Pretendia escrever algo bem leve. Talvez uma história engraçada sobre o carnaval, mas não tomei conhecimento da folia. Fiquei em casa lendo, escrevendo e vendo filmes interessantes. De vez em quando o telefone me punha em contato com alguém. Saí de casa apenas uma vez para caminhar. Sobre a festa, soube apenas o que o jornal e os telejornais mostravam, mais nada. Posso jurar que nunca ouvi a tão falada “metralhadora”, que parece ter sido o grande sucesso do carnaval. Deus me poupou.
Também não soube, até o momento, qual a classificação da Portela, minha escola do coração, no desfile do Rio. Assim, a intenção de escrever sobre o carnaval foi por água abaixo, mas por sorte não foi água barrenta.
Estava sem motivação, quando a mulher apareceu botando a boca no trombone, quer dizer, no microfone e espalhou pelo mundo uma história que já era razoavelmente conhecida, com exceção dos detalhes sórdidos que ela, então, fez questão de relatar. Os olhos e ouvidos se voltaram para a desconhecida que entrou em nossas casas sem fazer cerimônia, tornando-se o assunto do momento, substituindo para alegria do governo a operação Lava Jato, o triplex sem dono no Guarujá e o sítio de amigos com vasta plantação de laranjas em Atibaia.
Muitos dizem que a mulher é corajosa, não teme os poderosos. Para outros não passa de uma aventureira. Então começam as generalizações. Eu não faço juízo de valor, mas o assunto me leva a pensar nas mulheres da minha geração e tenho que afirmar que nem todas as mulheres são iguais, da mesma forma que nem todos os políticos são iguais como alguns pretendem nos fazer crer.
“Que uma mulher pode nunca nada, isso eu já sei. É o grito da dona moral todo dia no ouvido da gente”. Quando Gonzaguinha escreveu esta canção, parece que ironizava para mostrar que apesar das dificuldades, da falsa moral masculina a mulher pode o que quiser, e é dona do seu destino Conforme os padrões definidos pelos homens, assim viveram as mulheres, até a metade do século passado, penso que até a segunda guerra mundial. Nós que nascemos no pós guerra tivemos a felicidade de encontrar caminhos desbravados por mulheres corajosas que nos mostraram o quanto podíamos, inclusive, desobedecer e desafiar normas antiquadas que não nos convinham mais.
Experimentamos novidades com as quais nossas avós e mães nunca haviam sonhado, mas dentro do possível elas nos deram apoio. Em todos os aspectos a vida nos foi e é bastante favorável. Ainda lutamos contra alguns preconceitos, mas nos saímos bem porque sabemos o que queremos e lutamos com garra para alcançar nosso objetivo, sem dever nada a ninguém.
Quando nascemos, as mulheres já votavam porque algumas lutaram e conquistaram esse direito para todas. Hoje, nenhuma mulher se casa por obrigação. Ninguém escolhe nossa profissão, ninguém nos diz o que devemos fazer, não aceitamos regras impostas nem cerceamento da nossa liberdade. Ficamos atrevidas, dançamos o rock, conhecemos cedo a pílula anticoncepcional, não precisamos nos casar com o primeiro namorado, nem com o primeiro homem que amamos, nem ficamos amarradas em um casamento infeliz, estudamos, trabalhamos, entramos na política, pedimos Democracia e “Diretas Já”, criamos filhos sozinhas, pagamos nossas contas e temos orgulho disso. Continuamos cantando com Gonzaguinha “ e meu caminho eu faço, nem quero saber que me digam desta lei” Somos assim!!! Somos demais!!!
O que causa tanto espanto quando uma mulher vem a público mostrar sua amargura, sua infelicidade, seu desencanto por ter se relacionado com um homem considerado no mundo inteiro um grande intelectual, um estadista invejável? Difícil dizer… Será que o amou? Será que ama o filho que expôs ao mundo num momento de rancor, de mágoa de revolta? O que pretendeu com esta atitude? Cada um pense o que quiser. Eu não perco meu precioso tempo... Aliás estou perdendo tempo escrevendo sobre esta história que acho triste. Lembro como termina a canção “e por isso prossigo e quero e grito no ouvido dessa tal de dona moral: uma mulher só não pode deixar é de ser, de fazer e acontecer”. Linda frase para terminar a canção.
Acho que no século XXI, como em qualquer época, a mulher quis e ainda quer mesmo é ser, fazer e acontecer, ser feliz, responsabilizar-se por seus atos, inclusive aqueles dos quais se arrepende, e ir em frente, sem prejudicar ninguém. Viver sem mágoas, sem ódio, acreditando que todas as experiências trazem algo bom, sejam lembranças de momentos felizes, seja a possibilidade de viver bem na Europa, criando o filho “longe deste insensato (Terceiro) mundo”, seja o apoio financeiro de alguém que pode ou não ser o pai do filho. Algumas dessas essas coisas muitas mulheres dispensariam por amor-próprio e por achar que mais vale se preservar e preservar um filho do que fama e todo o dinheiro do mundo.
Não faço aqui defesa de tese nenhuma, apenas expresso meu pensamento esperando não ter ofendido quem pensa ou age de maneira diferente.