Economistas adoram criar metáforas para explicar fenômenos econômicos. O “voo da galinha” é uma delas, usada para descrever a falta de sustentação do crescimento da economia brasileira. Porém, neste ano há riscos de que a galinha não consiga sequer voar, isso se tomarmos como base os últimos resultados divulgados pelo IBGE para o Produto Interno Bruto do país que, no acumulado do ano,alcançou R$ 2,83 trilhões em valores correntes, ou seja, queda de 2,1% quando comparado com igual período do ano anterior.Adicionalmente, de um ponto de vista de determinada visão econômica, o PIB completa o segundo trimestre consecutivo de queda, apontando para a chamada recessão técnica.
Analisando a composição do PIB pela ótica da oferta, isto é, com base no Valor Adicionado dos três grandes setores produtivos da economia (Agropecuária, Indústria e Serviços), a Agropecuária, cujo peso relativo para a composição total do PIB,em 2014, era de 5,5%,foi o único setor a apresentar variação positiva no primeiro semestre de 2015 (3,0%). Em parte isto se deve a safra relevante de alguns produtos (soja, milho e arroz, etc) no segundo trimestre do ano.
A Indústria,setor que nos últimos anos vem apresentando retração recorrente, sofreu nova queda no primeiro semestre deste ano (-4,1%),devido ao comportamento desfavorável da produção de máquinas e equipamentos, bem como de produtos automotivos, eletrônicos e de informática. Vale destacar que, desde 2006, o grande setor Indústria (que engloba os subsetores Extrativa, Transformação e Construção Civil), vem perdendo força frente à composição total do PIB, devendo fechar o ano em torno de 21,6% do total, atestando a continuidade de um processo que tem sido denominado de desindustrialização, iniciado desde de fins dos anos 1980s. O quadro se agrava se levarmos em conta que não há expectativas de uma possível melhora no curto prazo, haja vista a ausência de uma robusta política industrial que contemple a introjeção de ciência e tecnologia com a finalidade de elevar a produtividade. A Indústria,ao sofrer com a retração na demanda e a pesada competição externa, vivencia queda dos investimentos e acúmulo de estoques, influenciando negativamente os demais setores da economia e dificultando a retomada de crescimento global.
O setor de Serviços, que também inclui a atividade do Comércio e representou, em 2014, 71,1% do PIB brasileiro, também apresentou queda de 1,3% no primeiro semestre de 2015, comparado a igual período de 2014. Tal resultado negativo foi fortemente influenciado pela recessão econômica, pela elevação da inflação e a deterioração do mercado de trabalho, que contribuem para a redução do poder de compra do consumidor e também afetam diretamente o Comércio, atividade que registrou queda ainda maior no mesmo período (-6,6%).
Por sua vez, analisando os dados do PIB pela ótica do dispêndio, isto é, a partir da somatória dos gastos totais da sociedade brasileira com Despesa de Consumo das famílias, Despesa de Consumo do Governo, Investimentos (Formação Bruta de Capital Fixo - FBCF) e com as Exportações, deduzidas as Importações, o cenário também preocupa.O investimento, variável estratégica para puxar o crescimento da economia, sofreu uma retração de quase 10% na comparação com igual semestre do ano anterior. Ao computar, basicamente, novos investimentos em máquinas, equipamentos e construção civil, a FBCF traduz-se em um indicador que sinaliza, em última instância, a expectativa e os níveis de confiança dos empresários em relação ao futuro. O fraco desempenho desse indicador pode ser atribuído a diversos fatores, dentre eles, a redução do ritmo do crescimento econômico mundial,a instabilidade econômica e política internas, as altas taxas de juros e a elevação na taxa de câmbio, que, conjuntamente, provocaram tanto a quedada produção interna de bens de capital quanto das importações de máquinas e equipamentos, além de afetar negativamente o setor da construção civil e inibir encomendas de novos ativos tangíveis e intangíveis.
Para completar o quadro preocupante o aumento das taxas de desemprego, bem como das taxas de inflação e juros afetou direta e negativamente o resultado da Despesa de Consumo das Famílias e da Despesa de Consumo do Governo, rubricas que apresentaram queda de 1,8% e 1,3%, respectivamente,comparando-se o primeiro semestre de 2015 com igual período de 2014. Com a deterioração do mercado de trabalho, fator que empurra para baixo a capacidade e o poder de compra das famílias, o cenário econômico atual não se apresenta propício para uma possível recuperação baseada no consumo.
A única frente de resultados favoráveis manifestou-se nas Exportações, que cresceram 5,6% neste primeiro semestre, face expansão de vendas de petróleo e carvão, siderurgia, metalurgia e veículos automotores. A desvalorização cambial e a queda nas compras externas levaram a um recuo de 8,2% nas Importações,em igual período. Por mais que os preços das commodities tenham sofrido queda nos últimos seis meses, a desvalorização cambial contrabalançou a perda no setor externo.
Em síntese, os dados de nível da atividade da economia brasileira são extremamente desfavoráveis, com prognósticos de continuidade da crise, principalmente se levadas em conta a instabilidade e as pressões políticas sofridas pelo governo federal. Por fim, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central do Brasil (IBC-BR), indicador considerado como uma prévia do resultado do PIB, a expectativa é de retração do principal agregado macroeconômico brasileiro em 2015, em percentuais que podem variar entre 2,0% e 3,0%.