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Festas do Interior

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29/07/2016 - por Nancy Araújo de Souza

É difícil não se saudosista quando visitamos nossa cidade no interior. Quem nasceu e viveu alguns anos em cidade pequena guarda lembranças bem diferentes daquelas das pessoas das grandes cidades. Não há como fazer comparações pois crianças se divertem de qualquer maneira em qualquer lugar seja visitando zoológicos, grandes parques, frequentando clubes e cinemas nas cidades grandes ou brincando na rua, soltando papagaios fabricados por elas, subindo em árvores, nadando nos rios escondidos dos pais, fazendo arapucas, etc. no interior. 

 Quem teve a experiência de viver a infância no interior conhece todas as dores e as delícias de uma vida tranquila, sem muitas preocupações, que isso era coisa para adultos. Nenhuma criança dava importância aos dois partidos políticos adversários, ou inimigos PSD e UDN que se enfrentavam nas urnas e nas ruas em afrontas e ameaças que às vezes causavam mortes. Criança não tinha partido tinha amigos de qualquer facção, de qualquer raça, cor e classe social. Se os pais quisessem proibir amizades, o que não costumavam fazer, não  adiantaria porque a escola era uma só, uma só praça, uma igreja católica e o rio onde todos nadavam era o único. Todos se misturavam nas brincadeiras. Os pais que se virassem nas suas teimosias e inimizades.

Acredito que nas pequenas cidades as festas deviam ser bem semelhantes: aniversários, festas escolares, religiosas, sobretudo as do mês de maio quando as meninas vestidas de anjo coroavam Nossa Senhora. O sete de setembro também era importante pois o desfile apesar de pobrezinho, levava para as ruas todas as famílias para verem seus filhos passarem marchando, as vezes fora do compasso, mas muito compenetrados porque as professoras eram exigentes. A bandinha que comandava o desfile era um elemento da maior importância na cidade comparecendo a todas as festas  com seus dobrados muito bem ensaiados.

 No Natal havia a Missa do Galo. As procissões religiosas eram um espetáculo especial. Enfileiradas por categorias  as pessoas participavam com suas lanternas coloridas feitas de bambu e papel de seda que davam um colorido especial às duas fileiras :na frente as crianças do catecismo e  da Cruzadinha, seguidas pela Filhas de Maria, as senhoras do Apostolado da Oração e por fim os homens Congregados Marianos e os demais. Entre as duas fileiras os andores com os santos, enfeitados por muitas flores, levados  por pessoas de destaque e os estandartes  também levados por crianças e jovens. Todos cantavam as músicas sacras da ocasião. E a procissão ia “se arrastando como cobra pelo chão” e era uma coisa linda de se ver, nas cidades onde prevalecia a religião católica.

Com o passar dos anos as cidadezinhas  foram se modificando, é natural, passaram a  assumir hábitos novos abandonando os antigos, o que é triste. A imitação das cidades grandes tira das cidadezinhas o seu aspecto natural. As festas são outras, os políticos dão o tom e a grana para os eventos e tudo se transforma. A proliferação das igrejas e a modernização da Igreja Católica  contribuíram enormemente para isso.
 
É provável que não exista, hoje em dia, uma pequena cidade sem um ginásio poliesportivo construído por um deputado e suas emendas parlamentares. E fica lá a placa com o nome do tal pra ninguém, esquecer. Isso contribui para sua reeleição. E os modernos Parques de Exposição Agropecuária? Durante  uma semana no ano a cidade se transforma em algo inimaginável para quem nunca participou da festa. São rodeios, shows, gente vinda de todo o país para montar suas barracas e vender qualquer coisa. O comércio aproveita para esquecer a crise pois todos precisam de roupas novas, calçados, botas, chapéus, porque a ocasião exige. Os hotéis ficam lotados, famílias abrem as residências para recepcionar  parentes  e amigos  e haja muita carne para churrasco e cerveja  para tanta gente. 

Ninguém se importa se a cidade está com os rios poluídos, se não tem saneamento básico, se faltam médicos nos hospitais e vacinas nos postos de saúde. O importante é a festa anual que rende votos e torna a cidade conhecida e algumas vezes conhecedora da violência que acompanha tais eventos com tantos estranhos circulando por ali. E o barulho infernal? E a moda de carros que disputam quem tem o som mais alto, com os jovens ao redor dançando e bebendo, alguns até cair…

E a música? Trios elétricos infernizam a cidade com o barulho de ensurdecer… É a modernidade, todos dizem e eu sei. Quem não gosta está por fora, é antiquado como eu. Como gosto de encontrar pessoas para conversar, ouvir boa música  e atualizar os assuntos com quem não vejo há anos não fico feliz em locais onde o som tão alto não permite isso. O que fazer? Ficar em casa, ou procurar  lugar bem distante dos tais eventos…

Ontem, deixei de encontrar amigos porque  a programação incluía um uma reunião na praça principal. Chegando lá o que encontrei me deixou contrariada e vim embora. A metade da praça estava ocupada por carros de som na maior altura e jovens bebendo e dançando algo estranho,que imagino ser o funk.  Do outro lado, um grupo de pessoas tentando ouvir o Jota Jota excelente  cantor que tentava cantar “O bêbado e a Equilibrista mas sua voz era suplantada pelo funk no outro lado. Eu achei melhor não me aborrecer e vim pra casa. Fiquei no Face, depois tomei dois copos de espuma de cerveja e tentei dormir, só tentei porque o barulho do Parque é uma coisa que penso, ultrapassa 200 decibéis. Hoje tudo termina e vai deixar saudades a muita gente...Então vou tentar encontrar os amigos que ficarem mais dias. As festas do interior não são mais aquelas… O tempo passa, tudo se moderniza e eu vou ficando cada vez mais ranzinza.

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