Em 1967, o exército boliviano deteve Guevara, figura mítica da luta armada durante a Guerra Fria, com apoio de dois agentes da CIA cubano-americanos.
Crédito: Arquivo/AFP – registro da Istoé
10/03/22 - 21h25 - Atualizado em 11/03/22 - 07h45
O militar boliviano Mario Terán Salazar, que assegurou ter matado em 1967 o guerrilheiro argentino-cubano Ernesto “Che” Guevara, morreu nesta quinta-feira (10), aos 80 anos, em Santa Cruz de La Sierra, no leste da Bolívia, informaram pessoas próximas.
“Morreu. Não estava doente e não havia nada a fazer”, disse à AFP Gary Prado, o militar que capturou o Che na selva boliviana há 54 anos. Prado soube da morte do colega e ex-aluno da escola de sargentos às 07h15 locais (08h15 de Brasília). “Fui avisado pela família e colegas das Forças Armadas porque ele estava internado no Hospital Militar”, explicou. O hospital se recusou a confirmar a morte e a causa por “confidencialidade médica”.
Em 8 de outubro de 1967, o exército boliviano deteve Guevara, figura mítica da luta armada durante a Guerra Fria, com apoio de dois agentes da CIA cubano-americanos. O Che estava à frente de um grupo de guerrilheiros que tinha sobrevivido a combates, à fome e a doenças. Ferido em combate, foi levado para uma escola abandonada no povoado de La Higuera. Ali passou sua última noite. Foi crivado de balas no dia seguinte por Terán com o aval do então presidente René Barrientos (1964-1969), um anticomunista ferrenho.
“Esse foi o pior momento da minha vida. Nesse momento, vi o ‘Che’ grande, muito grande, enorme. Seus olhos brilhavam intensamente”, relatou Terán na época. “Sentia que se jogava em cima de mim e quando me olhou fixamente, tive um enjoo. Pensei que com um movimento rápido, o ‘Che’ poderia tirar minha arma. ‘Fique sereno – me disse – e mire bem! Vai matar um homem!’ Então, dei um passo para trás, até a soleira da porta, fechei os olhos e atirei”, contou o militar.
Aos 39 anos, o Che se tornava uma lenda, enquanto seu corpo, inerte, e seu rosto com os olhos abertos era exibido como um troféu na cidade vizinha de Vallegrande, uma imagem imortalizada pelo fotógrafo da AFP Marc Hutten.
Após 30 anos de serviço, Terán se reformou e se manteve no anonimato, evitando a imprensa. Chegou, inclusive, a afirmar que o assassino de Guevara não tinha sido ele, mas outro militar com mesmo nome e sobrenome.
Depois de concluir seus estudos em medicina e de múltiplas viagens que forjaram suas convicções, Guevara, nascido na cidade argentina de Rosario, conheceu Raúl e Fidel Castro no México, antes de ingressar na guerrilha que levou os “barbudos” ao poder em Cuba, em 1959.
Anos depois de sua infrutífera tentativa de propagar a chama da revolução armada no Congo, seguiram-se meses de “desaparecimento” antes de envolver-se, na Bolívia, em sua última guerrilha.