Praticar corrida nas ruas da área industrial do Complexo Tubarão, em Vitória, Estado do Espírito Santo, na presença de poluentes e de altas temperaturas, pode prejudicar atletas e amadores. A poluição por ozônio, associada ao calor e à umidade, leva a uma queda de performance dos corredores, além de resultar em danos precoces na mucosa que reveste todo o trato respiratório. As declarações que atestam, são dos médicos, o oftalmologista Ubirajara Moulin de Moraes e pneumologista Ana Maria Casati Nogueira da Gama.
Apesar da denúncia da entidade Juntos SOS ES Ambiental, no portal Folha Diária, nenhuma autoridade do Executivo, do Judiciário e do Ministério Público se manifestou contra a 5ª Corrida Vale. O evento foi autorizado no último dia 17, pela Federação Capixaba de Atletismo – FECAt e está programa para começar às 8 horas, do dia 1º de novembro próximo, nas ruas poluídas de Tubarão. De acordo com informações de médicos especialistas, quando a pessoa está fazendo exercício, inspira um volume de ar maior. Assim, inspira mais poluentes, que atingem níveis mais profundos do pulmão.
Atestados
O oftamologista Ubirajara Moulin disse que “ambiente poluído além de trazer uma série de complicações para o sistema respiratório, a poluição do ar também é danosa para os olhos. Ela pode causar coçeira, ardência nos olhos, fotofobia(aversão a luz), sensação de corpo estranho, lacrimejamento, olho vermelho e borramento da visão. Com ar seco em épocas de poucas chuvas,os sintomas ficam mais evidentes ainda”.
Moulin revela que “o outono e a primavera são marcados pela intensa variação climática e tempo seco. Com isso as consequências tornam-se desagradáveis. A combinação de tempo seco e poluição são um veneno para a saúde dos olhos. Este fenômeno é até visível a olho nu. Quem mora em andares mais altos dos edifícios da cidade como São Paulo, por exemplo, pode até mesmo ver a camada cinza sobre a cidade, principalmente no final da tarde. Usuários de lente de contato também sofrem mais em ambientes poluídos e muitas vezes impossibilitam participar de competições mesmo em ambientes favoráveis”, disse.
“Estudos apontam que seis em cada dez pessoas alérgicas tem seu estado potencializado pela baixa umidade no ar e pela poluição. Por isto, deve-se evitar estes ambientes, principalmente para fazer caminhada e muito menos corrida”, disse Moulin.
A pneumologista Ana Maria Casati Nogueira da Gama disse que "a realização da 5ª Corrida Vale dentro do seu complexo industrial, representa uma incoerência. Um desrespeito aos nossos atletas participantes. As nossas autoridades vão contra a todas as normas estabelecidas pela Organização Mundial de Saúde, já que a mesma recomenda que os atletas corram fora dos horários de pico de poluição e de temperatura. Imagine correr dentro de uma área sabidamente poluída pelo material particulado, enxofre e monoxidode carbono?”
Segundo a médica, “a justificativa para essa contra-indicação baseia se nos princípios da fisiologia do exercício. Para suprir a maior demanda de oxigênio durante o exercício, o organismo aumenta a captação do mesmo através do aumento da sua frequência respiratória e cardíaca, fornecendo maior quantidade de energia. Essa quantidade aumentada de oxigênio é de cinco vezes o normal. Esse ar respirado carreia consigo todas as partículas inaladas. Essas atravessaram a fina membrana alvéolocapilar que tem uma superfície, denominada , área de troca gasosa, que corresponde a um campo de futebol.”
Ela ainda comentou que “devido ao íntimo contato desta membrana com os capilares pulmonares, ocorre a troca gasosa de oxigênio pelo gás carbônico. O material particulado fino - PM 10 e PM 2,5 micra- penetra nessa unidade alvéolocapilar, atingindo a circulação sanguínea, causando efeitos e sintomas pulmonares e cardiovasculares. Evidencias recentes demonstram que o ferro, presentes nessas partículas, gera espécies reativas de oxigênio- ROS- que estão envolvidas em importantes alterações nas membranas celulares e são os responsáveis pelo desenvolvimento dos sintomas respiratórios e cardiovasculares" .