Nada contra aos que vêm de fora do Estado ou do país. Todos nós temos nossas origens de fora. O próprio indígena não brotou aqui por acaso, ou saiu da selva, pelado, para ser atormentado pelo branco, intruso, ou o negro escravo ou liberto, de origem africana.
Na década de 50 conheci uma família interessante, de libaneses, que tinha uma loja defronte ao imoralmente abandonado Mercado da Capixaba. Recordo que o estabelecimento era conhecido por “Quatro Irmãos Hilal”, Munir, Arefe e Cesar, o outro não me recordo, no momento, mas, esses homens aqui se fixaram e Munir adquiriu parte do mangue, em Santa Lucia, hoje Av. César Hilal, onde construiu o primeiro núcleo habitacional popular, moderno, da nossa capital, em homenagem ao irmão morto, César.
Conheci, também profundamente, os comerciantes Cinelli, italianos, com seus filhos Luiz (meu grande amigo) e Nestor, dono da Livraria Âncora, na rua Duque de Caxias, os Petrochi, também italianos, no comércio de aparelhos óticos, na Praça Oito; Henrique Glik, comerciante de móveis, na Av. Capixaba, próximo aos Correios, austríaco, filho de judeus, um excelente homem. Henrique Meyerfreud, alemão, com uma maquininha de fabricar pastilhas de hortelã, chamada de “pastilha forte”, construiu um império, uma das maiores indústrias da América Latina, fabricante dos bombons Garoto. Nenhum desses homens, seus filhos, se aventuraram à carreira política e, todos eles, como dezenas de alemães, pomeranos, italianos, árabes, turcos, poloneses povoaram nosso Estado, e o Brasil foi, a partir de 1888, quando ocorreu a verdadeira transformação do país e, se não caminhou melhor, foi pela péssima qualidade dos nossos dirigentes, entreguistas, ladrões da pior espécie, com raras exceções.
Em 1824, conforme documento da época, os comerciantes de Vitória elaboraram o primeiro abaixo assinado, dirigido ao Ouvidor e Corregedor da Comarca de Vitória, José Libânio de Souza, objetivando a retirada dos camelôs que já povoavam as ruas da capital, que começava a nascer, pelo menos até ontem, quando essa população de intrusos camelôs resiste à inércia dos nossos administradores municipais que, ao invés de se preocuparem com a administração pública, promovem o exercício da mediocridade e a incapacidade de exercer medidas profiláticas em socorro aos verdadeiros empreendedores, fazem de tudo para se manterem no poder. Coisa antiga...
Ao lado da escadaria Bárbara Lindenberg, que dá acesso da Avenida Jerônimo Monteiro ao Palácio Anchieta, compondo sua moldura, existe uma banca de camelô (à direita da subida), que conheço “estabelecida ali” desde 1952, naturalmente que não deve ser o mesmo, há 68 anos, mas, um dos mais importantes estabelecimentos comerciais, de propriedade de um dos irmãos Hilal, Arefe, suporta até hoje a presença daquele intruso. A velha e tradicional Praça Oito tem uma proliferação vergonhosa de camelôs. De onde vem essa gente? Que poder ela têem para que as chamadas autoridades municipais sintam tanto medo delas?
Ao tempo da Grande Guerra, quando, por pressão americana Getúlio Vargas declarou estado de guerra aos chamados países que formavam o Eixo – Alemanha, Japão e Itália -. Os comerciantes originários de alguns países, sofreram as mais imbecís perseguições, principalmente alemães, italianos, pomeranos e japoneses. Terminada a guerra, alguns com seus estabelecimentos pilhados por refinados ladrões, muitos de gravata, voltaram para reconstruir a grandeza do Brasil. Os camelôs, resistem, graças à má política. Que sina!
Fotos da proliferação de camelôs no centro de Vitória-ES