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O Memorial Da Memória Não Preservada

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23/12/2023

 Por: Paulo César Dutra -06.12.2023
Foto: Comissão da Verdade

No dia 6 de dezembro de 2023, participei da caravana comandada pelo ex-preso político Perly Cipriano, com destino ao município de Campos dos Goytacazes, no Estado do Rio de Janeiro, no Brasil. Com a viagem atrasada em mais de uma hora, por causa das manifestações nas rodovias federais (as rodovias BR-101com destino ao RJ e BR-262 com destino a BH), nossa saída da frente do Triplex do Perly, na Praça Costa Pereira, em Vitória, Capital do Espírito Santo, no Brasil, que não estava na programação, era que o ônibus estava marcado para sair às 6 horas. Mas só por volta das 7h30m, conseguimos viajar em direção a Campos. Não me lembro exatamente a hora que chegamos na Usina de Combahyba, mas já era mais de 12 horas e fomos para o assentamento dos Sem Terras, nas proximidades da Usina Combahyba, em Campos, onde ocorreria o evento.
 
"As cinzas que nós testemunhamos aqui vão alimentar as lutas que teremos pela frente". Esta frase, foi de um dos manifestantes, que resumiu o sentimento de centenas de pessoas presentes ao tombamento da "Usina da Morte", onde foram incinerados 12 corpos de vítimas da ditadura, transformada em "Casa da Vida" no dia 6 de dezembro de 2023, em Campos dos Goytacazes, Estado do Rio de Janeiro, em área ocupada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST).

Lá almoçamos e depois participamos das manifestações que marcaram os 60 anos do golpe de 1964, que foram iniciadas com a criação do Memorial Combahyba na cidade de Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro. Conhecido como Usina da Morte, o local era uma antiga usina de cana de açúcar que foi usada para incinerar vítimas da ditadura militar. Investigações mostram que os fornos da Usina Combahyba foram usados para incinerar corpos de pelo menos 12 presos políticos durante a ditadura.
 
A usina pertencia na época, ao industrial Heli Ribeiro Gomes, político fluminense eleito deputado federal em 1958. Hoje o registro do local está em nome da empresa AVM Construções. 
           
As manifestações

A antiga usina de cana-de-açúcar em Campo de Goytacazes, no Rio de Janeiro, a Combahyba, usada pela Ditadura Militar (1964-1985) para incinerar corpos de opositores torturados e mortos em seus porões, se tornou a partir do dia 6 de dezembro de 2023, um memorial aos assassinados e desaparecidos pelo regime. No evento a antiga usina foi tombada como patrimônio histórico, cujo entorno foi destinado aos clientes da reforma agrária convertido em assentamento do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). 

A instalação do memorial contaria com as presenças do ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida, também do presidente de honra do MST, João Pedro Stédile, além do escritor Leonardo Boff, demais movimentos sociais, caravanas, partidos políticos e familiares de mortos e desaparecidos.
 
A tão esperada presença do ministro da Justiça Flávio Dino, não aconteceu também. Perly Cipriano com uma caravana do Estado do Espírito Santo deu o seu recado. Conforme foi revelado no evento, o trabalho do escritor acabou sendo vital para a descoberta da usina como destino de corpos de opositores mortos pelos militares e sua polícia política, entre 1964 e 1985.
 
Em 2009, como subsecretário de Direitos Humanos na segunda gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP), ele fez os primeiros contatos com o ex-delegado Cláudio Guerra, do Dops no Rio de Janeiro, e com os jornalistas Rogério Medeiros e Marcello Neto, que ouviram do ex-delegado a confissão sobre a incineração dos corpos nos fornos da usina, operação conduzida por ele a mando das forças repressoras. Marcelo Neto esteve no evento, do dia 6 de dezembro de 2023, mas não se manifestou, preferiu ouvir apenas as manifestações. Rogério Medeiros, por sua vez, por determinações médicas, não teve condições de participar do evento. Porém, Medeiros, que é dono do jornal eletrônico Século Diário, no Espírito Santo, enviou ao evento o filho dele, o fotógrafo Apoena Medeiros e o jornalista Roberto Junquilho, para as devidas coberturas do evento.

A história é contada no livro Memórias de uma Guerra Suja, de autoria dos dois jornalistas Rogério e Marcelo, onde se revela, além da incineração dos corpos na usina, o atentado a bomba no Riocentro, o acidente que matou a estilista Zuzu Angel, e as mortes do delegado Sérgio Paranhos Fleury e do jornalista Alexandre Baumgarten.
 
O ato que marcou a criação do memorial contou com a presença do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania (MDHC) por meio do chefe da Assessoria Especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade, Nilmário Miranda, que falou na manifestação, (mas esquivou-se dos jornalistas, entre eles eu (Paulo César Dutra); e do coordenador-geral de Memória e Verdade e Apoio à Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos, Hamilton Pereira, além de organizações da sociedade civil, movimentos estudantis, e de familiares das vítimas que morreram, desapareceram ou foram presas no período da ditadura.

Corpos incinerados 
O corpo do jornalista potiguar Luiz Ignácio Maranhão Filho foi um dos incinerados na usina. Além dele, outros 11 corpos tiveram o mesmo destino, como o do pernambucano Fernando Santa Cruz e o do cearense David Capistrano da Costa.
 
A conclusão foi apresentada pelo Ministério Público Federal (MPF) em agosto de 2019 após uma investigação que durou oito anos. Os procuradores buscavam a confirmação de que as usinas eram usadas pelos militares para incinerar e, dessa forma, desaparecer com os corpos de opositores da ditadura.

O depoimento mais importante foi do ex-delegado do Dops, Cláudio Guerra, também dado à Comissão Nacional da Verdade. As informações prestadas por Guerra foram confirmadas por outras testemunhas. 

Ele disse ainda os nomes dos militantes comunistas assassinados após intensas sessões de tortura na Casa da Morte, em Petrópolis, e confirmou que depois de mortos, os corpos eram levados em uma camionete para a usina.

Os 12 militantes que o ex-delegado listou são: Ana Rosa Kucinski, Armando Teixeira Fructuoso, David Capistrano da Costa, Eduardo Collier, Fernando Santa Cruz, Joaquim Pires Cerveira, João Batista Rita, João Massena Melo, José Roman, Luiz Ignácio Maranhão Filho, Thomaz Antonio Silva Meirelles Netto e Wilson Silva.

Em março de 2019, os fornos utilizados pelos militares, e investigados pelo MPF, foram totalmente destruídos em uma ação criminosa, cujos autores não foram revelados até hoje. Professores da Universidade Federal Fluminense (UFF) constataram o fato porque desde 2014 passaram a levar os estudantes ao local para estudos e deles partiu a denúncia ao próprio MPF.


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