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Causos da Zona do Contestado

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09/11/2015 - por Paulo César Dutra

      Durante os conflitos ocorridos nas zonas limítrofes de Minas Gerais e Espírito Santo, no Norte do Estado, cuja solução final só se deu em 15 de setembro de 1963, ocorreram vários causos interessantes, entre eles, algumas mensagens mal interpretadas. Entre elas, uma que quase termina em derramamento de sangue, no distrito de Alto São José, no município mineiro de Mantena. Essa mensagem foi entendida pelo serviço secreto da Polícia Militar de Minas como uma operação de invasão da Polícia Militar do Espírito Santo às terras mineiras.

       Tudo começou quando uma mensagem radiotelegráfica do Rádio de Campanha do “Quartel General” do Capitão Josias Gonçalves de Aguiar em Barra de São Francisco, Norte do Espírito Santo, na divisa com Mantena, leste de Minas Gerais, dirigida ao Comandante Geral da Polícia Militar do Espírito Santo em Vitória, tenente coronel PM Pedro Maia de Carvalho que foi interceptada pelos espiões mineiros. A mensagem capixaba foi a seguinte: “amanhã, daremos a última taracha  em  Alto São José”.


      A tradução dada ao termo taracha  era de que haveria uma ação de invasão da polícia capixaba no território de Mantena, no dia seguinte (1º de junho de 1948). A mensagem chegou ao conhecimento do comandante do destacamento da PM mineira em Mantena, que mesmo em desvantagem de efetivo, organizou uma cilada para os capixabas e seguiu para o local disposto a impedir a qualquer preço a invasão. A PM mineira entendeu “a invasão” como uma afronta por parte dos capixabas.

      E de fato, ao amanhecer do dia 1º de junho, surgiu no distrito de Alto São José, um destacamento da PM capixaba chefiado pelo 1º tenente Floriano Lopes Rubim. E logo depois o destacamento do tenente Rubim foi reforçado por outro grupo conduzido pelo capitão Florício Santos. Quando a PM capixaba se preparava para a “operação”, o capitão percebeu um movimento estranho da PM mineira.

      Do outro lado, a PM mineira estava entrincheira com as armas apontadas para a polícia capixaba. Porém, o capitão Florício percebeu a tempo que haveria ali um estúpido derramamento de sangue, sem nenhum motivo e por causa de uma informação mal interpretada. E logo houve um diálogo entre os comandantes  dos destacamentos das PMs mineiras e capixabas.

      Não havia nenhuma ocupação e sim, apenas um posto de segurança para a fiscalização da Receita Estadual do Espírito Santo poder atuar na divisa dos estados. O objetivo era de fechar um cerco na rodovia estadual MG -311, de Mantena a Conselheiro Pena, na época era uma estrada de terra batida, a única via de escoamento para o interior de Minas e Espírito Santo. O local era usado pelos sonegadores mineiros e capixabas.

      As honras ficaram para o capitão Florício que com isenção e prudência contribuiu decisivamente para que os soldados capixabas e mineiros deixassem o Alto São José naquele mesmo dia, sem que acontecesse um choque trágico entre as duas polícias, por má interpretação da mensagem. Taracha queria dizer, apertar cerco aos sonegadores de impostos. A ocupação militar no Alto São José por pouco não acaba em derramamento de sangue, desnecessário. Alto São José hoje após o término do conflito e por ironia do destino, não foi invadindo pelos capixabas, mas passou a se localizar do lado do Espírito Santo, no município de Mantenópolis.



Soldados mineiros, em menor número, montaram guarda no Alto São José, na divisa dos estados, 
para se defender da PM capixaba.


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