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Os 60 Anos Do Massacre Dos Operários Da Usiminas e Civis

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29/09/2023

 Os 60 Anos Do Massacre Dos Operários Da Usiminas e Civis

Por Paulo César Dutra
Jornalista Profissional
dutra7099@gmail.com
 
A empresa localizada no município de Ipatinga-MG foi palco de um dos, ainda hoje, mais obscuros episódios da história contemporânea do Brasil.
 
No próximo dia 7 de outubro de 2023, completam 60 anos, o Massacre dos Operários da Usiminas e Civil, entre eles uma bebê de três meses, um alfaiate e um mendigo. A história que foi visto ao vivo e a cores (nos dias 5, 6 e 7 de outubro de 1963) pelo autor deste texto, que morava com os pais e irmãos no bairro Santa Mônica, conta que na manhã do dia 7 de outubro de 1963, na cidade de Ipatinga, no Estado de Minas Gerais, no Brasil, na América do Sul, a portaria principal da entrada dos operários para as dependências da Usina Siderúrgica de Minas Gerais – USIMINAS,  foi palco de um dos, ainda hoje, mais obscuros episódios da história contemporânea do Brasil. Em frente a um dos portões de entrada dos operários, um conflito entre policiais militares e trabalhadores da Usiminas transformou-se em uma tragédia. Oficialmente, oito pessoas morreram, no manifesto, entre elas um bebê, um alfaiate e um mendigo, pelos tiros disparados pelos PMMG, sob o comando do oficial da PM, Robson Zamprogno, delegado especial do distrito de Ipatinga e Capitão da Cavalaria, um capixaba de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo. O número que, até hoje, é visto com desconfiança pelos que estavam no local naquele dia. As entidades locais, tinham nas suas anotações mais de 80 pessoas. Cinco meses depois, em março de 1964, o golpe militar colocou o assunto na clandestinidade, bem como as lideranças sindicais da região do Vale do Aço, onde se localiza Ipatinga.
 
Um dos motivos das manifestações dos operários da Usiminas e das empresas empreiteiras das obras da usina, cuja primeira etapa só foi concluída em 1965, eram as truculências da Polícia Militar e da segurança da empresa com os trabalhadores. E nos dias 5 e 6 de outubro de 1963, uma greve de operários foi iniciada uma manifestação pedindo que a Polícia e a segurança da empresa acabassem com as humilhações nas revistas de entrada e saída do serviço, além de melhorias nas condições de trabalho.

No dia 6, a partir das 18 horas, a Polícia Militar (usando a cavalaria, com animais adestrados para morder os manifestantes) começou a surpreender os operários que chegavam em seus alojamentos situados nos bairro Horto e Santa Mônica. Os operários surpreendidos foram mordidos pelos cavalos, espancados pelos PMs e presos, levados para as “baias” dos animais no bairro Bom Jardim. 

No bairro Santa Mônica além dos alojamentos, haviam as casas de famílias de operários que não foram atingidas pela PM. Mas os operários que estavam em um dos alojamentos de madeiras, foram todos espancados e levados para as baias de Bom Jardim. Nos alojamentos de tijolos, mais resistentes, a PM não conseguiu entrar, pois os operários fizeram barricadas, impedindo a entrada deles. Os operários conseguiram pegar os animais usados pela PM e os mataram. Os sindicalistas denunciaram os abusos naquela noite para a direção da Usiminas, que logo marcou uma reunião com os operários no dia seguinte, no Escritório Central da Usiminas.

No dia seguinte, 7 de outubro, cerca de sete mil pessoas aguardavam o término de uma reunião que envolvia a direção da Usiminas, o sindicato, Polícia Militar e lideranças religiosas para investigar as circunstâncias do conflito na noite anterior. Antes do fim da negociação, um policial começou a atirar. Segundo os relatos, os disparos pareciam para o alto, mas pessoas começaram a cair. Oficialmente, foram oito mortos. Entre eles uma criança de três meses que estava no colo da sua mãe. No entanto, testemunhas afirmam que o número poderia ser dez vezes maior.

Alguns policiais envolvidos chegaram a ser detidos por 30 dias e foram afastados da corporação. Depois do golpe militar de 1964, as punições foram revertidas. Em 2013, a Comissão Nacional da Verdade voltou a investigar o tema, inclusive o número real de assassinados, que ainda segue em aberto.
 
Uma história pouco contada: Massacre de Ipatinga (MG) vai perdendo suas testemunhas
Em 7 de outubro de 1963, a Polícia Militar abriu fogo contra trabalhadores que protestavam na Usiminas. Naturalmente a vida vai levando os que sobreviveram ao tiroteio promovido pela Polícia Militar contra trabalhadores na porta da Usiminas em 1963. 
 
Lembrando a história

O leste de Minas Gerais possui um histórico de implantação siderúrgica desde os anos de 1930, com a chegada da Usina Barbanson (atual Acelor Mittal) em João Monlevade, distrito de Rio Piracicaba. No final dos anos de 1950, com planos de metas de Juscelino Kubistchek, começou a implantação das Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas) no distrito de Ipatinga, município de Coronel Fabriciano. 

O distrito de Ipatinga foi criado em 12 de dezembro de 1953, mas os moradores viviam insatisfeitos com a falta de água, luz e infraestrutura. Em 1962, a Assembleia de Minas aprovou o projeto de revisão administrativa, que criou 237 novos municípios e, dentre eles, estava Ipatinga, que teve seu termo de emancipação político-administrativa assinada em 29 de abril de 1964, desmembrando-se, então, do município de Coronel Fabriciano.

Semana sangrenta

No dia 5 de outubro de 1963, na saída do turno da tarde, quando fazia a revista na saída dos trabalhadores, impedindo que levassem para casa o lanche que recebiam dentro da empresa, um vigilante sacou a arma e atirou no saco de leite de um operário. Foi a gota d’água em uma situação de humilhação que já vinha crescendo nas portarias. Assim, o conflito entre trabalhadores e vigilantes se estende para os alojamentos, para onde foi enviada a Polícia Militar da Usiminas.

A resistência operária na região - que ficou conhecida como “Forte Santa Mônica”-  fez com que à noite houvesse nova investida da Polícia Militar, mais uma vez contida na parte alta do bairro. No entanto, nos alojamentos mais precários, que pertenciam às empreiteiras que prestavam serviço, o ataque foi consumado: cerca de 300 trabalhadores sofreram maus tratos a noite toda.

Na manhã do dia 7 de outubro de 1963, um caminhão com PMs na carroceria fortemente armados e um deles com metralhadora, surgia diante da multidão de trabalhadores, que esperavam o fim da reunião dos trabalhadores com a Usiminas.
Um dos mortos, José Isabel do Nascimento era um dos trabalhadores e portava sempre uma máquina fotográfica. Ele foi o autor da foto, e que levou um tiro momentos depois do registro, talvez o único do episódio...
Até os dias de hoje, passados 60 anos, ninguém sabe informar corretamente os números de mortos.

Vítimas
 
De forma oficial, a chacina terminou com oito mortes e 79 feridos, no entanto tais números são contestados, visto que há muitos relatos de familiares de possíveis vítimas que não foram contabilizadas, principalmente de crianças que perderam o pai. Fontes indicam trinta mortos, enquanto que outras até oitenta. Padre Abdala Jorge, de Timóteo, afirma ter contabilizado onze corpos em um hospital da região. Em uma carpintaria de Timóteo teriam encomendado doze caixões, mas um ex-funcionário da Usiminas afirma ter buscado 32 a pedido da empresa em Belo Horizonte no dia seguinte. Em entrevista concedida em 2006, Geraldo Ribeiro disse ter visto no dia do massacre quatro corpos estendidos no chão antes de ir até Timóteo contactar a Secretaria de Segurança e ao retornar, cerca de 30 minutos mais tarde, não havia nenhum corpo. Também afirmou, décadas mais tarde, ter recebido da Usiminas uma carta informando que 59 funcionários foram demitidos por não terem retornado às atividades trinta dias após o ocorrido.

Um inquérito aberto no dia seguinte ao massacre apontava que pelo menos quatro corpos foram jogados no Ribeirão Ipanema, mortos em um tiroteio. Daniel Miranda Soares narra em seu artigo "O Massacre de Ipatinga" no Cadernos do CEAS nº 64 de 1979 que foram mais de três mil feridos e 33 teriam morrido até o dia seguinte em decorrência dos ferimentos. Dentre as oito mortes, constam José Isabel do Nascimento, o único a fotografar o massacre; a menina Ângela Eliane Martins, de três meses de idade, que foi baleada no colo da mãe Antonieta Francisca da Conceição Martins, que a levava para uma consulta no ambulatório da Usiminas; além de outros cinco industriários (Gilson Miranda, Aides Dias de Carvalho, Antônio José dos Reis, Alvino Ferreira Felipe e Sebastião Tomé da Silva) e um alfaiate (Geraldo Rocha Gualberto que trabalhava no bairro Cariru, e foi surpreendido pelos tiros da PM, quando seguia para seu local de trabalho).

Impactos e investigações

Destruição do caminhão usado no massacre.
A Rádio Guarani fora a primeira a anunciar o massacre, repassando a informação de que havia sete mortos e dezenas de feridos. Houve, em um período de 24 horas, repercussão nacional e internacional. A Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) deu início às investigações em 8 de outubro, instaurando uma Comissão de Inquérito. Neste dia, representantes do governador, da Usiminas e de sindicatos, Cyro Cotta Poggiali, Massilon Resende Teixeira (juiz da Comarca de Coronel Fabriciano) e Orlando Milanez (promotor da comarca) se reuniram em Ipatinga. Geraldo Ribeiro exigia a punição dos policiais envolvidos, o que o comandante geral da Polícia Militar de Minas Gerais – PMMG, coronel José Geraldo de Oliveira, que também chegou ao distrito no dia 8, garantiu que aconteceria. No mesmo dia, o coronel instaurou um inquérito policial. Os três dias seguintes após o episódio foram de rebelião no distrito, onde, além da greve, foram destruídas as cinco guaritas da vigilância da Usiminas, a delegacia, a cadeia pública e o caminhão usado para conduzir os PMs autores dos disparos.

Outro ponto defendido pelo sindicalista era a retirada da Polícia Militar de Ipatinga e o policiamento local fosse feito pelo Exército, mas isso era impraticável para Magalhães Pinto. O governador não podia deixar que a polícia do estado fosse substituída pelas forças nacionais, lideradas pelo presidente e rival político João Goulart, bem como não seria bem visto caso houvesse uma má repercussão da Polícia Militar em relação às mortes. O inquérito aberto contra os 19 policiais envolvidos no massacre de 7 de outubro foi encerrado em 4 de novembro de 1963 e um segundo, que envolvia as agressões contra os operários no dia anterior, foi entregue em 29 de novembro. Os operários da Usiminas obtiveram um aumento salarial e a garantia de liberdade aos líderes do sindicato. Em fevereiro de 1964 realizaram uma nova greve exigindo, sem sucesso, um novo aumento. O quadro de vigilantes da empresa também foi substituído.

O policiamento nas ruas de Ipatinga foi reduzido, mas a criminalidade crescente fez com que houvesse uma demanda por policiais. Um grupo de elite da Policia Militar preparado em Belo Horizonte chegou ao distrito no final de 1963. Ainda havia uma resistência contra a presença de militares em alguns alojamentos, mas por sugestão do padre Avelino, da Igreja do Bairro Horto, os oficiais trouxeram uma banda de música que conseguiu aproximar a população das forças de segurança. 

No bairro Santa Mônica a resistência se estendeu por mais tempo e somente em 10 de março de 1964, após um tiroteio entre moradores, a polícia forçou uma atuação sob a presença de Geraldo Ribeiro. Nos anos seguintes, a Usiminas acelerou a construção de novos bairros residenciais, visto que até 1963 cerca de 60% habitavam em condições precárias. Ações de recursos humanos e a implementação de políticas de assistência social minimizaram os conflitos entre as relações de trabalho.


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