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Um salto no escuro

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28/12/2015

Por: Leonardo Humberto Bucher*

      Sinceramente, não sou daqueles que acham que o mundo está ficando cada vez pior, que a humanidade está se esvaindo e coisas deste tipo. Já vi este discurso atribuído a romanos em pleno esplendor, a babilônios em período pré-cristão e em muitos outros momentos da história do mundo. É chavão milenar dizer que a juventude está perdida, que os costumes estão se degradando, etcetcetc.

Mas uma coisa, sinceramente, me preocupa e me deixa com a sensação de que estamos, nesta nossa época, empreendendo um grande e assustador salto no escuro. O que me faz ter esta dúvida, mais do que uma preocupação, é a forma como se articula hoje a informação, o conhecimento, a inteligência, a reflexão, a experiência e a sabedoria. Dúvida porque, em toda a história do homem, grandes desafios foram milagrosamente superados, daí a minha menor preocupação e maior curiosidade de como isto que me preocupa poderá ser resolvido.

A informação, dado bruto que registra o que ocorreu, mas que não necessariamente produz conhecimento, virou commoditie. Eu diria mais, virou artigo de uso abusivo, irresponsável e indiscriminado. A facilidade da sua obtenção tem colaborado fortemente para que não se use a inteligência para transformá-la em conhecimento para não se precisar acessá-la novamente. Este mix de informação com inteligência está cada vez mais raro fazendo com que o déficit de conhecimento só aumente e com que a afirmação de que a Sociedade da Informação e a Sociedade do Conhecimento sejam coisas indissolúveis, decididamente, não seja real. A quantidade de informação me parece ser inversamente proporcional à produção de conhecimento, isto é, quanto mais informação, via de regra, menos conhecimento.

Informação responde uma dúvida, dá uma resposta, mas não muda comportamento como o faz o conhecimento. Mas, também o conhecimento é meio que vazio. Sem misturar experiência e reflexão em grandes quantidades ele não se transforma em sabedoria. E em uma sociedade onde o consumo da informação como se fora fastfood é a regra, não se gera conhecimento e a sabedoria vira artigo raro, de luxo, e, pior, até certo ponto, inútil. Para os vorazes consumidores da informação prêt-à-porter, a sabedoria é, definitivamente, desnecessária, uma ostentação odiosa e uma enorme idiotice.

Se não bastasse o estrago que isto pode fazer na evolução da nossa civilização, ainda tem o mais alarmante, o que, parafraseando o Lula, nunca antes na história da humanidade havia ocorrido: a informação está majoritariamente nas mãos dos jovens, ou dos mais jovens, que são, indiscutivelmente, os que têm mais dificuldades e menos condições para sorver a informação para transformar em conhecimento, refletir sobre o conhecimento e a experiência e gerar sabedoria pura e cristalina. Já temos um enorme déficit de conhecimento e uma quase inexistência de sabedoria em nosso meio, imaginemos o cenário que se avizinha daqui por diante? A experiência e a sabedoria sendo desprezadas por absoluta falta de, a informação permanecendo informação sem produzir mudança de comportamento e, menos ainda, sabedoria para mudar o mundo.

Creio que não seja necessário enfatizar muito a falta que fará o trabalhar, o analisar e o usar com inteligência a informação. Pior, o desastre que se constituirá a ausência de uma mistura do conhecimento com ética, moral e experiência para dar o sabor supremo de uma vida humana: a sabedoria. Nunca é demais lembrar, talvez a mais forte característica de um sábio é que ele sabe usar o que sabe. Fazem muita falta!

Como diz LuisDolhnikoff, "pode-se então concluir que, enquanto a busca de informação envolve bilhões de indivíduos, e a geração de conhecimento, uma parcela ínfima da população mundial, a reflexão, sem a qual não há sabedoria possível, representa uma parcela virtualmente nula dessa mesma população. Dito de outro modo, se somos, de fato, a “sociedade da informação”, e, também, uma “sociedade do conhecimento”, somos, ao mesmo tempo, uma cultura avessa ou impermeável à reflexão, uma sociedade irreflexiva e, por isso, tão rica em informação (e conhecimento) quanto pobre de sabedoria."

Claro que a dose mínima de conhecimento e a quase ausência de sabedoria que estão sendo algumas das características mais marcantes desta nossa sociedade contemporânea são, por si só, um monumental problema. Mas o maior problema mesmo é a absoluta falta de noção dos mais jovens sobre a gravidade desta situação. Cada vez mais, os jovens se acham detentores de tudo o que precisam para viver, mesmo com parcos conhecimentos e sem sabedoria, mas talvez por isto mesmo, desprezam tanto os mais velhos e mais experientes como o conhecimento e a sabedoria.
Preocupante demais!

*Especialista em Gestão Empresarial (MBA) pela COOPEAD-UFRJ, pós-graduado em Psicanálise Clinica pela ABPC, Engenheiro Eletricista.
 

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