Que semaninha! Prezado leitor, há momentos em que os assuntos são tantos e todos tão importantes, que fica difícil escolher apenas um para o nosso encontro semanal. Vocês já devem ter percebido pelo título, que os tons são da extremidade quente do arco íris e das notícias repetidas indefinidamente pelos grandes veículos de comunicação. Vamos tentar outros olhares para a mesma massa de acontecimentos?

Totalmente enlameados proclamamos hoje a nossa república! A vida imita a arte e a arte imita a vida, não é isso? Pois o desastre de Mariana-MG foia materialização da lama que escorre languidamente a partir do Planalto Central. Ainda não sabemos quanto barro mole e suas toxinas estão prestes a vir à tona. As Câmaras de gravatas de grife digladiam-se escondendo peitos que não podem ser postos à mostra. Cunha-se um capítulo de retrocesso da história da nossa pátria gentil. 

Falta água em Governador Valadares, que abriga minha irmã Vasthi. Mas o que falta mesmo é vergonha na cara dos que se colocam à frente da coisa pública jogando-nos na sua privada.

O Bataclan é um mar vermelho. O azul e o branco, que completam a dignidade do povo irmão da França, neste momento grave são meros pontos de interrogação. O que leva um jovem a disparar-se a esmo na ponta de uma AK-44? Que sofrimento profundo o leva a tornar-se bomba e explodir seus sonhos numa avassaladora onda de destruição em massa de tantos outros sonhos? O que torna díspares e irreconciliáveis os sonhos de lá e de cá? 

Alguma coisa(muita) está fora da ordem, como canta o Caetano! Quem vai montar o quebra-cabeça dos estilhaços para ver a imagem do responsável por tanta selvageria? Que razões alimentam as disputas que nossa vã filosofia shakespeariana julga perceber? Não fico escandalizado apenas com os fato se artefatos de tanta violência, mas com a passividade dos leitores de manchetes e condutores planetários de nossas mentes.

Por fim, fui degustar um suco puro da Laranja Mecânica num evento da Firjan. A Holanda é um país onde 60% da sua população vive abaixo do nível do mar. Seu território é equivalente ao do estado do Rio de Janeiro. No entanto é uma potência mundial exportadora de know-how, enquanto nossa lama esconde um Brasil exportador de commodities há cinco séculos. É de se admirar essa pátria amiga educadora em que a matéria prima de sua riqueza é a informação. Dos seus diques seculares e da sua exigüidade territorial nasce o saber para lidar com a sustentabilidade do nosso planeta, explodem técnicas de manejo da água e atira-separa todos os lados rajadas de conhecimento das suas empresas voltadas ao bem-estar das futuras gerações.

Verde, amarelo, azul e branco. Comparativamente, 60 % da nossa população vive abaixo de que nível? Ah! Cada um de nós precisa urgentemente apoderar-se do seu pincel cidadão e comprometer-se em pintar a aquarela do Brasil que queremos deixar como legado para nossos descendentes. Ou então, aguardar o escândalo das próximas manchetes lidas na banca de jornal e correr para ouvir as últimas piadas, enquanto degusta um pingado na padaria da esquina.

Foto 1: do autor, rua do Rio de Janeiro

Foto 2: Bandeira enlameada, recolhida na Internet