Desembarque em Vitória dia 8 de janeiro de 1889, à frente Serafina Rossi Brunetti com Euridice Brunetti no colo, logo atrás a Chiara Brunetti Ghidoni com Fulgenzio no colo e ao seu lado esquerdo as filhas dela Annunciata e Ernesta Ghidoni, já no pátio do porto.
Por Paulo César Dutra (*)
As duas famílias Ghidoni e Brunetti se uniram mais precisamente no dia 20 de fevereiro de 1875, quando os camponeses Leopoldo, filho de Manfredo Ghidoni e Maria Barbieri; e Chiara, filha de Paolo Brunetti e Annunziata Agosti, casaram na Igreja de São Giorgio (Chiesa di San Giorgio), que é a igreja católica da Comune de Rio Saliceto, na Província de Reggio Emillia, na Região da Emillia Romagna, no Norte da Itália.
Eles casaram depois das três guerras pela independência italiana, ocorridas de 1848 a 1849, em 1859 e em 1866, e o país passava por uma transformação. As guerras resultaram no processo de unificação italiana que consolidou a formação da Itália como Estado-Nação, no século XIX, sob a liderança de Vitor Emanuel II, rei de Piemonte-Sardenha.
A unificação italiana, porém trouxe um desequilíbrio social, como o desemprego, um dos fatores que fez com que milhares de italianos do Norte da Itália deixassem suas terras de origem e se dirigissem ao Brasil. Dentre os primeiros imigrantes para o Espírito Santo, a partir de 1874, estavam os tiroleses, austríacos de cultura italiana, piemonteses, vênetos, lombardos e romagnolos, pequenos proprietários rurais, trabalhadores artesãos ou acostumados à mascateação. Os camponeses, os artífices e trabalhadores não qualificados foram as primeiras vítimas em todas as transformações sociais na Itália a partir de 1870.
Uma dessas vítimas era o meu bisavô, o romagnolo lavrador Leopoldo Ghidoni, filho dos italianos Manfredo Ghidoni e Maria Barbieri, que nasceu no dia 16 de fevereiro de 1852, na comuna de Correggio, da Província de Reggio Emilia, na Região da Emilia Romagna, na Itália.
Em 1888, já morando na comuna de Rubiera*, Leopoldo tinha 36 anos e Chiara, 34, e o casal tinha sete filhos com idades entre 14 e 4 anos na época. Sujeitando-se a evolução industrial da máquina a vapor, mesmo no campo, ele já não estava trabalhando o suficiente para o dia-dia da sua família. O seu desejo de emigrar surgiu exatamente por causa da falta de serviço em sua região, a Emilia Romagna, onde para trabalhar, muitas vezes ele tinha que ir para os povoados vizinhos da cidade de Rubiera e até mesmo longe de casa, onde era obrigado a ficar dias fora, nos períodos das plantações das sementes ou nas colheitas e armazenamentos dos frutos, deixando a família sozinha.No inverno a situação era pior ainda por causa das baixas temperaturas. Era um desastre porque ficavam confinados em suas casas.
* Rubiera é uma comuna da província de Reggio Emilia na região italiana da Emília-Romanha, localizada próxima da Via Emília, a cerca de 50 km ao noroeste de Bolonha e a cerca de 13 km ao sudeste de Reggio Emilia.
Como a situação não estava melhorando e sem perspectivas, Leopoldo procurou o cunhado, Gildado Brunetti, de 34 anos, que era irmão gêmeo de Chiara, que passava pela mesma situação. E decidiram emigrar para o Brasil. E na Prefeitura de Rubiera, onde eles moravam, Leopoldo e Gildado conseguiram através do Governo Brasileiro as passagens de 3ª classe de navio para as duas famílias e as promessas das terras no Espírito Santo. Assim os dois conseguiram juntar dinheiro para alimentação no período da viagem para a terra prometida, vendendo as coisas que não puderam levar para o novo mundo.
O lavrador Leopoldo Ghidoni, coma mulher Chiara e os sete filhos Clínio, Adriano, Arto Lorenzo, Ernesta, Manfredo, Annunziata e Fulgenzio, mais o irmão Licínio Ghidoni e o cunhado dele Gildado Brunetti, a concunhada Serafina Rossi e os cinco filhos Naio, Rosalba, Donato, Epaminondas e Euridice (Irida) deixaram a comune de Rubiera no dia 5 de novembro de 1888, em pleno outono na Itália (Outono de 23.09 a 21.12.1888), quando as noites são muito frias e congelantes por causa dos ventos. Utilizando carroças de quatro rodas, puxadas por burros e montarias, fizeram o seguinte percurso: o 1º dia foi de 19,8 quilômetros até Reggio Emília, onde pararam para pernoitar em barracões de estábulos. No dia seguinte andaram mais 29 quilômetros, entre Reggio Emilia e Parma onde pernoitaram. Depois fizeram um percurso mais longo, de 145 quilômetros, entre Parma e La Spezia. Aqui não foram informados os locais que pernoitaram até chegar em La Spezia e nem as datas. Sabe-se apenas, não por informações oficializadas, que eles saíram de La Spezia até o porto de Gênova (um percurso de 100 quilômetros) embarcados em um trem de passageiros, Maria Fumaça, com destino a Genova. Não existe a informação do dia que eles chegaram em Gênova. A informação oficial e de que eles embarcaram no navio Canton, no Porto de Gênova, em Gênova, na Itália, que zarpou na manhã, do dia 30 de novembro de 1888, com destino ao Brasil, conforme registros oficiais do Porto de Genova do embarque no navio, da procedência e destino das famílias Ghidoni e Brunetti.
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Registro do embarque no navio, da procedência e destino da família Ghidoni
Nome idade função procedência navio data destino
Leopoldo Ghidoni 36 Chefe Rubiera Canton 30.11.1888 Brasil
Chiara Brunetti 34 Esposa Rubiera Canton 30.11.1888 Brasil
Clinio Ghidoni 14 Filho Rubiera Canton 30.11.1888 Brasil
Adriano Ghidoni 13 Filho Rubiera Canton 30.11.1888 Brasil
Arto Lorenzo Ghidoni 10 Filho Rubiera Canton 30.11.1888 Brasil
Ernesta Ghidoni 08 Filha Rubiera Canton 30.11.1888 Brasil
Manfredo Ghidoni 07 Filho Rubiera Canton 30.11.1888 Brasil
Annunziata Ghidoni 05 Filha Rubiera Canton 30.11.1888 Brasil
Fulgenzio Ghidoni 04 Filho Rubiera Canton 30.11.1888 Brasil
Licínio Ghidoni 25 Irmão Rubiera Canton 30.11.1888 Brasil
Registro do embarque no navio, da procedência e destino da família Brunetti
Nome idade função procedência vapor data destino
GildaldoBrunetti 34 Chefe Rubiera Canton 30.11.1888 Brasil
Serafina Rossi 39 Esposa Rubiera Canton 30.11.1888 Brasil
Naio Brunetti 09 Filho Rubiera Canton 30.11.1888 Brasil
Rosalba Brunetti 07 Filha Rubiera Canton 30.11.1888 Brasil
Donato Brunetti 06 Filho Rubiera Canton 30.11.1888 Brasil
Epaminonda Brunetti 02 Filho Rubiera Canton 30.11.1888 Brasil
Euridice Brunetti 01 Filha Rubiera Canton 30.11.1888 Brasil
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As duas famílias Ghidoni e Brunetti chegaram (exceto Licínio que morreu no navio e como de praxe naquela ocasião o corpo foi jogado ao mar) na madrugada do dia 25 de dezembro de 1888, no porto da cidade do Rio Janeiro, que era a Capital do Brasil, conforme o registro das autoridades portuárias.
Hospedaria
No dia 25 de dezembro de 1888, assim que as duas famílias Ghidoni e Brunetti desembarcaram foram transferidos para a hospedaria dos imigrantes na Ilha das Flores (RJ) para a quarentena de 14 dias, onde passaram o Natal e o Ano Novo.
No dia 7 de janeiro de 1889, as famílias de Leopoldo e de Gildado, embarcaram no vapor Araruãma, com destino à Província do Espírito Santo. Na manhã do dia 8 de janeiro de 1889, as duas famílias Ghidoni e Brunetti desembarcaram no porto de Vitória, na Rua do Comércio, no centro da Capital, onde foram cadastradas. As famílias, Ghidoni recebeu o nº 17574 e a Brunetti o nº 6082, conforme consta no arquivo do APEES. Depois os Ghidoni e Brunetti foram hospedados no albergue de Pedra D’água (Hospedaria dos Imigrantes), em Vila Velha.
No dia seguinte, 9 de janeiro, seguiram de canoas a remos, navegando quase 50 quilômetros, pelo canal da baía de Vitória e pelo rio Santa Maria de Vitória, até desembarcarem no porto de Cachoeiro, em Santa Leopoldina, onde pernoitaram.
Dia 10, os imigrantes saíram em grupo, de Santa Leopoldina e seguirama pé e em lombo de animais,passando por uma trilhaaberta em meio à floresta, em um percurso de 22 quilômetros até a Vila de Santa Teresa, onde pernoitaram.
No dia 11, os imigrantes italianos deixaram a hospedaria de Santa Teresa e seguiram, a pé, e em lombo de animais, em direção ao Núcleo Colonial Senador Antônio Prado (em Mutum, que hoje é o distrito de Boapaba, município de Colatina-ES).
No Núcleo Antonio Prado as duas famílias Ghidoni e Brunetti, juntamente com outras 113 famílias de imigrantes italianos, onde no dia 13 de janeiro de 1889, foram recebidos pelo chefe da Colonização, Dr. Gabriel Emílio da Costa, que distribuiu os lotes de terrenos para os italianos. Leopoldo e Gildado, mais suas famílias, conheceram as terras que iam construir as casas para se abrigar, plantar, colher, prosperar e criar novas famílias. As terras ficam as margens dos rios Santa Maria do Doce, Rio Mutum, rio São Jacinto e rio Baunilha entre as localidades de Boapaba e Baunilha que agora são
O QUE ACONTECEU COM ESSAS FAMÍLIAS APÓS 11.01.1889
Nascimento e mortes em família
As duas famílias Ghidoni e Brunetti se apossaram das terras doadas pelo Governo do Espírito Santo com o compromisso de desmatarem, preparar e plantar para arrecadarem em pagarem as terras ao governo.
Depois de cumprirem com o governo as terras, foi no dia 19 de julho de 1891, que as famílias Ghidoni e Brunettifestejaram o nascimento do primeiro brasiliano Pedro Ghidoni, filho de Leopoldo e Chiara.
Dois anos depois, em 1893, a tristeza tomou conta das famílias com a morte de Chiara. Em 1896, foi a vez de Leopoldo morrer.
Pedro ficou órfão dos pais, com 5 anos de idade. Ele foi então criado pelos tios Gildado e Serafina que moravam na localidade de Margem do Rio São Jacinto, em Boapaba (Mutum). Lá ele tinha a companhia dos primos Donato e Epaminondas Brunetti que eram crianças também. Depois, já com 14 anos de idade, ele foi para a propriedade do irmão Clínio Ghidoni, onde iniciou sua independência financeira com os plantios e as produções do café e do milho, na localidade de Córrego da Conceição, em Boapaba (Mutum). Com as vendas das produções do café e do milho, Pedro começou a fazer uma poupança em um banco cooperativo instalado em Mutum.
Pedro ficou mais velho e pensava em criar a sua própria família
Em 1909, com 17 anos de idade, Pedro conheceu durante uma festa da igreja católica em Boapaba (Mutum), Mathilde Pretti, filha dos italianos Cleonice Simonassi e Jerônimo Pretti, que moravam às margens do rio Mutum, na localidade do Sagrado que fica entre Boapaba (Mutum) e São Jacinto.
Um ano depois, em 26 de agosto de 1910, diante do Frei José Antônio foi celebrado o casamento de Pedro e Matilde na Igreja católica de Santa Teresa, tendo como testemunhas Uldarico Guerra e Epaminondas Brunetti. Ela passou assinar Mathilde Pretti Guidoni.
Pedro e Matilde foram morar, provisoriamente na propriedade do irmão Clínio Ghidoni, na localidade de Córrego da Conceição, onde nasceram os filhos Maria Cleonice Ghidoni em 22 de setembro 1911; Cesar Ghidoni em 14 de novembro de 1913; Amélio Ghidoni em de 14 de abril de1915; Paulo Ghidoni em 25 de junho 1916 e Linda (Olinda) Ghidoni em 4 de outubro 1918.
Em 1919, Pedro comprou uma área de 342 mil metros quadrados, em Vertente do Mutum, na localidade do Sagrado que fica entre Boapaba (Mutum) e São Jacinto. Lá ele construiu uma casa para morar com a família e fazer os plantios e as produções do café e do milho. Pedro tinha como vizinhos, de acordo com a planta do terreno dele, a propriedade de Manoel Corrêa ao Norte; a propriedade dos filhos de Belizário Machado ao Sul; o rio Mutum a leste e as propriedades de Manoel Vicente da Costa e de Teodorico Pinto da Conceição a Oeste. Ali nasceram os outros filhos Olga Ghidoni em 3 de abril de 1921, Holdar Guidoni em 1922, Hilário Ghidoni em 25 de junho de 1923 e Lourdes Pretti, em 1930.
No dia 5 de agosto de 1926, Pedro, com 34 anos de idade, foi assassinado a tiros, dentro da venda do italiano João Perim que fica na rodovia estadual ES-080 (que liga a cidade de Colatina a cidade de Santa Teresa), cerca de 3 quilômetros da propriedade dele. Ele foi enterrado no dia seguinte, em 6 de agosto de 1926, no cemitério de São Jacinto, em São Roque do Canaã. Terminava ali o sonho de um próspero produtor rural.
Pedro deixou Matilde com 37 anos e os filhos Maria Cleonice, 15 anos, César 13 anos, Amélio, 11 anos, Paulo 10 anos, Linda 8 anos, Olga, 5 anos, Holdar, 4 anos e Hilário, 3 anos. Mathilde depois ainda teve uma filha, Lourdes Pretti, nascida em 1930. Mathilde faleceu em Colatina, no dia 5 novembro 1957, e foi enterrada no dia 6 de novembro de 1957, no cemitério de São Jacinto, em São Roque do Canaã, no Estado do Espírito Santo, no Brasil.
Linda (Olinda) Ghidoni
A minha mãe, Linda (Olinda) Ghidoni nasceu em 4 de outubro de 1918, em Mutum, (distrito de Boapaba da cidade de Colatina, no Estado do Espírito Santo, no Brasil.), tendo sido registrada e casada em 1938, no Cartório de Ofício Civil, no distrito de Itaçu, na cidade de Itaguassu, no Estado do Espírito Santo, no Brasil. Ela casou-se com Joaquim da Silva Dutra, com quem teve os seguintes filhos: Leonidas Antonio Dutra (que nasceu dia 03.11.1938), Maria do Carmo Dutra (30.12.1942), Ana Maria Dutra (28.02.1945), João Jeronimo Dutra (08.10,1948), Paulo César Dutra (25.08.1951) e Rafael Pedro Ghidoni Dutra (12.11.1954).
Observação: Esse texto é um resumo do projeto do livro que estou escrevendo. Quem fizer parte das famílias envolvidas diretas ou indiretamente com os Ghidoni (Guidoni), Brunetti e Pretti citados no texto e desejarem contribuir com informações e fotos, meus contatos são: dutra7099@gmail.com, paulodutra2002@yahoo.com.br, telefones (27) 99788.9844 (watzap), 99976.0790 e 33245475 (fixo)-Paulo César Dutra (jornalista profissional Regº nº 0331-ES-DRT-ES Mtb. Filiado ao SindiJornalistasES e FENAJ