Por Paulo César Dutra*
A cidade de Colatina, no noroeste do Espírito Santo, onde nasci, existiram figuras pitorescas que ficaram na memória dos colatinenses pelos seus “causos”. Entre 1958 e 1971, conheci várias dessas figuras, entre elas os ex-vereadores “Zim Caveira” e “Wady Jarjura”, o armeiro e inventor “Chico Lodi”, o namorador “Seo Miguel”, conhecido por “Outra Seo Miguel” e o “João de Deus”, que ninguém sabe de onde veio, qual a sua idade, que se perpetua pelas ruas da cidade. Quando sai de lá em 1971, todos estavam vivos, mas pelo que me foi informado, só Joãozinho continua lá.
De chicote e estilingue na mão, sacolas penduradas pelo pescoço e sempre de bermudas, ele andava pelas ruas da cidade e era conhecido por todos. Até os dias de hoje, ninguém sabe ao certo a idade dele. Não gosta que o chame de velho e se diz '‘menino", apesar dos seus 70 anos presumíveis.
A verdadeira história de João de Deus, também conhecido como “Rabo de Tatu”, ninguém conhece. Conversando rapidamente, e às vezes dizendo coisas sem nexo, ele conta que nasceu em São João de Moulin (provavelmente no município de Alegre-ES), mas não só recorda o nome do município, sabe apenas que fica no Espírito Santo. Seu pai se chamava Brás e sua mãe Vicentina de Jesus.
Ele é continua sendo visto nas ruas do centro de Colatina, nunca soube se ele atravessou a ponte para o lado de São Silvano e se foi em outro bairro da cidade. Ele mora atualmente na casa da minha prima Aurora Tonini (que lhe deu acolhida), na ladeira do colégio das irmãs. Ele é muito prestigiado na cidade por ser inofensivo. Gosta de ser chamado de menino e pede a benção a todos na rua. Vai sempre à Igreja e não perde uma cerimônia de casamento, mas diz que nunca vai casar porque mulher "é muito complicada".Constantemente é visto correndo atrás de garotos com pedras e dando chicotadas pelo ar, mas não agride ninguém. Só assusta aqueles que gostam de chamá-lo de velho e de doido.
Anda praticamente por toda a cidade e na hora do almoço vai até a igreja. Assiste a várias missas durante o dia a dia da cidade e sabe rezar muito bem. As cerimônias de casamento são as que ele mais gosta. Aos sábados e nas sextas-feiras, ele sempre está na primeira fila ali, imóvel, assistindo a todos os casamentos.