunto para se trocar ideias, alongando-se aquele momento delicioso de ócio fútil mas cultural. Uma entendida no assunto já comentou que, para se alongar o prazer do cinema, todos devem fazer um lanche juntos. Incontestável!
E, hoje, temos motivos para isso. Portanto, junte a família, compre ingressos, pipoca e refrigerante e dedique-se estar juntos para assistir “O Bom Dinossauro”. Sobre pipoca, acrescento que a melhor que comi nos cinemas da Grande Vitória é a dos cines do Boulevard Shopping.
Falo de mais um filme da Disney-Pixar, dessa vez sob a regência de Peter Sohn, um animador e dublador experiente, diretor do curta animado “Parcialmente Nublado”, em que ele foi também o roteirista.
Conforme a crítica “É Infantil de Fato?”, no Folha Diária, esse é mais um filme infantil em que idades diferentes captam percepções diferentes. Existem cenas que as crianças se assustam um pouco e os adultos acham graça. Em outras passagens, enquanto os pequenos riem, alguns adultos (inclusive esse que vos escreve) ficaram apavorados. No final, todos saem satisfeitos. Algumas mulheres, com lágrimas nos olhos mas, todos, ficaram elevados diante uma boa história com excelentes imagens.
A dublagem em português não ficou com nenhuma estrela conhecida, mas podemos apreciar as vozes experientes de Hermes Baroli e Marli Bortoletto, uma das vozes da Mônica. Mas, a original teve atores de reconhecimento mundial, como Jeffrey Wright, que protagonizou o agente Felix Leiter nos filmes de 007 com Daniel Craig e como Beetee em Jogos Vorazes. Foi o ator principal do filme biográfico Basquiat.
Outra voz famosa foi a de Frances McDormand, que protagonizou o excelente “Queime Depois de Ler”, do marido Joel Coen e vencedora do Oscar por Fargo, também do marido, que costuma trabalhar com o irmão Ethan. E tem ainda o comediante Steve Zahn, que podemos nos deliciar em vê-lo na boa comédia “Segurança Nacional”, de Dennis Dugan, com o esforçado Martin Lawrence. Tem ainda a também premiada Anna Paquin, vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante no filme “O Piano”, dirigido por Jane Campion, e, finalmente, como não podia deixar de ser nos filmes da Pixar, John Ratzenberger.
A história em si, mesmo bem conduzida, dentro do roteiro do próprio diretor, com passagens tocantes e poéticas, outras tensas e algumas realmente engraçadas, não é exatamente muito original. A criatura pré-histórica que passa a proteger uma criatura humana já foi tema de “A Era do Gelo”, de Steve Martino, outro filme familiar imperdível. Porém, houve tantos detalhes de diferenciação que, à primeira vista, dá-se a impressão de serem contos diferentes. Não é bem assim! Por outro lado, as paisagens de tirar o fôlego e o aproveitamento dessas em cada detalhe no contexto da história se tornam um ponto forte nesse filme.
Quando os dinossauros passaram a ser cientificamente estudados mais a fundo, a partir de 1842, a literatura, e, mais tarde, o cinema, passou a imaginar a interação entre essas criaturas e o homem. Nessa época, a teoria da evolução, e isso envolve a evolução humana, estava sendo discutida e defendida sua validade ou não — discussão essa que ainda persiste em vários lugares — e imaginar a convivência entre homens e dinossauros se tornou mais um tema na literatura de ficção. Daí, podemos extrair alguns clássicos. Comecemos com uma história em quadrinhos hoje esquecida: Brucutu, de Vincent Hamlin. O personagem principal possuía um braquiossauro que lhe servia de transporte e ele virou até tema de música cantada por Roberto Carlos!
O máximo dos máximos veio em forma de desenho animado: “Os Flintstones”, da dupla Willian Hanna e Joseph Barbera. Foi um desenho animado primeiramente direcionado ao público adulto, antes de passar a ser voltado às famílias. Nessa série, há uma verdadeira salada de animais de todas as épocas, usados pelos homens para conseguirem o mesmo conforto que temos nesses anos tecnológicos de agora. Assim, eles ouvem músicas em discos, possuem trituradores de alimentos e regam as plantas usando os animais existentes ao longo da história da Terra e alguns das cabeças dos argumentistas.
No cinema, o final dos anos sessenta recebeu um presente: “Mil Séculos Antes de Cristo”. Um daqueles filmes ruins, mas que valem a pena assistir. Pelo menos, o roteiro é interessante. Há duas menções honrosas a se registrar: o desempenho de Raquel Welch, com direito a um senhor visual dessa belíssima atriz, e os efeitos especiais do mestre Ray Harryhausen, uma referência a todos os profissionais de efeitos especiais.
A cereja do bolo veio com “Jurassic Park: Parque dos Dinossauros”, de Steven Spielberg, com grande colaboração de George Lucas. Outra referência que já gerou mais três filmes, jogos, camisetas e etcétera. Principalmente etcétera. Esse filme é inspirado no sucesso literário de Michael Crichton, um escritor famoso por ter suas obras convertidas em filmes para o cinema e para a televisão. Esse livro não foi o primeiro a abordar o tema. Jules Verne já aventara a possibilidade de se encontrar monstros pré-históricos em “Viagem ao Centro da Terra” e Arthur Conan Doyle escreveu “O Mundo Perdido”, em que se encontram essas criaturas na região fronteiriça entre a Venezuela e o Brasil. Não confundir com a sequência de Jurassic Park!
O sonho de convivência, pacífica ou não, entre humanos e dinossauros é isso: apenas um sonho de escritores, argumentistas e roteiristas. Quando, numa pesquisa sobre o espalhamento de cristais de irídio na Europa, descobriram a queda de um imenso meteoro na região do México numa época que coincidia com a data da extinção desses animais, concluiu-se que a sua morte em escala global foi por motivos astronômicos. Não teria sido a primeira vez que elementos de fora afetaram o nosso planeta. Houve, inclusive, acidentes maiores como o que ocasionou a extinção que causou o fim da era geológica denominada Permiano, com a destruição de 19 entre cada 20 vidas na Terra.
O filme “O Bom Dinossauro” não ofende a inteligência de ninguém, pois começa mostrando uma realidade alternativa do meteoro ter errado o alvo. Um erro aceitável no filme foi a densidade de astros no Cinturão de Kuiper ser muito grande, mas, sendo didático, é um erro plenamente aceitável.
Resta, então, assistir ao filme. Prepare-se para toda a sorte de emoções que puder imaginar.