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A Morte do Major Orlando Desencadeou Uma Série de Execuções

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16/11/2015 - por Paulo César Dutra

        Na manhã do dia 26 de fevereiro de 1967, acordei bem cedo e fui para a praia Grande, no município de Fundão. Meus pais tinham uma casa de praia, em Nova Almeida, na Serra, onde boa parte de colatinenses passavam o verão. Os distritos de Praia Grande e Nova Almeida são separados pelo rio Reis Magos. Por volta das 9 horas retornei para a casa de praia dos meus pais, em Nova Almeida e costumava passar em frente ao bar do “Carlos Bezerra”, que ficava na esquina da rua Paulo Samorini e a avenida Colatinense, que dava acesso à ponte de madeira. Era comum o major Orlando Cavalcanti da Silva ser encontrado no bar, ao lado do caixa, conversando com o comerciante Carlos Bezerra.

        Era um dos últimos dias de fevereiro e as aulas começavam no dia 1º de março (de acordo com o calendário escolar da ocasião). Não havia muita gente em Nova Almeida e só quem morava mais próximo é que estava por lá. As últimas famílias de mineiros haviam ido embora no domingo dia 26 de fevereiro. Ou seja, Nova Almeida estava vazia. Passei na nossa casa de praia, pois estava sozinho lá,  peguei minha bolsa com minhas roupas e fui para a improvisada rodoviária pegar o ônibus das 11h30m pegar um ônibus até a rodoviária da Praça Misael  Pena, no centro do Vitória para pegar o ônibus para Colatina.

        Pouco depois, já na rodoviária esperando o ônibus de Aracruz a Vitória, que passava por Nova Almeida,  vi um alvoroço na rua, as pessoas passando em direção ao bar do Carlos Bezerra, até que uma pessoa disse:“mataram o major Orlando”. Eu fui até lá e vi o corpo dele caído do lado de fora do bar, pois ele ao ser baleado ainda tentou fugir. Voltei para a rodoviária e quase meio dia, sai de Nova Almeida em direção a Vitória.

        A execução do major Orlando aconteceu por volta das 11 horas, daquela manhã. Segundo as investigações e a perícia do DML,  o major foi morto a tiros de revólver calibre 38, com balas envenenadas, pelos pistoleiros profissionais. Eles foram identificados como Fausto Ferreira Santos e Antônio Gregório da Silva, vulgo "Toninho", com a cobertura dos pistoleiros também profissionais Alvaristo Vicente - que, de armas na mão protegia os dois atiradores contra eventuais reações – e o pecuarista Josélio Barros Carneiro, que deu fuga aos executores.

        De acordo com o relatório do coronel Tavares, após o crime, Josélio levou os assassinos para a fazenda sua e de seu pai, José Barros Carneiro, em Baixo Guandu, passando por Linhares e Colatina, chegando lá às 15 horas do mesmo dia. Ali trocaram de carro, passando a usar o jipe da fazenda, e foram os quatro para Itabira, em Minas Gerais, de onde passaram para um Aero Willys, tipo Itamarati, conduzido pelo sargento da polícia mineira - José Berigolli e pelo soldado da mesma corporação, Ruy Teixeira Franco, participantes da trama. Chegaram a Belo Horizonte onde foram recebidos por Noé ou Noel Nogueira, outro mandante do crime.

        Diz o relatório que Josélio e seu pai provavelmente tendo desconfianças passadas "sobre o major Orlando", receberam incumbência do tenente José Scárdua (que dividia com Orlando o Sindicato do Crime em duas facções) e de Noel Nogueira para matá-lo. Josélio estava no Rio e lá recebeu a tarefa. Voltou ao Estado e procurou o sargento da polícia de Minas Gerais, José Berigolli e mandou Alvaristo Vicente que já trabalhava para os Barros procurar dois pistoleiros. Ele contratou dois profissionais: Fausto Ferreira Santos e Antônio Gregório da Silva, também chamado de Toninho, ambos com fama em Governador Valadares.

        De acordo com o relatório da investigação do crime. Josélio preparou o plano com rapidez. Todos os minutos foram contados, todas as hipóteses aventadas. Entraram no plano: Luiz Gonzaga Madalon, de Colatina, e o coronel Jadir Rezende. Neste momento criava-se um verdadeiro exército, com proteção de retaguarda, turma de frente e logística. Aderiram ainda Arlindo de Almeida, o "Arlindo Pedestre". Décio Gonçalves e Alaor Braga, que juntamente com Madalon faziam o que o coronel Tavares chamou no relatório de "parte de ligações e comunicações".

        No seu relato, Tavares descreveu que Madalon continuou recrutando mais gente: Ailton Santos, vulgo "Ailton Gaguinho" que se associou ao soldado Francisco Macário. O coronel Jadir indicou a Josélio dois ex-Pms Algentil Nascimento e Joaquim Gonçalves, pertencentes ao destacamento de Nova Almeida. Depois chegaram ainda o farmacêutico Olímpio Andrade e o pescador Edu, ambos de Nova Almeida. A rede estava formada. Era a conspiração para matar um homem: o major Orlando. 

      Fausto, o pistoleiro de Governador Valadares, a quem caberia a execução, foi enviado para Vitória, para hospedar-se no "Dormitório Ipanema". No dia seguinte foi apresentado ao soldado Macário, que teria a missão de apontar Orlando, segundo o relatório da polícia. Segundo Tavares, durante dias Macário e Fausto andaram pelas ruas de Vitória, primeiro para estudar as saídas da cidade: a ponte que liga a ilha a Vila Velha; a ponte que liga a Ilha a Camburi, passando pela Praia do Canto e a ponte da Passagem, diretamente ligada a estrada que leva a Colatina, Linhares, São Mateus, Sul da Bahia; depois para Fausto conhecer o major Orlando. 

        E várias tentativas foram feitas em Vitória, sem êxito. No dia de domingo, 25 de fevereiro de 1967, Josélio chegou em Vitória, juntamente com Toninho, Alvaristo e Algentil, para conversar com Fausto. No dia seguinte, 26 de fevereiro, eles foram para Nova Almeida executar o crime, pois sabiam onde o major estava. Em um dos apartamentos no prédio do bar do “Carlos Bezerra”.

      Este seria o momento inadiável para o crime, pois Nova Almeida estava deserta. Às 11 horas da manhã de terça-feira, o major Orlando se dirigiu ao balcão, ao lado do caixa do bar, onde era esperado por Fausto e Toninho, segundo as investigações da polícia. Os tiros, 15 ao todo, foram certeiros e irremediáveis. Josélio e Alvaristo lhes deram proteção e fuga aos pistoleiros. A partir dessa data foi desencadeada uma série de execuções no Espírito Santo e em Minas Gerais, todas ligadas à morte do major Orlando.

        O chefe de Polícia na época, José Dias Lopes, irmão do governador Cristiano Dias Lopes, fez uma investida contra o banditismo e o "Sindicato do Crime" que, segundo contavam, tinham até folha de pagamento na qual estavam advogados da capital para defender pistoleiros. Só que os grupos estavam divididos. Os “coronéis” Paiva, Antônio e João Pinto eram ligados ao major Orlando. As famílias Barros e Scárdua, que eram inimigas do major Orlando tinham sofrido atentados, que segundo as investigações, mandados pelo Cavalcanti. Scárdua chegou a escapar de uma emboscada cuidadosamente preparada.

      Até que 1969,  a pedido de José Dias Lopes e com a intervenção do senador Raul Giuberti e do deputado federal Dirceu Cardoso houve uma reunião, no escritório do advogado José Andrade da qual participara: o coronel Aristides Pereira Martins, Odilon Milagres, Carlyle Passos, Manoel Paiva, Pedro Ribeiro, José Ceglias Barbosa, José Andrade, Antônio Pinto e Renato Paiva. Lá foi feito um pacto de honra, uma trégua que trouxesse a paz. Todos se comprometeram a entregar as armas, encerrar os crimes, levar a tranquilidade no Estado. 

     Durante dois anos a paz reinou. Durante dois anos viveu-se uma ilusão, de que um crime não gera outro crime, que gera outro crime, e assim indefinidamente. Porém na manhã do dia 3 de fevereiro de 1971 o tenente Scárdua foi assassinado numa barbearia na Rua São João, na Vila Rubim, em Vitória, acabando com a trégua das facções do Sindicato do Crime. De acordo com informações, a última vítima do sindicato foi o ex-prefeito de Pancas, Jacob Laurindo, em 1979.




Distrito de Nova Almeida – Serra-ES onde o major Orlando foi executado em 1967



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