Por: Paulo César Dutra
Galgando vários postos ao longo de sua carreira, até ser nomeado presidente da mineradora coube a ele transformar a empresa em uma das maiores companhias do planeta.
O engenheiro civil Eliezer Batista da Silva se notabilizou na presidência da Companhia Vale do Rio Doce, a Vale por ligar a empresa ao resto do Mundo e por ter sido responsável pelo Projeto Grande Carajás, que passou a explorar as riquezas da província mineral dos Carajás, no estado do Pará. Foi a mola propulsora do projeto do Porto de Tubarão, capitaneando sua construção no Espírito Santo, que contribuiu muito com o desenvolvimento econômico do Estado, que permitiu a instalação de outras indústrias na região, como a Companhia Siderúrgica de Tubarão – CST. Casou-se com a alemã Jutta Fuhrken e dessa união nasceram sete filhos. Eliezer nasceu no dia 4 de maio de 1924, em Nova Era, Minas Gerais, filho de José Batista da Silva e de Maria da Natividade Pereira.
Poliglota autodidata aprendeu sozinho russo, inglês, alemão, francês, italiano e espanhol e adquiriu noções básicas de grego. Ele diplomou-se pela Escola de Engenharia da Universidade do Paraná, em 1948. Em 1949 foi contratado pela Vale, então uma empresa inexpressiva e tornou-se seu primeiro presidente oriundo dos quadros da empresa, tendo assumido o cargo em 1961. Coube a Eliezer Batista transformar a mineradora em uma das maiores companhias do planeta, presidindo-a de 1961 a 1964 e de 1979 a 1986.
Quando presidiu a Vale pela primeira vez, foi nomeado em um dos últimos atos do Presidente da República, Jânio Quadros. Ao perceber a necessidade dos japoneses de expandir seu parque siderúrgico, grandemente danificado pela Segunda Guerra Mundial, criou o conceito, então inédito, de "distância econômica", o que permitiu à Vale entregar minério de ferro, através do Porto de Tubarão, ao Japão (do outro lado do Mundo) a preços competitivos com o das minas da Austrália, vizinha dos japoneses.
Isso lhe valeu a fama de "engenheiro ferroviário que ligou a Vale ao resto do mundo", e lhe rendeu a mais alta condecoração do Japão, por ter causado uma verdadeira 'revolução' no sistema de transporte marítimo-ferroviário de granais sólidos e líquidos mundial. Em 1962, graças ao conceito de "distância econômica", foram assinados contratos de exportação, válidos por 15 anos, com 11 siderúrgicas japonesas, num total de cinco milhões de toneladas/ano - o que representava mais do dobro da até então produção da Vale, que era de 2 milhões de toneladas/ano.
Eliezer Batista abriu o mercado para um produto que podia valer pouco, mas a ideia era ganhar dinheiro com a "logística", transformando uma distância física (a rota Brasil-Japão-Brasil) numa "distância econômica", o valor necessário para colocar o minério brasileiro nas usinas japonesas.
Ele foi ministro das Minas e Energia do gabinete Hermes Lima (1962 - 1963) no governo do presidente João Goulart (1961 - 1964). Neste período foi a mola propulsora do projeto do Porto de Tubarão, capitaneando sua construção, no que contou com o apoio irrestrito de San Tiago Dantas, então ministro da Fazenda. Com a deposição de João Goulart, pelo golpe militar de março de 1964 foi sumariamente demitido da presidência da Vale e acusado, por alguns grupos militares, de ser "comunista", e esteve ameaçado de ser preso; salvou-o o ditador Castelo Branco, que entretanto "aconselhou" que ele deveria ser presidente da Caemi, uma mineradora privada. Era a Caemi ou a cadeia. Não foi difícil para Eliezer escolher.
A convite do presidente general João Figueiredo voltou a ocupar a presidência da Companhia Vale do Rio Doce, em 1979 e foi o responsável pelo Projeto Grande Carajás, oficialmente conhecido por Programa Grande Carajás (PGC), que passou a explorar as riquezas da província mineral dos Carajás - abrangendo uma área de 900.000 km², cortada pelos rios Xingu, Tocantins e Araguaia, e engloba terras do sudoeste do Pará, norte de Tocantins e oeste do Maranhão.
Em 1990, recusou um convite para fazer parte da equipe ministerial de Fernando Collor de Mello (1990-1992). Entretanto, em 1992 assumiu a Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), onde direcionou a atuação da Secretaria para os problemas ligados ao desenvolvimento econômico do país, especialmente a crise do setor elétrico. Deixou este cargo ainda em 1992, no início do processo de impeachment do presidente Fernando Collor de Mello.
Em 1985 foi agraciado com o Prêmio Eminente Engenheiro do Ano, por ter desenvolvido o conceito de distância econômica para o transporte de granéis sólidos e líquidos - o que foi considerado como uma verdadeira abertura dos portos do Japão. Recebeu o título de honoris causa da Academia Russa de Ciências e foi professor catedrático da Escola Politécnica do Espírito Santo. Por fim, uma justa homenagem em um documentário de 84 minutos, “Eliezer Batista: o Engenheiro do Brasil”, com narração, Paulo Betti refere-se ao personagem como o engenheiro de uma nação. Exagero? Pode até ser, mas pelo menos é assim que Eliezer Batista é retratado no documentário, que, para a maioria dos brasileiros, servirá de cartão de visitas daquele que ajudou a Companhia Vale do Rio Doce e o Brasil.
Dr. Eliezer Batista morreu em 2018
O empresário e ex-ministro Eliezer Batista morreu na noite do dia 18 de junho de 2018, aos 94 anos. Ele estava internado no Hospital Samaritano, em Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro.
Engenheiro, Eliezer foi, entre outros cargos, presidente da Vale do Rio Doce, ministro de Minas e Energia, em 1962, e secretário de Assuntos Estratégicos do governo Fernando Collor de Mello em 1992.
Batista também participou do segundo governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso como membro do Conselho Coordenador das Ações Federais no Rio de Janeiro.
Empresário no ramo da mineração e natural de Nova Era (MG), Eliezer era pai do também empresário Eike Batista e outros seis filhos.
No ramo empresarial, Eliezer foi diretor-presidente da Minerações Brasileiras Reunidas S.A., vice-presidente da Itabira International Company, diretor da Itabira Eisenerz GMPH, presidente da Rio Doce Internacional (subsidiária da Vale em Bruxelas).
Depois de retornar à presidência da Companhia Vale do Rio Doce, em 1979, Batista desenvolveu o Projeto Ferro Carajás, primeira iniciativa de exploração das riquezas da província mineral dos Carajás, com áreas do Pará até o Xingú, Goiás e Maranhão.
Eliezer também foi um dos fundadores, em 1997, do Conselho Empresarial Brasileiro de Desenvolvimento Sustentado (CEBDS).
Vale lamentou morte
"Presidente por duas vezes, Eliezer preparou a então Companhia Vale do Rio Doce para o crescimento que ocorreria a partir da década de 1980, criando uma estratégia de comercialização de minério em grandes volumes e a longo prazo com as siderúrgicas japonesas", diz o texto.
"Estamos consternados. Nosso maior engenheiro, o homem que teve a visão de preparar a Vale para ser a empresa que conhecemos hoje, se foi. Eliezer Batista, que um dia recebeu a alcunha de 'Engenheiro do Brasil', bem que poderia ser conhecido por: 'o Construtor da Vale'. Sim, temos orgulho de dizer que fomos a sua principal obra", disse na ocasião o então diretor-presidente da Vale, Fabio Schvartsman.
'Sempre acreditou no Brasil', disse o então presidente da República, Michel Temer, que lamentou a morte de Eliezer Batista.
"O Brasil perdeu um de seus maiores engenheiros. Eliezer Batista foi um dos responsáveis pelo sucesso da Vale no mundo. Muito trabalhou pelo nosso país e sempre acreditou no Brasil", escreveu o presidente.
Além do presidente, o Sistema Firjan também manifestou lamentação pela morte de Eliezer Batista.
"Eliezer dedicou sua vida à questão da infraestrutura e da logística. Presidiu a Vale, dando início a uma trajetória que transformaria a companhia em um dos maiores grupos do mundo. E foi responsável por uma aproximação com empresas do Japão, que resultou em importantes investimentos em nosso país", diz a nota.
O sistema lembrou que, em 1995, Batista assumiu cadeira no Conselho Coordenador das Ações Federais no Rio de Janeiro, ligado à presidência da República e que ficava sediado na Federação. "Foi o começo também de uma inestimável colaboração para a Firjan", recorda o texto.
Em 2016, a Firjan destacou que Batista passou a integrar o Conselho de Eméritos da Federação, criado para debater grandes temas da indústria fluminense. "O Brasil e o Rio de Janeiro devem muito a Eliezer, um dos maiores brasileiros da história", ressaltou a instituição.