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Gigante Pantagruel – Jogando Sal na Boca dos Bêbados Adormecidos.

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20/12/2015

            “Se eu abrir a boca, metade da República cairá“ . Este era Paulo Roberto Costa, ex-diretor comercial da Petrobras, na sua prévia sobre o que viria a ser a Operação  Lava Jato. Indignado com a ameaça, um amigo jornalista defendeu os governantes brasileiros, escrevendo:  “Antes, os neoliberais de Washington usavam  os militares para vencer a democracia; agora, lançam mão dos burocratas antinacionalistas...”  Intrigado com o seu viés interpretativo, recorri a LordActon (1834-1902)  que, há trezentos anos, pedagogicamente, assinalara que, independentemente das ideologias, “Todo  poder corrompe, e  o poder absoluto corrompe absolutamente”.  Dizia ainda que  “quando se tem uma concentração de poder em poucas mãos, freqüentemente aqueles que   detêm o controle são homens com mentalidade de  gangsters”

            Pelo o que se pode depreender, o que está acontecendo no Brasil não se trata de um embate ideológico entre nacionalistas e seus opostos.  O darwinista Spencer (1820-1903) explicava que  “A sociedade é constituída  por organismos sociais sujeitos à sobrevivência dos mais aptos”. Nada disso, contestou Marx (1818-1883): “A sociedade é formada  por classes permanentemente em luta”. Essa discussão induz as pessoas mais informadas  a retomar idéias que  atravessaram séculos para dar uma configuração ao processo civilizatório. De uma maneira geral, as lutas políticas  sempre ignoraram as advertências, aparentemente simplórias,  de John Locke (1632-1704), um dos precursores do Contrato Social, de que  “A sociedade é natural e, portanto, é melhor deixá-la em paz...”.

             Sarney, quando presidente da República orientava seu ministério  a observar as tendências das ruas, chamada de “Opinião Pública”. Era perigoso amparar-se apenas nos políticos para assegurar a governabilidade, desprezando o movimento pendular das ruas . A Revolução francesa mostrou claramente isso.  Deputados, senadores, empresários ou lideres sindicais  são sempre parte das crises políticas. As denúncias de  Paulo Roberto e até de Jefferson, na Operação Mensalão, confirmam também a hipótese.

            Próxima de um conto da carochinha, a crise brasileira dá a impressão de caminhar no sentido da natureza das coisas. Não  apenas Locke, mas  Foucault falou também muito sobre isso. Domingo (13) foi o dia das manifestações de rua pelo impeachment da presidente Dilma,  de  Eduardo Cunha (quiçá também de Temer e Renan). A quantidade maior ou menor  de gente nas manifestações de rua, não significa exatamente uma mudança de opinião sobre os acontecimentos potenciais,  mas uma introspecção das indignações pessoais que recolheram os flaps sem, entretanto, perder o fio da meada. Acredite nisso. É como um grito preso na garganta. Mobilizada contra a estagnação e a corrupção, que, sabe,  permanecerão, a “ maioria silenciosa”, move-se lentamente como um polvo, coadjuvante da exigência por mudanças profundas na estrutura do Estado e do governo. São as externalidades imprevisíveis que, certamente, afetam um projeto de "governo longo", articulado nos subterrâneos da política.      

             Quando se fala em rupturas, pensa-se logo em revolução imaginando-se uma ação armada. Ora, lá no início, o meu amigo jornalista está dando uma outra versão, ao denunciar a burocracia de Estado. Tem sentido? Não sei.  Aviltada pelo aparelhamento do Estado, não é impossível que a burocracia de Estado  esteja reagindo silenciosamente  aos objetos estranhos  que se movem  dentro do Aparelho de Estado, minando as bases do  que Rabelais (1494-1553) chamou de “O gigante   Pantagruel” (1532),  filho Gargântua" , cuja mãe morre durante o parto, e que, insaciável, deseja engolir por dentro toda a sua própria estrutura. “Sua força é superada apenas pelo seu apetite”, diz Rabelais. As artimanhas contra os impeachments e as cassações de mandato  também encontram  explicações pedagógicas nos escritos grotescos do francês, que  estabeleceu uma relação de Pantagruel  com um demônio bretão, cuja atividade preferida era jogar sal na boca dos bêbados adormecidos, para lhes causar sede e fazê-los beber ainda mais. O Estado, destinado a representar a Nação, a regular o espaço social para torná-lo homogêneo, as teorias que surgiram em torno dele e o "uso do cachimbo" tornaram o Estado, no Brasil, cada vez mais particular, numa forma superior de alienação na sociedade contemporânea, transformado-o  num locus da divisão social de que fala Marx, mas também do “gangsterismo”, lembrado por LordActon.

               Existem poucas versões  com credibilidade maior de que aquela equação de que a crise política  brasileira passa pela a saída da presidente Dilma. Mas primeiro é preciso expurgar Cunha do Poder. Com ele na Presidência da Câmara, substituto constitucional do presidente da República e do vice, no seus afastamentos, o impeachment ou a renúncia de Dilma (e Temer) é quase impossível. Se a queda de Dilma passa por uma operação casada com a de Cunha, caindo Cunha, Dilma cai também. Mas, como já não se acredita em nada, nem em ninguém, tantas são  as mentiras, desponta ainda uma possibilidade, não desprezível, de que tudo fique como antes na terra de Abrantes, esperando pelas eleições de 2018. Mas, acordem, ouçam a sabedoria de Locke: deixem a sociedade em paz.
Jornalista e professor. Doutor em História Cultural

Eliezer Batista Ligou A Vale Ao Resto Do Mundo

Galgando vários postos ao longo de sua carreira, até ser nomeado presidente da mineradora coube a ele transformar..


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