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O Fantástico Governo do Coronel Xandoca

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04/03/2023

Por Nilo Tardin
 
Coronel Alexandre Calmon, o Xandoca (destaque) liderou rebelião armada de Colatina em 1916.  Os 33 dias sangrentos que mancharam o ES

Era autêntico o cenário de filme de faroeste que imperava em Colatina no ano de  1916.  De 26 de maio a 29 junho daquele tempo explodiu a guerra civil capixaba, declarada pelo coronelato local, enfurecido com o resultado da eleição ao governo do Espírito Santo.

Com direito a trilha sonora de Django, tal qual a que ribombava na tela cinemascope do Cine Idelmar, as ruas lamacentas viviam infestadas de pistoleiros e jagunços. Imaginou a cena de cinema?  O sonolento sino da estação badalava apenas a cada passagem da fumegante locomotiva a vapor.

A Maria Fumaça era única expectativa segura de sair do olho do furacão.

Se o maestro Ennio Morricone soubesse do caso conhecido nacionalmente como a Revolta de Xandoca,  daria jeito de criar a trilha sonora para o  bangue-bangue colatinense.  Uuuuhuuu Uuuhu -uah-uah-uah.

Depois de muito tempo, coube ao maestro colatinense Walfredo Rubim expressar no Hino de Colatina, a bravura dos revolucionários ao desafiar o ‘governo autoritário e fraudulento’: Esteja Sempre Vigilante.

A briga de armas em punho foi chefiada pelo professor Alexandre Calmon, o Xandoca (terceiro da dir para esq) amparado pelos ‘poderosíssimos’ coronéis Serafim Tibúrcio e Martinho Barbosa, recorda o jornalista Namy Chequer. 
 
A Revolta de Xandoca foi detalhada por Namy na dissertação de mestrado em história da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em 2007. “A disputa eleitoral provocou a posse dois governos e duas assembléias legislativas. Bernardino Monteiro ficou em Vitória. Pinheiro Júnior marchou para Colatina tendo a frente o vice Xandoca”, revelou Namy.

Os jornais de oposição ficaram proibidos de circular no decorrer do conflito. O Paiz, jornal do Rio de Janeiro de tiragem nacional rotulou a resistência de ‘ridícula’ ao ironizar as barricadas na Villa de Colatina.  Daí em diante foi tiro e porrada prá todo lado em vários pontos do Estado. A fachada do Palácio Anchieta  ficou crivada de balas. 

Em fins de maio Pinheiro passou o cargo de intendente a Xandoca.  No mesmo dia embarcou para o Rio onde atuava como médico em Teresópolis. Na capital federal, no fervor da turbulência Pinheiro disse aos congressistas com ‘inconsistente tranquilidade’ conforme noticiou O Paiz que recrutava um exército de 450 homens uniformizados no centro do vilarejo cortado de ponta a ponta pela linha de ferro.  
 
Semanas antes de aclamar Colatina como capital do Espírito Santo, o tempo fechou. Devido ao tumulto, a pequena guarnição da vila  ia ser removida de trem. 

Um tiroteio encabeçado pelo filho de Xandoca, Harryford Calmon culminou na morte de um soldado, outro praça saiu ferido gravemente e o tenente José Barreto baleado na perna.

Os pistoleiros invadiram o vagão. Atacaram os militares, além de impedir o socorro médico na Estação de Collatina. A fuzilaria contra os policiais foi represália a três tiros disparados em direção ao coronel Calmon, sem atingí-lo. A tocaia foi atribuída aos militares.
 
No mesmo dia o doutor Albuquerque – do atendimento da Estrada de Ferro Vitória Diamantina deixou a cidade. Saiu levando a família com a roupa do corpo. Em Baixo Guandu, mais de 40 bandoleiros liderados por Martinho Barbosa  teriam matado o coronel Chico Rosa, 80 anos e cinco dos seis integrantes da comitiva, entre eles o neto Carlos de 13 anos.

O sobrevivente major Álvaro Milagres foi feito prisioneiro e levado para Colatina. Pinheiro Júnior comentou no Jornal O Imparcial (RJ) que o ‘’velho aleijado por balaços Francisco Rosa engrossava fileiras para atacar Colatina.  
 
A Justiça Federal do Espírito Santo anotou em parte na memória institucional o assalto de 250 jagunços saídos de Colatina ao município de Afonso Cláudio.

No ataque em campo aberto na tarde de 25 de junho de 1916, os capangas chefiados pelos coronéis Tibúrcio e Martinho foram alvos fáceis da tropa da polícia militar. 

A intenção desses chefões era matar o deputado José Cupertino Figueira Leite e o chefe da guarnição.  Sob fogo cerrado, o saldo oficial de baixas foi de 22 mortes e centenas de cangaceiros feridos. Um guarda foi atingido no pé.

Esse foi o fato mais sangrento da história política capixaba. O passo final que esmagou o braço armado oposicionista. Os coronéis em pé de guerra atacaram Vitória, Castelo, Alegre e Afonso Cláudio no intento de provocar a intervenção federal no Espírito Santo.
 
O mundo estava em guerra. No auge do conflito da 1ª Grande Guerra (julho de 1914 a novembro de1918) em Verdun na França a batalha durou seis meses, expos o horror de 300 mil mortos, naquele ano da conflagração morreram 2 milhões de soldados. A Russia perdeu 3,8 milhões de homens nos dois anos do conflito.
 
O duro golpe da derrota veio dobrado. Um suposto traficante de armas das altas rodas amigo do ministro da Guerra aplicou um golpe mirabolante na rebelião. Segura a carteira.

O cara identificado por Namy Chequer como Oldemar Lacerda acertou a venda de 400 carabinas, fuzis marca mauser, 80 mil balas e uma metralhadora. O armamento seria entregue em Regência, na boca do Rio Doce. Os emissários foram de navio buscar a preciosa carga avaliada em 20 contos de réis. O tombo foi grande. O valor era alto. Foi recolhido na vaquinha entre os coronéis ludibriados.

“Pegou a grana. Não entregou o arsenal”, frisou Namy .Segundo ele,  Oldemar Maria Lacerda foi apontado, juntamente com Jacinto Guimarães, como autor das Cartas Falsas ofensivas aos militares atribuídas a Artur Bernardes e publicadas no Correio da Manhã de 9 a 12 de outubro de 1921.

A luta  poderia ter um rumo bem violento se não tivessem caído no conto do vigário. Logo assim que os coronéis abriram os caixões no quartel-general em Colatina os olhos esbugalharam.

Em vez de armas havia pedaços de ferro velho, pedras, tijolos, areia e lenha. O golpe rasteiro  foi tachado de ‘pilhéria monumental’ pelo O Paiz.

Um telegrama do presidente da Câmara de Afonso Cláudio ao governo evitou que a Villa de Collatina fosse reduzida a cinzas.  

 “Se atacar a culpa de inundação de sangue recaíra sobre o presidente do Estado”, bradou o recado decisivo. A rendição pacífica dos rebeldes estava em curso. Já o presidente Wenceslau Brás, diz um trecho do O Paiz -, não entrou em relação com esse governo de Colatina. Também se recusou  a reconhecer o de Vitória’.

 Diante do embaraço Bernardino Monteiro reagiu: “Não. Não quero isso. Ninguém será atacado, nem propriedades mexidas. Toda  garantia que se ache necessária será dada conforme acerto no Palácio junto ao comerciante Antônio Calmon, irmão do chefe local”, relatou Bernadino Monteiro a 26 de junho de 1916.

Cercados por milicianos e batalhões  da polícia situacionista em Afonso Cláudio, Santa Teresa e Vitória às 13h30 do dia 29 de junho o coronel jogou a toalha.
 
Enviou derradeira mensagem ao presidente Wenceslau Brás. O telegrama de capitulação está arquivado nos Anais do Congresso Nacional.

“Sou coagido a retirar-me com minha família e amigos para Minas Gerais, devido faltarem garantias, sobretudo de vida. Peço providências”. Alexandre Calmon vice-presidente em exercício. Perdeu a guerra, sem perder a pose.
 
Em agosto, o Congresso Nacional reconheceu a eleição de Bernardino. Em 1º de setembro anistiou todos os participantes na lei de apenas quatro linhas.

O fim melancólico da guerra dos 33 dias que manchou de sangue o Espírito Santo foi a fuga em massa de ao menos 300 pessoas de influentes famílias colatinenses de trem para Natividade, hoje Aimorés (MG). Neste dia a cidade ficou vazia. 

O desterro agravou a tristeza profunda e duradoura dos revolucionários. “Alexandre Calmon, no meu ver foi o verdadeiro fundador de Colatina porque tirou na marra a sede de Linhares. Levou para Colatina, bem mais próspera em decorrência da linha do trem", disse o jornalista Namy.

 Mais de mil pessoas envolvidas no motim foram anistiadas no ES. Alexandre Calmon exilou-se no Rio de Janeiro. Voltou ao município somente para vender as posses. Veio no governo de Virgínio Calmon, primeiro prefeito de Colatina (foto). Notícias de agosto de  1916 revelaram que o comércio foi aniquilado com ‘as gavetas abarrotadas de vales que era a moeda corrente da 'falsa capital’. Mantimentos e gado foram devorados pelos jagunços.
 
“Seis anos depois Colatina se emancipou. Ganhou moral.  O primeiro prefeito foi o irmão do coronel Xandoca, Virgínio Calmon Fernandes. A ponte em 1928 mudou o perfil agrário para industrial de hoje.  A cidade ganhou peso político. Não é pouca coisa não”, adiantou. Colatina festejará 100 anos de liberdade política em 30 de dezembro de 2021.

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