Alá-lá-ô-ô-ô-ô-ô-ô_ô. O carnaval chegou. É o tempo da alegria, da felicidade, da liberdade, do descompromisso, do ninguém é de ninguém, dos amores fortuitos, e vamos todos aproveitar que são só três dias. Em alguns lugares dura uma semana, em outros quase um mês, mas como tudo que é bom dura pouco, um dia acaba e é preciso tirar a fantasia, ou vestir a fantasia segundo os pessimistas, talvez realistas e voltar à rotina, cada um ao seu bloco diário
Nesses dias de folia as ruas, praças, e os bares, ficam cheios de gente alegre, sem identidade, sem relógio, se permitindo tudo aquilo que o carnaval oferece, pois não existe pecado do lado de baixo do Equador. É preciso esquecer a vida diária, a falta de dinheiro, o patrão chato, o marido ciumento, a enxaqueca da mulher, a briga com o namorado e sair de casa cantando “Este ano tá combinado, nós vamos brincar separados” ou então “são três dias de alegria e brincadeira, você pra lá, eu pra cá, até quarta-feira...”
Mas o retorno à realidade se impões e “...quarta-feira sempre desce o pano...” Três dias, ou mais vividos na fantasia e não é fácil enfrentar o mundo real : a mesma família, os mesmos problemas o mesmo patrão, ou a fila em busca de emprego, o namoro desfeito, a falta de dinheiro, as dívidas. ” Carnaval, desengano, deixei a dor em casa me esperando...” A realidade é dura, mas aos poucos tudo se ajeita e é bom pensar que no próximo ano tem mais.
O importante é sair e cada um encontrar a sua turma, o seu bloco. Há blocos para todos os foliões; mas quem não quiser aderir ainda pode sair no “bloco do eu sozinho” até encontrar companhia, o que não é difícil. No carnaval há sempre alguém carente procurando alguém disponível. Só não se arruma quem não quer.
Os blocos vão enchendo as ruas com marchinhas alegres. O grupo de políticos vai cantando a sua preferia “ei você aí me dá um dinheiro aí, me dá um dinheiro aí” seguido por uma multidão com nariz de palhaço a lhe fazer coro além de pagar as bebidas, as serpentinas e os confetes que eles derramam sobre foliões bajuladores.
Outro bloco também muito cortejado é o dos “nem-nem” não trabalham nem estudam, mas recebem ajuda para fazer número no carnaval, geral-mente uma sacolinha com tubaína e sanduíche de pão com mortadela. Ás vezes ainda recebem algum dinheiro e vão cantando muito animados” Ora bolas, não me amole com este papo de emprego, o que quero é sossego, eu só quero sossego”
O bloco dos sujos costuma fazer muita gente torcer o nariz e se afastar à sua passagem, mas os participantes não dão confiança, carregam a alegria de poder participar desta festa a que antes não tinham direito, porque era reduto da elite, cantando bem alto e desafinado “Olha o bloco dos sujos que não tem fantasia, mas que traz alegria para o povo cantaaaaaar...”
O bloco mais festejado é o dos artistas seguido por bando de fotógrafos e milhares de fãs pedindo autógrafos e fazendo “selfies” com os mais simpáticos e menos conhecidos, aspirantes a celebridades. Ás vezes os seguranças precisam intervir pondo ordem na confusão, porque alguns famosos não gostam que suas roupas sejam rasgadas e levadas como lembrança. Cantam com os seguidores que quase se esgoelam berrando “Ô abre alas que eu quero passar...” enquanto os seguranças delicadamente afastam os populares.
A esquerda-caviar bronzeada e alegre, se contrapondo ao bloco dos sujos, é acompanhada por centenas de foliões que se empurram tentando maior aproximação. Entra na folia com suas roupas de grife, aspergindo perfume francês sobre o povo, que quase se mata na disputa por um lugar melhor, enquanto canta “Vai passar nesta avenida um samba popular...”
Os foliões se divertem, felizes, sem confusão e os blocos vão passando distribuindo alegria e esperança em dias melhores e, até quem está um pouco desanimado e desesperançoso, consegue esquecer por algum tempo, seus dissabores e se não participa, pelo menos chega à janela para aplaudir.
A festa transcorre pacífica, sob o olhar dos policiais cujo bloco está por perto, de prontidão e se não aparecerem aqueles mascarados que atiram pedras, depredam patrimônio público e incendeiam ônibus, na quarta-feira o carnaval termina em paz. Quando amanhece, surgem os bêbados que não encontram o caminho de casa, foliões felizes com seus novos amores, outros infelizes porque perderam os seus, gente sem lenço e sem documentos, alguns sem saber o que explicar em casa, mas todos pensando no próximo ano.
É difícil alguém ficar indiferente ao carnaval. Algumas pessoas o consideram coisa do demônio, que faz as pessoas perderem o juízo e nesse caso o melhor é procurar um lugar bem distante, fazer um retiro espiritual e rezar pedindo a Deus para que as afaste dos perigos do carnaval, porque ficando por perto, o pecado é certo, ninguém resiste.
No carnaval é bom estar com amigos, conhecer pessoas legais, cantar, beijar quem se ama, fingir que não tem juízo, mas nunca esquecer que cada um é responsável por seus atos. Carnaval deve ser alegria. ”Carnaval esperança que gente longe viva na lembrança, que gente triste possa entrar na dança, que gente grande saiba ser criança ”, la,ia,la-,a, la,ia,ia.ia
E vamos pra rua com muita alegria, participar da maior festa brasileira