Com índices pluviométricos de apenas 367 mm de janeiro a setembro deste ano, Nova Venécia enfrenta uma das piores secas de sua história. A situação ficou ainda mais grave porque este é o segundo ano consecutivo de estiagem prolongada. O ano de 2014 também não foi generoso com chuvas, com um acumulado de precipitação de apenas 598 mm.
Seca não significa apenas escassez de água. Ela é o sinônimo também de problemas em vários setores da sociedade. Interfere na economia, no cultivo agrícola, na geração de empregos e no bem-estar e saúde da população.
Abastecimento de água – Esse é o problema mais imediato e grave quando o assunto é estiagem prolongada. O rio Cricaré encontra-se com o volume drasticamente reduzido. Como o nível da água do rio está baixando 5cm/dia, a Cesan está improvisando conjuntos moto bombas submersos dentro do leito do rio, com o objetivo de elevar o nível da água dentro do poço de sucção, a fim de garantir o abastecimento. Para garantir a segurança hídrica da população em suas necessidades básicas, a Companhia começou o racionamento de água desde o dia 3 de outubro, das 19h às 6h.
De acordo com os dados do Incaper, o déficit hídrico vem atingindo toda a bacia hidrográfica nos últimos cinco anos, esgotando o abastecimento de água dos afluentes ao rio Cricaré.
Observa-se que para o mesmo período (30 de setembro) dos anos anteriores, a cota de nível de água média observada no rio Cricaré nos últimos cinco anos é de 1,30 metros. Para o ano de 2015, a cota está em 0,97 metros, valor esse 25,6% menor do que a média dos últimos seis anos.
Nos últimos anos o município de Nova Venécia, como outros municípios da região Norte do Espírito Santo, tem sofrido com períodos prolongados de estiagem. Segundo os dados do setor de meteorologia do Incaper, no ano de 2014 em Nova Venécia choveu apenas 52% do volume esperado, com fenômenos atípicos como o índice de chuvas registrado no mês de agosto, que foi duas vezes maior do que a média do mês de agosto. Já no período chuvoso, compreendido entre os meses de novembro a janeiro, choveu apenas 21% do esperado.
O índice de precipitação pluviométrica média anual é de 1.138 mm, com base nos dados coletados no período compreendido entre 1983 a 2014. Para se ter uma ideia da grave estiagem que o município enfrenta, em 2014 houve um acumulado de chuvas de apenas 598 mm. Em 2015, o acumulado de chuvas até agora é de somente 367 mm. Ao analisar os dados meteorológicos dos últimos meses (janeiro a setembro de 2015), verifica-se que a situação é ainda mais preocupante, uma vez que os índices de chuva estão cerca de 40% abaixo do normal para a região até o momento e ao analisar o mês de setembro, mês de início do período chuvoso no município, que ficou 99,6% abaixo da média histórica.
Ao observar os dados, constata-se que no ano de 2015 a deficiência hídrica persiste no extrato de balanço hídrico mensal, tendo como consequência a redução drástica do nível de água dos reservatórios, principalmente aqueles utilizados para a irrigação das lavouras e/ou pastagens, impossibilitando, em muitos casos, o suprimento de água às lavouras e animais, gerando com isso grandes transtornos para a população da zona rural.
Outro fator importante mostra que, além das chuvas terem sido insuficientes, estas ocorreram de forma irregular ao longo do ano, ocorrendo com grande intensidade em curtos períodos de tempo e bem abaixo do esperado nos meses de maior demanda atmosférica. Esta anomalia observada ao longo dos últimos quatro anos, de chuvas intensas em um curto período de tempo, normalmente levam a um escoamento superficial rápido da água, incapacitando a sua infiltração no solo e acumulação em sua totalidade. Esse fator levou o município de Nova Venécia a uma deficiência hídrica no balanço hídrico na maioria dos meses nos anos de 2012, 2013, 2014 e 2015.
Na zona rural, o abastecimento de água potável para atender as atividades básicas da população é feito por meios de represas, caixas d’água e cacimbas, poços artesianos ou pequenos rios e córregos. Atualmente, devido à escassez de chuvas, à baixa eficiência na utilização da água e a falta de medidas conservacionistas esses reservatórios estão secando e a situação está se tornando cada vez mais insustentável.
Agricultura – Em visitas realizadas às diferentes propriedades dos distintos distritos dos municípios de Nova Venécia, o Incaper constatou a situação crítica das lavouras, pastagens e cursos hídricos devido ao período prolongado de estiagem associado às altas temperaturas.
Ainda de acordo com o relatório Agroclimático do Incaper, as altas temperaturas do mês de setembro, associadas à baixa umidade relativa do ar, vem favorecendo a elevação da evapotranspiração, que é a combinação da evaporação da água do solo, das superfícies líquidas, e de transpiração dos vegetais. Esse fenômeno acarreta em perda excessiva de água para as plantas que precisam ser repostas por meio de uso de sistemas de irrigação.
Este é um período crítico para a maioria das culturas agrícolas, pois a falta de água e a baixa umidade relativa do ar tendem a comprometer as floradas, fase de pegamento e enchimento dos grãos, bem como a produção de folhas, prejudicando substancialmente a produção agrícola de forma irreversível.
A circunstância atual de escassez de água nos reservatórios hídricos da zona rural do município torna evidente o prejuízo do setor agropecuário devido às perdas acentuadas de produção nas culturas anuais e perenes e na produção de leite, carne e ovos. O relatório do Incaper também recomenda adotar medidas eficazes para a atenuação dos efeitos da seca como construção de barragens coletivas, projetos de recuperação de áreas degradadas, plantio de espécies nativas nas nascentes, áreas de proteção permanente e microbacias da região, bem como a adequação ambiental das propriedades de acordo com as normas vigentes.
Estão sendo constatadas grandes perdas de produtividade nas mais diversas atividades agrícolas e na pecuária. Na cultura da pimenta-do-reino, por exemplo, a queda de produtividade e rendimento está sendo significativa, ocorrendo alto índice de abortamento de flores, frutos e baixo rendimento de grãos. Assim também ocorreu nas demais culturas como do maracujá, coco, cacau, abóbora, etc. Na pecuária a situação não é diferente, uma vez que predomina o sistema de criação extensivo onde se registra as maiores perdas. Mesmo em sistemas onde se utiliza irrigação as perdas são significativas, constatamos queda na produção leiteira em média de 22%.
Todas as comunidades rurais do município estão sofrendo com o longo período de escassez de chuva. Há relatos de produtores sobre as perdas contabilizadas em diversas culturas agrícolas e na pecuária. Suas perspectivas são mais de um ano de prejuízos devido ao clima desfavorável.
Indústria - A Cooperativa de Laticínios Veneza sofreu uma queda de 13% na captação de leite dos produtores rurais. A produção de leite em 2014 era de 46.953.923 litros, em 2015, são 40.754.961 litros, ou seja, são menos 6 milhões de litros de leite para a produção de laticínios da fábrica.
O produto carro-chefe da Veneza são os queijos. Com a estiagem prolongada, a produção de queijo diminuiu drasticamente. Mais de 673 mil quilos de queijo deixaram de ser produzidos em um ano. Só com a perda do faturamento de queijo, o prejuízo da Veneza chega a R$ 9 milhões, isso equivale a um mês de faturamento da empresa. O presidente da Veneza, José Carnieli, considera que o quadro da seca de 2015 é a pior estiagem dos últimos 10 anos para a empresa.
Já o setor de rochas está em uma situação mais tranquila. De acordo com o Sindirochas de Nova Venécia, toda a água utilizada pelo polo de granito do município é reciclada. A água que lava as rochas ornamentais passa por uma calha. O resíduo passa por tratamento e a água reciclada volta a ser utilizada. Mais de 50% das empresas também captam água da chuva para utilizar no processo industrial. Graças a esse sistema ecologicamente correto, o setor ainda não teve prejuízos por conta da estiagem prolongada. (Assessoria de Comunicação Prefeitura de Nova Venécia www.novavenecia.es.gov.br)