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Dá-me Um Abraço

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30/11/2015

Por: Nancy Araújo de Souza

        Sempre achou o Face aquela coisa estranha. No início não sabia o que era, nem tinha interesse em conhecer. Por certo, já ouvira falar, mas não pretendia ter uma página ali, jamais. Nutria por ele até certa antipatia. Achava uma falta do que fazer alguém sentar-se diante de um computador ou usar o telefone celular para mandar e receber mensagens usando o teclado. Telefone é muito melhor, a gente ouve a voz, sente a respiração, ri e também ouve risada, através da voz pode imaginar a pessoa que está do outro lado quando não é conhecida. A voz algumas vezes surpreende. Há histórias de quem chegou a se apaixonar por uma voz e depois se decepcionou ao conhecer a quem pertencia. Para ela, o melhor era conversar pessoalmente, olho no olho, podendo notar as reações ou pelo telefone. Nada de ficar teclando, pois ali tudo pode ser irreal.
 
        Quando a filha comunicou que estava criando no Face uma página para ela manter contato com amigos, ficou nervosa, disse que não queria e não iria usar aquilo. Já tinha um e-mail e isso era suficiente. Só aceitou a novidade porque a filha explicou que pelo Face poderiam se comunicar com mais facilidade quando ela viajasse, o que fazia com frequência ultimamente.
   
       Achou bem complicado, mas aceitou a novidade. Depois de algum tempo e muitos erros já conseguia passear por ali. Apenas passava rapidamente e achava aquilo uma doideira, as pessoas mandavam orações, santinhos, novenas, corrente com ameaças a quem a quebrasse, faziam comentários engraçados, transmitiam recados, colocavam fotos, textos de jornais, compartilhavam blogs, etc. e ela ali só lendo e achando muito engraçado.   

        Viajou, ficou fora um bom tempo e se comunicava com a filha diariamente. Gostou da  facilidade. Adquiriu o hábito de entrar no Face depois de olhar os e-mails toda manhã. Certa tarde, levou um susto quando passava por ali lendo tudo, quando alguém postou uma pergunta que parecia ser dirigida a ela : “Quem é você que passa por aqui e não se comunica? Você é espião?” O susto foi enorme. Então o simples fato de passar por ali era do conhecimento das pessoas? Mesmo  não se manifestando todos sabiam que ela estava por  ali? Ficou sem saber o que fazer. Procurou saber e foi informada de que devia “curtir” ou comentar as mensagens. Assim fez na mesma hora. Curtiu e enviou uma mensagem dizendo que era iniciante, pedia desculpas e mandava um abraço. Foi o primeiro abraço via Face.
 
      Alguns dizem que o Face vicia. Ela acha difícil, é muito vaidosa para se deixar  dominar.  Reconhece que perde um pouco do tempo que antes dedicava à leitura de livros, entretanto procura dividi-lo de maneira sensata. Não é fácil porque muitas vezes se distrai e quando percebe...

       Passou a abrir sua página Face mandando abraços após os cumprimentos e comentários diários. Esqueceu a timidez e confessou que adora abraços. Os amigos gostaram e passaram a comentar os abraços e a enviá-los também. Hoje lhe enviam letras de canções que falam em abraços, poemas, textos e alguns a chamam de “ a que adora abraços”.Até amigos de outro continente  mandam seus abraços retribuindo os que ela envia.

     Pelo Face, reencontrou, conterrâneos, amigos, conheceu outros e tem um abraço para cada um. Só se  aborrece quando os desconhecidos, amigos de amigos, de amigos, que aparecem em sua página trazidos por  amigos de amigos, de não sei quem, usam o espaço com palavrões, e grosserias sem a menor cerimônia.. O pior é quando trazem políticos daquele partido…Ela pede que não apareçam mais, explica que não são bem-vindos porém, procura dispensá-los de forma educada, sem agressões.
 
       Quando os trágicos acontecimentos em Mariana e em Paris a deixaram desconsolada, chorosa e um tanto descrente na humanidade foram abraços especiais que a reanimaram. Algumas vezes abriu a página com a intenção de pedir um abraço revigorante para começar o dia, mas nem precisava, ele estava lá na forma carinhosa de uma foto de criança sorridente com os braços abertos, ou de flores, de borboletas, um gatinho, ou cachorrinho com a legenda “abraços”, essas coisas que parecem pequenas mas são muito grandes no conteúdo. 
 
      Com o tempo  familiarizou-se com o Face, ainda comete erros, passa vergonha mas está ali diariamente. Cada vez que abre a página, lacônica, em dia sem sol, os amigos já sabem que ela está pedindo “Dá-me um abraço”...  

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