por: Aline d´Avila*
A atividade de exploração e produção do petróleo e gás pode significar, para os estados e municípios, dois tipos de resultados. O primeiro deles consiste na obtenção de royalties e participação especial, ou seja, recursos como resultados de curto prazo. Porém, há também o resultado de longo prazo através do desenvolvimento industrial do território, que envolve desenvolvimento tecnológico, inovação, qualificação de mão de obra e competitividade da indústria.
A complexidade do setor de petróleo, com sua intrincada cadeia produtiva, ao mesmo tempo em que é fonte inesgotável de oportunidades de crescimento para as economias locais, exige das empresas e das pessoas que desejam operar neste segmento um elevado nível de competência técnica e de gestão. O desenvolvimento de tais competências requer um esforço permanente de consolidação de um ambiente com grande dinamismo para apoiar o aperfeiçoamento tecnológico das empresas e a qualificação de trabalhadores. No Espírito Santo, não se verifica ainda a plena conformação dessa ambiência de estímulos à adequação produtiva e à inovação nas empresas fornecedoras de produtos e serviços para o setor de petróleo.
Um indicador da necessidade de elevação da participação do estado na produção e desenvolvimento de produtos para o segmento é a sua participação no investimento em P&D das concessionárias de exploração e produção. como estabelecido no contrato de concessão, aquelas empresas devem investir, em P&D, 1% da renda bruta de todos os campos que pagam participação especial. Destes recursos, metade pode ser investida em Centro de Pesquisa próprio e a outra metade obrigatoriamente deve ser utilizada em Universidades credenciadas junto à ANP.
Os recursos de dispêndio obrigatório em P&D estão fortemente concentrados na Petrobras, mas nos próximos anos diversas empresas terão compromissos obrigatórios com investimentos em P&D. O Espírito Santo, pela diversidade de ambientes de exploração e produção, tem sido foco de iniciativas pioneiras da Petrobras, do ponto de vista tecnológico, mas ainda tem baixa participação na captação destes recursos. Dados da Petrobras indicam que de 2006 a 2012 foram investidos, dos recursos provenientes das obrigações contratuais, R$ 100 milhões em projetos de P&D no Estado
A necessidade de ampliar a divulgação da imagem do estado como o segundo maior produtor de petróleo do país, assim como as diversas vantagens comparativas para a instalação no Espírito Santo de empresas do setor, é fundamental para o crescimento de sua participação nos resultados nacionais. Reafirma-se assim, a importância de articular as ações das diversas instâncias institucionais para elevar a eficiência dos esforços de empresas e governos e para estimular a criação de um ambiente que promova a elevação da competitividade local e gere oportunidades de negócios no setor. O Fórum Capixaba de Petróleo e Gás – FCP&G, criado em 2013, sob a governança tripartite da Petrobras, Secretaria Estadual de Desenvolvimento e Federação das Indústrias do Espírito Santo, tem como objetivo promover esta articulação entre as diversas instituições.
Uma das ações do FCP&G é a de promover a industria local por meio do desenvolvimento de fornecedores de produtos e serviços para o setor. Inicialmente o desenvolvimento de novos produtos para o setor de P&G se dava no âmbito das ações do Prominp Regional, sob a coordenação da Petrobras. Com a criação do FCP&G e a subseqüente assunção das funções do Prominp, aquela instituição passou a monitorar e apoiar estas ações. Assim, para operacionalizar a diretriz indutora de desenvolvimento de novos produtos e serviços para o setor petrolífero, o FCP&G instituiu os Programas Estratégicos de D04 – Atendimento às demandas tecnológicas e o D06 - Conexão Tecnológica. Estes programas atuam de forma complementar na atração de grandes empresas produtoras e seus grandes fornecedores para identificação de demandas tecnológicas e na busca de empresas locais que podem atendê-las desenvolvendo soluções.
As ações são articuladas entre o dois programas de tal forma que o Grupo de Trabalho do D04 mobiliza as grandes empresas para que participem do Fórum e apresentem suas demandas que são então, encaminhadas para o D06 que promove a identificação das empresas locais capazes de desenvolver os produtos, forma e monitora os grupos desenvolvedores, segundo esquema simplificado abaixo.
Atualmente estão em desenvolvimento, por pequenas empresas locais, 7 produtos e 7 serviços demandados pela Petrobras (ver quadro 01). A maior parte das empresas desenvolvedoras é de pequeno porte e está em incubadoras capazes de mobilizar toda rede de apoio e fomento à inovação congregada pelo FCP&G, como o Sebraetec, editais de financiamento de instituições governamentais, Universidades, Centros de pesquisas e laboratórios.
Quadro 01 – Produtos e serviços em desenvolvimento monitorados pelo D06
Código
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Projeto de Produtos em
desenvolvimento
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ES-20
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Desenvolver fornecedor para
fabricação de hastes polidas e convencionais para unidades de bombeio.
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ES-24
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Desenvolver fornecedor para
fabricação de centralizador para tubo de revestimento.
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ES-28
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Viabilizar a fabricação
local de Bombas Alternativas Terrestres de Sub-Superfície para Poços de
Petróleo (UBM)
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ES-31 B
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Desenvolver Fabricantes de
Trocadores de Calor tipo Placas Gaxetadas para Plataformas Offshore
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ES-34 A
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Válvulas e Conexões até 2”
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ES-36 A
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Tubos rasgados para poços de
petróleo
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ES-39
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Calços para Oleodutos e
Gasodutos tipo Came
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Código
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Projetos de serviços em
desenvolvimento
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ES-27
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Desenvolver Rede de
Prestação de Serviços Laboratoriais para a Cadeia de Petróleo, Gás e Energia
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ES-32
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Monitoramento Distribuído de
Temperatura em Poços com Fibra Ótica
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ES-33
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Equipamentos de Automação
Industrial
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ES-37
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Revestimento de Internos de
Válvulas e Tubulações
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ES-38
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Estudos e Aplicações de
Tecnologias Especiais de Soldagem
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ES-40
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Manutenção e Inspeção de
Acumuladores Hidráulicos e Amortecedores de Pulsação com Bexiga
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ES-41
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Técnicas Otimizadas de
Inspeção e Limpeza em Tanques, Vasos e
Cascos de Embarcações
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Por meio desta metodologia de apoio à inovação, que conta com a participação ativa da Petrobras na disponibilização de técnico especialista para cada projeto, na realização de Termos de Cooperação Técnica, na cessão de campos para testes dos produtos e na aquisição de lotes pilotos, mesmo sem a garantia de compra do produto acabado ou de financiamento direto, já está concluído e no mercado o projeto de Tubos Isolados para Injeção de Vapor. Neste momento, a empresa que desenvolveu e produziu os tubos busca apoio para internacionalização do produto. Até o final de 2015, mais três produtos terão concluída sua etapa de desenvolvimento e serão lançados no mercado
Este ano, o FCP&G, por meio dos Programas D04 e D06, na busca do cumprimento da meta estabelecida de 60 demandas apresentadas em quatro anos, aumentou o escopo de atuação com a incorporação da SHELL, da Transpetro e do Cenpes e promoveu uma significativa elevação das demandas. Durante a 8ª Feira da Metalmecânica, Energia e Automação – MECSHOW realizada na Grande Vitória, foram promovidos pelo Sebrae/ES e Petrobras, com o apoio do FCP&G, três dias de encontros tecnológicos nos quais foram apresentadas, às empresas locais, 32 demandas por desenvolvimento de produtos e patentes. Houve manifestação de interesse pelo desenvolvimento de 26 delas,
Os encaminhamentos a partir de então, serão a seleção das empresas interessadas e a formação dos 26 Grupos de Desenvolvimento de Projetos. A experiência adquirida nos últimos anos na condução de grupos de empresas inovadoras tem demonstrado que a efetividade (produto no mercado) desta metodologia advém do acompanhamento constante das diversas instituições de apoio, dentre elas as grandes empresas demandantes, em cada etapa do projeto. Tal monitoramento permite o atendimento imediato das necessidades das empresas desenvolvedoras no que tange à prospecção tecnológica, desenvolvimento de materiais, identificação de expertises e laboratórios especializados e, principalmente o apoio à colocação do produto no mercado nacional e internacional. Para tanto, a busca de parcerias institucionais capazes de auxiliar na solução de desafios tecnológicos e comerciais de empresas inovadoras é fundamental para o sucesso de programas que buscam fortalecer os encadeamentos produtivos de elevado valor agregado a exemplo da indústria do petróleo.
*Economista, Secretária Executiva do FCP&G