Por Dilermando Teodoro*
Com o acirramento da crise política, acusações, desculpas, considerações de ambos os lados e tudo que insistentemente tem sido divulgado pela mídia nacional nos últimos dias. As expressões “Não Vai Ter Golpe” e “Impeachment Já” tem intoxicado, congestionado meu subconsciente, a ponto de ter provocado em mim, um dos mais absurdos “pesadelos” que tenho lembranças - sonhei que havia idealizado e chefiado um violento “Golpe de Estado”, que passo a narrar em seus mínimos detalhes:
Para que houvesse sucesso, convoquei e formei uma Força Revolucionária denominada “Força Democrática Revolucionária” compostas por “justiceiros, jagunços, pistoleiros da divisa dos estados de Minas Gerais e do Espírito Santo” aos quais passo a nominá-los: Coronel Bim Bim – João Pacheco – Nico Imidio – Zé Scardua - Altivo Chixas – Fizim e Niculau Rodriges – Ampulino - Tião da Amália – Chico Branco – Anjo Sabino – Nenêm Nova Vida – João Goiano – Alfredão – Nego Hilário – Tião Manco – Oliveirinha Mata Quatro – Baiano da Boca - todos já passaram desta para outra, demonstrando o tamanho e absurdo pesadelo.
Partimos de um ponto imaginário, eu chefiando a macabra expedição, portando minha “Garrucha Calibre 44 de dois canos – marca Henrick Laport, muito bem conservada – uma raridade, montado em meu burrinho “Calendário” calçado com ferraduras novas, porque a viagem seria longa e penosa, acompanhados pelos demais comandados, também montados, com destino ao Planalto Central, alvo de nosso objetivo.
No cargueiro - cozinha, levávamos provisão para viajem – Carne de lata de porco caipira, farinha de mandioca, e um fornido corote de uma boa cachaça mineira. Planejamos marchar sobre a Capital Federal – Brasília, ao amanhecer. Estacionamos e amarramos nossa tropa no mastro da Bandeira Nacional, na Praça dos Três Poderes, aguardando a presidente chegar ao Palácio do Planalto. E, demos início ao “Golpe de Estado”, rapidamente a Guarda palaciana foi dominada e diante dos argumentos irrefutáveis, aderiram à revolução em curso.
Alguns revolucionários postaram se na entrada e outros me seguiram até o quarto andar onde está o Gabinete Presidencial. Dei um leve toque na porta anunciando a nossa chegada e adentramos ao gabinete, encontramos a presidente entretida em suas escritas tão confusas como as minhas – exemplo: “ não fixaremos metas mas, quando as metas forem atingidas, dobraremos as metas”...coisas desse tipo!
Saudei-a com uma reverencia de praxe de um revolucionário civilizado, com um aperto de mão, entregando-lhe um botão de rosa que havia colhido no jardim do palácio. Jamais cometeria um ato de violência contra a presidente, principalmente sendo ela uma mulher, parafraseando um gaiato também revolucionário meia tigela de uma “Ditadura bananeira” do Caribe que disse: “Temos que endurecer, porém sem perder a ternura jamais”.
Li uma pequena Nota Oficial Revolucionária, onde relatava a sua destituição de Chefe do Poder Executivo da nação brasileira. Nota esta, ditada pelo competente “Ghost Writer” Mané Rapaiz , escrita por alguém letrado do bando, posto que o referido senhor é analfabeto, mas muito bom em improvisos retóricas. A destituição concluída sem maiores problemas, determinei a um dos revolucionários, que acompanhasse a ex-presidente até a saída do Palácio, ajudando-a, em seus pertences pessoais.
Atravessamos a Praça dos Três Poderes, fomos até ao Congresso Nacional, dois ou três tapas nas orelhas e alguns chutes no traseiro foi o bastante para destituir o presidente da Câmara dos Deputados. Rápidas considerações aos nobres e respeitáveis deputados, dissolvendo-a, dizendo ainda que a partir daqueles momentos, sobreviveriam com o trabalho e o suor dos seus rostos, em suas atividades profissionais.
No Senado, houve uma pequena resistência, tão logo houve uma ameaça de confisco da exuberante cabeleira do presidente, implantado com recursos públicos, não houve maiores problemas. Estava assim dissolvido, definitivamente o Congresso Nacional, mas faltava ainda o Supremo Tribunal Federal. Educadamente ponderei às Vovós e Vovôs que não mais seria necessário os seus préstimos de guardiões da Constituição Federal, até então vigente, ela acabara de ser rasgada e queimada.
Uma nova Constituição seria editada, aprovada, com poucos artigos, avocando para mim todas as prerrogativas de fazer e desfazer, preceitos e direitos legais, contida na nova Democracia Revolucionária, que hora acabava de sem consolidada no país. Se necessários Atos Institucionais seriam por mim editados, no sentido de aperfeiçoá-la a minha maneira de governar a nação. Portanto deveriam retornar ao aconchego de seus lares, vestirem seus pijamas e seguirem suas rotinas diárias, cuidando de jardins, netos, escrevendo memórias e amenidades etc. etc. e tal.
De volta ao Palácio do Planalto, agora sede da bem sucedida “Revolução Democrática” todos os revolucionários foram condecorado com a comenda máxima do “Patriotismo” e promovidos a Oficiais Superiores. A nova Constituição Federal, só contemplara um único partido político, o PUS – Partido Único Soberano e terá eleições livres e democráticas de dez em dez anos, apenas para Presidente da Republica, concorrendo apenas um candidato, não sendo computados na apuração dos sufrágios, os votos nulos e brancos e, se identificados os eleitores, punidos severamente, respeitando os preceitos legais da Constituição. Demais cargos serão nomeados e destituídos se assim for o caso, pelo mandatário máximo, democraticamente eleito pelo povo, através do sufrágio universal – o voto.
Para a manutenção da “Ordem Publica e paz Social” o Estádio Nacional Mané Garrinha, será transformado em Cadeia Publica, onde serão encarcerados todos aqueles que por ventura venha desobedecer às leis vigentes, sendo sumariamente julgados e condenados pela autoridade máxima ou por ele designado.
A residência oficial da autoridade máxima da Revolução será o Palácio da Alvorada, sendo destinado à amante, o Palácio do Torto, posto que é “Causa Pétrea” o direito e dever do Presidente possuir duas mulheres, como constatado nos últimos Governos de FHC e LULA.
De repente, acordo assustado, atordoado, apavorado, com o barulho infernal da televisão, minha mulher havia acabado de ligar e, eis que ouço um bando de raivosos defensores da presidente, dentro do Palácio do Planalto, onde ela proferia um pronunciamento, gritando: ... Não haverá Golpe!.... Não haverá Golpe!... Não haverá Golpe!...
Meu cérebro levou alguns segundos, para digerir tudo que havia e estava ocorrendo, um pesadelo “dusdiabos” e agora aquela gritaria “dusinfernos”
Fiquei ainda deitado, “matutanto” por um tempo, sobre o que verdadeiramente é um “Golpe de Estado” e a derrubada de um governo eleito democraticamente pela maioria absoluta dos votos e, o que é um “Impeachment” de um presidente. Conclui que o primeiro é realizado na marra, com truculência, sem o mínimo respeito às instituições e observância ao Estado Democrático do Direito, enquanto a segundo está contido na Constituição Federal vigente, e terá que ser seguido no todo, que nela prevê e, que tanto o Congresso Nacional, como o Supremo Tribunal Federal, tem sob suas responsabilidades não permitirem que seja ele deturpado, vilipendiado, adulterado, estuprado em sua legalidade.
Quanto aos supostos revolucionários do meu “macabro pesadelo”, se religioso fosse, mandaria rezar uma missa, um culto em prol destes espíritos errantes. Quanto a mim, vou procurar meu “Pai de Santo” de confiança, fazer um descarrega de sal grosso e tomar uma sova de cansanção brabo e ortiga preta pra que jamais tenha outro pesadelo tão radical, afinal sou de paz e entendo que onde não houver Democracia, não haverá vida inteligente, melhor conviver com erros, defeitos e distorções, do que em uma Ditadura onde a escuridão é absoluta e eterna enquanto durar...
Fazenda Santa Fé do Mutum – Março 2016 – Município de Ariquemes- Rondônia.