Por: Redação*
O Dia do Índio foi comemorado no último dia 19. No entanto, grande parte dos povos indígenas não tem o que comemorar. Pelo contrário. Os yanomamis, por exemplo, vêm sofrendo com a contaminação do mercúrio – problema causado pela invasão dos garimpeiros. É que mostra o estudo conduzido estudo conduzido pela Fiocruz, em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA).
O estudo mostra que a contínua invasão ilegal de garimpeiros em território dos índios yanomami tem trazido graves consequências: algumas aldeias chegam a ter 92% das pessoas examinadas contaminadas por mercúrio. Atendendo a um pedido da Hutukara Associação Yanomami (HAY) e da Associação do Povo Ye’kwana do Brasil (Apyb), uma equipe visitou 19 aldeias em Roraima.
Em março último, uma comitiva formada por lideranças yanomami e ye'kwana e representantes da Fiocruz e do ISA foi a Brasília divulgar o diagnóstico. A comitiva entregou cópias às presidências da Funai e do Ibama, ao coordenador da Secretaria Especial de Saúde Indígena, ao Ministério Público Federal e à Relatora Especial sobre Direitos Indígenas da ONU, que estava em visita ao Brasil. As lideranças indígenas também exigiram a retirada imediata dos garimpeiros da Terra Indígena Yanomami e um atendimento especial em saúde para as pessoas que estão contaminadas.
Foram coletadas 239 amostras de cabelo, priorizando os grupos mais vulneráveis à contaminação: crianças, mulheres em idade reprodutiva e adultos com algum histórico de contato direto com a atividade garimpeira. Também foram coletadas 35 amostras de peixes que são parte fundamental da dieta alimentar dos índios. O estudo foi realizado nas regiões de Papiú e Waikás, onde residem as etnias yanomami e ye’kwana.
O caso mais alarmante foi o da comunidade yanomami de Aracaçá, na região de Waikás, onde 92% do total das amostras apresentaram alto índice de contaminação. Esta comunidade, entre todas as pesquisadas, é a que tem o garimpo mais próximo. Já na região do Papiú, onde foram registrados os menores índices de contaminação ?– ?6,7% das amostras analisadas – a presença garimpeira é menos acentuada.
Os efeitos do mercúrio
O mercúrio é um metal altamente tóxico e seus danos costumam ser graves e permanentes: alterações diretas no sistema nervoso central, causando problemas de ordem cognitiva e motora, perda de visão, doenças cardíacas entre outras debilidades. Nas mulheres gestantes, os danos são ainda mais graves, pois o mercúrio atinge o feto, causando deformações irrecuperáveis.
As coletas foram precedidas por consultas aos indígenas, que autorizaram a retirada de amostras de seus cabelos, com a condição de que após a análise elas seriam devolvidas. Este pedido se deve à obrigação de que, para os yanomami, todos os pertences e partes corporais devem ser cremados após a morte. É também uma precaução adotada depois que tiveram conhecimento do caso de roubo de seu sangue por pesquisadores norte-americanos na década de 1970. (com informações da Coordenadoria de Comunicação Social da Fiocruz - email: ccs@fiocruz.br e telefone (21) 2270-5343).