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03/03/2016




“Pensem nas crianças/mudas telepáticas...” Assim, Vinícius de Morais nos convidava a refletir, em Rosa de Hiroshima. 

Hoje, na cidade do Rio de Janeiro, realiza-se uma das últimas eleições para condução dos novos Conselheiros Tutelares. Cidadãos que se candidatam para defenderem as crianças e os adolescentes de toda sorte de arbitrariedades, abusos e abandonos. Provavelmente na sua cidade os eleitos até já tomaram posse para o mandato de 4 anos, no final de 2015.

Na última sexta-feira, na aula de Cidadania, lembrando aos alunos dos projetos da Escola de Talentos deste compromisso cívico, propus um exercício: Perceberem o nível de sensibilidade frente às imagens cotidianas de pessoas morando nas calçadas e,principalmente, das crianças, muitas delas envolvidas com o crack, substituto da cola. Esta é a realidade da nossa vizinhança.

Nos transportes coletivos a cena mais frequente é de pessoas cabisbaixas hipnotizadas pelos seus celulares. Curtem, riem, cantam, fazem cara feia e compartilham o mundo paralelo, onde se exilam. “Nas janelas vê-se o Corcovado” distante, ao fundo. E, entre infinitas obras a terminar, encontramos um cenário de miséria humana avolumando-se, abandonado à sua própria sorte. Crianças dependuradas, crianças pedindo esmola, crianças vendendo trecos, todas longe da escola, crianças desorientadas. Estamos nos distraindo voluntária ou involuntariamente? Será sensação de impotência frente aos desmandos dos poderosos?

Na mesma sexta-feira, eu voltava para casa à noite, quando dois vendedores de doces se engalfinharam, caindo sobre mim, enquanto o ônibus trafegava à toda. O mais alto e forte reclamava da invasão de mercado do outro. Retirou uma pedra do bolso e ameaçou o mais franzino. Este, numa reviravolta ágil, tomou a pedra, derrubou o Golias e, tal qual Davi, atingiu o gigante com várias pedradas que nos deixaram perplexos. O outro ficou com o rosto desfigurado. Logo pensei nas crianças que estes dois adultos foram. Que lições receberam, ou não? Que exemplos seguiram para tornarem-se esses brutos? 

Quando falamos em violência pensamos diretamente na agressividade expressa em atos e palavras proferidas aos berros. Mas, a sutileza também camufla beliscões na alma, tapinhas na consciência, caroços de milho de imposições e convenientes silêncios impostos – sem distinção de endereços ou nível social. 

Não dá para desviar o olhar! 

Foto: do autor – minha casa, minha vida- Rio de Janeiro.


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