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A Justiça a Serviço do Crime

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24/11/2016

Por: Amadeu Roberto Garrido de Paula *
 
O título põe a nu o paradoxo e escandaliza conservadores. Trata-se do título de um livro do Magistrado Arruda Campos, conhecido como "Matias Arrudão", publicado há mais de meio século. Custou-lhe a exclusão da magistratura. A ementa do acórdão do Conselho Superior da Magistratura do Tribunal de Justiça de São Paulo é exemplar dos tempos obscuros que toldavam a sociedade brasileira. Iniciava-se assim: "Magistrado Comunista. Inadmissibilidade". 

Alguém evidentemente punido por suas opiniões. Em verdade, Arruda Campos não era comunista; era um democrata radical. Para entender-se o que seja um democrata radical, é o cidadão pensador em levar ao extremo as liberdades, as garantias e direitos individuais, coisas antigas, da França de 1789, que desde logo foram introduzidas em nossa Constituição Cidadã, em seu art. 5º.
 
Inobstante a Carta, esses direitos de "primeira geração" são pisoteados cotidianamente. Os abusos de autoridade são praticados reiteradamente no território nacional, especialmente pelas polícias militar e civil. E também pelo Ministério Público e pelo Judiciário. A inutilidade desse método ofensivo aos preceitos da democracia é óbvia, com o crescimento incessante da criminalidade. Notícia dos últimos dias nos dá conta de que a tranquila Porto Alegre acaba de superar em oito pontos os índices de criminalidade da longamente sofrida Pauliceia. 

O Congresso Nacional discute o tema, posto no PL 4.850/2016, bom de ser acompanhado por toda a sociedade. Dele o Relator, submetido a pressões, legítimas na democracia, de membros do Ministério Público Federal, retirou o dispositivo que instituía crime de responsabilidade para magistrados e membros do Ministério Público. Não entendemos por que não se destina a policiais. Considerada a inteligência empírica que temos do Estado de São Paulo, muito pouco teriam a temer magistrados e membros do Ministério Público ante essa legislação, porquanto sua imensa maioria é proba, culta e consciente dos valores da democracia, conquistada com enormes sacrifícios depois de duas décadas de céus sombrios. 

Lamentavelmente, o mesmo não podemos dizer da Polícia Civil e da Polícia Militar. Seus integrantes creem piamente que, ao recorrer a brutalidades extremas contra cidadãos suspeitos e contra a lei, recebem aplausos da sociedade. Com aparente razão. A sociedade, cansada de ser agredida, admite o fuzilamento de condenados na Praça da Sé, sob as vistas gerais. O general da Idade Média, que repousa no inconsciente de todos nós e, por vezes, vêm ao limiar da consciência, responde à criminalidade intensa e banalizada. 

A lei penal, ao criar a "prisão temporária", por cinco dias, praticou um erro. É um meio de a polícia "arrancar a verdade" de suspeitos. Grande parte confessa a prática do crime, sob forte coação física e psicológica. Por vezes num único ato: um tapa no rosto. Não há como um juiz equilibrado, como em geral o são, ainda que não seja exemplo do "bom juiz Magneau", dar valor a essas confissões, que encerram o trabalho policial. 
A boa atividade de investigação policial não precisa ser violenta. Precisa ser paciente, trabalhosa e inteligente. Tudo o que não desejam funcionários públicos concursados, estáveis, mal remunerados e sem incentivos. Sua pobreza material e intelectual é despejada sob suspeitos situados em condições sociais ainda mais precárias; a violência dos celerados, inclusive de menores, ao invés de diminuir, recrudesce e se amplia. O ciclo vicioso se completa e cada vez mais nos chafurdamos na lama de um país à beira de não poder ser mais habitado.
 
Propostas para sairmos desse estado de coisas inaceitável não faltam, mas o governo federal, de curto fôlego, provavelmente não abrirá espaço para o combate racional à violência no Brasil, uma das maiores da América Latina, provavelmente somente atrás do México e da Nicarágua, considerado o número de homicídios. E são muito concretas, apresentadas por instituições privadas que se debruçam sobre o assunto: unificação das polícias militares e civis, mudanças radicais na educação básica e no ensino médio, criação de oportunidades para os jovens, eliminação dos preconceitos contra os negros, remuneração humana para os policiais e seu aperfeiçoamento mediante cursos de formação científica e humanista, reforma carcerária para que as prisões sejam efetivos centros de reabilitação e reinserção social, finalidade última da pena reclusiva, aperfeiçoamento das penas não privativas da liberdade, muitas delas mais eficazes que a segregação. Temos absoluta certeza de que, ao final e ao cabo de um plano nacional de segurança pública, assim como se deu em outros países, teremos positivos resultados, senão para erradicar completamente a violência e os crimes, pelo menos para amenizá-los significativamente. Enquanto não tivermos uma sociedade justa, precisamos de medidas para evitar que ela seja completamente desconstruída e levada a um ponto de irreversibilidade. 

Editorial do jornal "O Estado de S. Paulo" de 22 de novembro pontua que o caminho da erradicação da corrupção e da moralização dos costumes e da política brasileira não passa por arranhaduras à democracia. Consequentemente, apoia o dispositivo que cria a figura de crimes de responsabilidade para as referidas autoridades. Não há porque o Presidente da República estar sujeito a ser responsabilizado e um juiz de direito não. 
É o "necessário equilíbrio", mostrado a todos pelo símbolo da Justiça. Como concluiu seu opúsculo o saudoso Matias Arrudão, "fora da democracia não há salvação". 

* É advogado e membro da Academia Latino-Americana de Ciências Humanas.
  
Esse texto está livre para publicação. Se precisar de  mais informações ou quiser agendar uma entrevista com Amadeu Garrido de Paula entre em contato na  De León Comunicações, nos telefones (11) 5017-7604// 99655-2340 ou e-mail bruna@deleon.com.br. 

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