O ex-diplomata e dono do Grupo Infinity Bio-Energy, Sergio Schiller Thompson-Flores que coleciona negócios controversos que vão de documentos furtados à trabalho escravo, de relacionamento com espião à calote em banco, está sendo procurado desta vez, pela polícia brasileira e a Interpol, por espancar, torturar e ameaçar a matar a mulher a atriz global Cristiane Machado. Ele está foragido por ter descumprido ordem judicial de afastamento de sua esposa. O fato foi denunciado no último domingo, dia 18, pela Rede Globo, através do programa Fantástico.
Para quem não sabe e para aqueles que fingem não saber, fazendo vistas grossas (como as autoridades estaduais e federais), em 2007, Sérgio surrupiou um prêmio de Megasena, do Banco do Estado do Espírito Santo – Banestes, no valor de R$ 57 milhões, depois de convencer, com muita lábia, o governador Paulo Hartung, o vice-governador Ricardo Ferraço, o secretário de Estado do Planejamento, Guilherme Dias e o presidente da Assembleia Legislativa do Espírito Santo – ALES, Guerino Zanon a assinarem o documento da liberação do dinheiro. Nada foi investigado no Espírito Santo até aos dias de hoje (20.11.2018).
Cenas de torturas
As cenas de espancamento da atriz global Cristiane Machado por seu marido, o empresário e ex-diplomata Sergio Schiller Thompson-Flores apresentadas neste domingo, 18, no programa Fantástico, da Rede Globo, disse muito sobre a violência doméstica e os riscos de feminicídio, que só cresce no país, mas pouco falou do agressor. Diretor da Agência Financiadora de Inovação e Pesquisa (Finep) no governo Collor de Mello, Thompson-Flores coleciona negócios controversos que vão de documentos furtados à trabalho escravo, de relacionamento com espião à calote em banco estatal.
Em dezembro de 2002, no meio da acirrada disputa entre a empresa Gazeta Mercantil, responsável por jornal de mesmo nome, e o empresário Nelson Tanure que solicitava a penhora da editora, o ex-diplomata acabou sendo envolvido. Em ação do processo, documentos que teriam sido furtados da Gazeta Mercantil foram apreendidos na residência e no escritório de Thompson-Flores. Até março daquele ano, Thompson-Flores trabalhava como administrador da Gazeta Mercantil para a família Levy, proprietária da publicação e após desentendimento, passou a prestar serviços para Tanure, então proprietário do Jornal do Brasil.
Sede de sangue e escândalo de espionagem
O jornalista Luis Nassif registra em artigo de 2014 um pouco do perfil do executivo Thompson-Flores: “Funcionário público de carreira, nos anos 90, ele foi beneficiado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento (Bndes), no governo de Fernando Henrique Cardoso, com consultoria na área de privatização. Ganhou dinheiro e sede de sangue. Depois disso, meteu-se em várias embrulhadas sempre buscando a bala de prata, a grande jogada. Jamais se contentou com o trabalho normal de fazer crescer sua empresa”, afirmou o jornalista. Nassif ao citar por alto o caso da Gazeta Mercantil, ainda declarou que Thompson-Flores “é um ex-diplomata que enriqueceu com privatizações e tentou seguir os passos de Nelson Tanure, de entrar na mídia como reforço para manobras de lobby”.
O português Tiago Verdial, acusado de ter feito monitoramento ilegal de autoridades e de ter corrompido servidores da Receita Federal, da Policia Federal e da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), quando preso em junho de 2004 pela PF trouxe à tona outra faceta de Thompson-Flores, a de funcionário da Kroll, líder global em consultoria empresarial de riscos e investigações corporativas. Com seu nome descoberto em um CD em posse de Verdial, no jargão da comunidade de inteligência “com a casa caindo”, Thompson-Flores assumiu prestar serviços para a empresa sediada em Nova Yorque e com ramificações no mundo inteiro. Era a Operação Chacal que investigava atos de espionagem supostamente contratados por executivos da Telecom Itália e o banqueiro Daniel Dantas onde figuravam autoridades do governo brasileiro, como os, na época, ministro da Secretaria de Comunicação do Governo Luiz Inárcio Lula da Silva, Luiz Gushiken, e o presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb. A operação foi arquivada por falta de provas.
Falência e empréstimo não pago
De olho em uma grande oportunidade, no início da febre do etanol, Thompson-Flores estruturou um fundo de investimentos com sede em Londres para captar recursos e comprar usinas antigas. Segundo o jornalista Luis Nassif, “captou dinheiro de incautos para um projeto amalucado”, pois o problema não seria o fato das usinas serem antigas, mas situadas em regiões economicamente inviáveis. Foi a criação da Infinity Bio-Energy que não chegou a durar quatro anos, mas deixou um estrago considerável no estado do Espírito Santo.
Não informado
Com a decretação da falência da Infinity Bio-Energy em julho de 2017, o Banco do Estado do Espírito Santo (Banestes) “perdeu no ‘Golpe das Tampinhas’”, onde “nele se ganha ou nele se perde”. Ou seja, com o famoso jogo de azar, o banco estatal “levantou a ‘tampinha’ errada e perdeu R$ 57 milhões emprestados sem nenhuma garantia para os ‘aventureiros do etanol’, exímios jogadores de tampinhas”.
A cifra, atualizada pelo jornal Extra Classe do Rio Grande do Sul, chegaria hoje a cerca de R$ 185 milhões que começou a ser desperdiçada no dia 3 de março de 2007, na Residência Oficial do Governo do Estado, “onde o representante do Infinity, o executivo Sérgio Thompson-Flores, que foi recebido com tapete vermelho pelo governador Paulo Hartung e assessores, destacou que encontrou no Espírito Santo um ‘ambiente fértil’ para a realização de investimentos e disse, sorrindo: “aqui encontramos vantagens competitivas e um Governo local com seriedade e competência, que possibilita a concretização desse empreendimento, com responsabilidade social e ambiental”.
Na realidade, “o Infinity ganhou na maior moleza R$ 57 milhões, sem fazer nenhum gasto, porque tudo foi pago pelo anfitrião” e, ao contrário das promessas de desenvolvimento, o que chegou lá foi apenas o desenvolvimento da falência das usinas de etanol e da quebradeira dos fornecedores.
Trabalho escravo
Mas antes do calote no Banestes e da quebradeira na cadeia de fornecedores, a empresa de Thompson-Flores deixou suspeitas de outra marca que envergonha o Brasil, o trabalho análogo à escravidão e somente acabou não sendo inserida na “Lista Suja” do Ministério do Trabalho e Emprego em julho de 2011 por intervenção da 20ª Vara do Trabalho do Distrito Federal.
Surpreendido pela liminar concedida para suspender o resgate de trabalhadores em condição análoga à de escravo em uma fazenda de cana da Infinity no município de Naviraí, Estado do Mato Grosso do Sul, o procurador do trabalho, Jonas Ratier Moreno, que acompanhava a operação chegou a declarar na época que a Justiça ignorou o laudo técnico que apontava as condições degradantes que fundamentaram a interdição das frentes de trabalho em sua decisão. ”’Os trabalhadores estavam uns farrapos. A empresa não oferecia nem cobertores diante do frio”, afirmou.
Ao todo, 817 pessoas – das quais 542 migrantes de Minas Gerais e Pernambuco e 275 indígenas de diversas etnias – segundo o procurador estavam submetidas a condições degradantes de serviço. Na ocasião, a coordenadora da operação, Camilla Bemergui, lembrava que a Infinity já havia sido inserida na ”Lista Suja”. Em dezembro de 2010, a empresa passou a figurar nessa base de dados por conta de uma libertação de 64 trabalhadores em outra usina de cana do grupo, em Conceição da Barra (ES). Thompson-Flores está foragido.