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Planejamento Esquizofrênico: Um “Case” Emblemático

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18/02/2016

 

Pontos-Chave:

1)    A PF terá que abandonar a construção de sua nova sede; no coração do RJ.

2)    Motivo? Enquanto o projeto era desenvolvido e licenciado, e as primeiras providências para a obra eram tomadas, foi construído e inaugurado um (importante) túnel embaixo do terreno da PF!

3)    Tão ou mais importante que saber-se “quem foi” o responsável (como propõe o delegado da PF) seria mapear-se, claramente, como foi possível ter isso ocorrido. E, ainda mais: Como vacinar o processo decisório; o planejamento e gestão brasileiros para que não volte a acontecer casos semelhantes; não é?


A discussão sobre planejamento e gestão no Brasil ganha mais um case . Esse é um candidato a se tornar antológico:
 notícia“Túnel inviabiliza construção de nova sede da PF na Praça Mauá”. 
O motivo: “A iniciativa foi sepultada depois de engenheiros terem descoberto que seria impossível fazer as fundações. É que, se escavassem no local, cruzariam com outra obra, o Túnel Rio 450 Anos, que passa bem embaixo”: “O primeiro da cidade construído abaixo do nível do mar, inaugurado no dia 1º de março do ano passado, para desafogar o trânsito entre o Centro e a Zona Portuária. A via tem 1.480 metros de extensão”.
O conteúdo da matéria é intrigante e quase autoexplicativo. Reorganizado torna-se ainda mais pedagógico:
“O prédio novo seria erguido no centro do terreno onde fica o atual”.
“A ideia de erguer dois prédios modernos no terreno surgiu em 2008”.
“Pelo cronograma da PF seriam erguidos dois edifícios de seis andares no local, que também ganharia uma praça e um jardim”.
“A nova sede deveria ter sido inaugurada em 2014, antes da Copa do Mundo”.
“O projeto da nova sede foi aprovado pela prefeitura em 2009. Já a construção do Túnel Rio 450 Anos recebeu sinal verde do município um ano depois, em dezembro de 2010”. 
“A Polícia Federal está autorizada a tocar a construção desde 2009... Agora, realmente, é inviável”.
“O dinheiro foi usado para elaborar o projeto e derrubar um prédio que ficava no terreno de cerca de 30 mil metros quadrados”.
“Como o antigo edifício era tombado, a direção da PF pediu autorização ao Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) para a intervenção.”... “Localizado na Avenida Rodrigues Alves 1, o prédio da PF foi inaugurado pelo então presidente Getúlio Vargas, em 1940”. 
“A licença foi concedida(pelo Inepac), mas o órgão exigiu que a instituição reformasse o teatro. Foram gastos cerca de R$ 400 mil na restauração, dinheiro que saiu do governo federal”.
Ou seja: O antigo prédio já foi demolido. E estava (está?) em curso processo de licenciamento (público!), já com execução da compensação prévia (reforma do teatro).
Inevitável, assim, a conclusão do delegado federal ouvido pela reportagem: “Eu não tenho a menor dúvida de que alguém cochilou. Agora é preciso saber quem foi”!
Todavia, como o perigo já passou (“felizmente”, os engenheiros descobriram, a tempo, “que seria impossível fazer as fundações”), e a imprensa aparentemente se antecipou aos órgãos de fiscalização e controle;agora, tão ou mais importante que saber-se “quem foi” é nos debruçarmos, cientificamente, sobre esse “case”. 
... mormente por que aconteceu no coração do Rio de Janeiro (Praça Mauá); “vizinho ao (recém-inaugurado) Museu do Amanhã e ao Museu de Arte do Rio”; envolvendo o órgão de maior evidência no Brasil hoje (a PF) e a mais fluente articulação União-Estado-Município no passado recente; na “região do Rio que mais recebeu investimentos público e privado” em função do “Porto Maravilha” (cartão postal dessas administrações) e dos preparativos para os Jogos Olímpicos/2016 – evento midiático global!
Algumas perguntas são inevitáveis: Fora de tão iluminada vitrine, quanto casos, qualitativamente congêneres, não devem estar acontecendo Brasil afora? Quanto dinheiro temos desperdiçado (independentemente de corrupção)? Quantos benefícios (para a população) estão sendo postergados?
Por isso, tão ou mais importante que saber-se “quem foi”,seria identificar-se como foi possível que esse “case” ocorresse. Quantos, onde e quais foram os “cochilos”. E, ainda mais: Como vacinar o processo decisório; o planejamento e gestão brasileiros para que não volte a acontecer casos semelhantes; não é?

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