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Cinema e Etiqueta

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25/02/2016

Voltemos à nostalgia e à memória — uma coisa é ligada à outra — e caímos nos primeiros tempos do cinema, quando não havia uma banda sonora e as salas contratavam um pianista para fazer um acompanhamento sonoro nas fitas de Buster Keaton, Harold Lloyd e, logicamente, Charlie Chaplin, até demonstrando que a música e o cinema realmente nasceram para ficar juntos. A presença desse pianista não era cena exclusiva de filme americano. Aqui mesmo, no Espírito Santo, tinha cinema com pianista. O salário do coitado não dava para pagar uma entrada, mas o sujeito não podia desafinar e tinha de dedilhar as teclas no mesmo ritmo em que o pobre Carlitos tinha de se livrar de seus perseguidores!

Revelarei algo que ocorreu nesses idos. Já naquela época, da inocência proclamada e dos bons costumes praticados pelas famílias, havia os “Filmes para Cavalheiros”. Eram exibidos em seções especiais, onde somente homens adultos assistiam, com portas fechadas e tudo o mais. Nada se revelava do seu conteúdo, ninguém comentava nada do ocorrido e o silêncio era a regra de etiqueta desse tipo de filme.

Eis que um moleque resolveu assistir ao filme, movido pela curiosidade sobre o porquê de tamanho segredo. Conheço o nome e o último endereço dele, já falecido com avançada idade. Mas, para não abalar sua excelente boa família, não revelarei quem foi. Só posso adiantar que isso ocorreu na década de 1920.

Eis que o moleque viu na tela o que estava além da sua imaginação: uma mulher vestida com os trajes em que veio ao mundo, sem acato algum. Ele não resistiu e gritou um sonoro “Oba!”.

A seção foi encerrada e o tio desse desaforado, um dos cidadãos mais ricos do estado e cabeça de uma das famílias mais respeitáveis do país, símbolo incontestável da moral e dos bons costumes, indignado com a atitude do sobrinho, o levou pelas orelhas para casa onde lhe aplicou uma surra cuja repercussão chegou até meus ouvidos, quase cem anos depois, e que agora revelo aos senhores. 

Eis a regra de etiqueta mor para esse tipo de filme: não se revele!

Etiqueta em cinema é um assunto delicado. Exige-se silêncio, por parte dos espectadores e respeito aos que estão ao lado, à frente e atrás. Isso seria básico. Mas é impossível não achar graça e tornar as salas um atrativo a mais se não fosse alguns espertos que são capazes de assistir a mais de uma seção — o que já foi permitido com um único ingresso — para colocar uma piada no momento certo. Em “Romeu e Julieta”, de Franco Zeffirelli, um excelente filme de 1968, o personagem principal sobe uma escadaria, dá uma parada, se volta em direção aos espectadores, volta e retorna a subir. Alguém, em Vitória, no extinto Cine Juparanã, não se conteve e gritou: “Romeu!”. Ao voltar-se, o gaiato continuou: “Não foi nada, não! Desculpe!”. Romeu continuou subindo e o cinema veio abaixo, às gargalhadas.

Claro, nem todas as atitudes fora do padrão são bem aceitas. Uma vez, uma moça não resistiu a uma cena “caliente” num filme e soltou um suspiro de prazer tão alto que fez o cinema inteiro ficar arrepiado! Seu namorado deve ter se assustado… 

Muitas vezes, a tecnologia vem compor as atitudes não apreciadas pelos espectadores. Na época que os relógios eletrônicos, que emitiam um discreto sinal sonoro para cada hora inteira, e um outro mais discreto para cada meia hora, escutava-se isso nos cinemas. Em “Tubarão”, de Steven Spielberg, dava para se calcular a hora sem se olhar para o relógio, por causa dos vários bipes que se escutava na sala.

Alguns cinemas vinham com regras incompreensíveis. Teve um que não permitia a entrada de menores de catorze anos depois das oito horas da noite, mesmo em filme de censura livre. Alegava proibição do Comissário de Menores, mas era só nesse cinema que tinha essa regra. Em outro, o gerente recolhia, sem devolver, as revistas em quadrinhos de quem quer que fosse, alegando sabe-se lá o quê! Ora, numa era preciosa das histórias em quadrinhos, em que a quantidade de títulos era bem maior que as mesadas poderiam adquirir, qual seria o melhor lugar para se trocar os gibis já lidos por outros senão nas preciosas matinês de domingo? Na escola, bem que se tentava, mas era uma regra aceita na época a total incompatibilidade entre as HQs e a escola — isso é assunto para muitas discussões. Mas proibir no cinema? Onde, além das bancas de revistas poderíamos encontrar Batman, Bolinha, Brasinha, Cavaleiro Negro, Combate, Don Pixote, Fantasma, Flash Gordon, Flecha Ligeira, Gasparzinho, Joe Cometa, Luluzinha, Mandrake, Mickey, Mindinho, Nick Holmes, Os Sobrinhos do Capitão, Pato Donald, Pinduca, Príncipe Valente, Rock Lane, Super-Homem, Tarzan, Zé Carioca, Zé Colmeia, Zorro, e tantas outras revistas pelo preço mais acessível do mundo, que é a troca por outro gibi já lido? 

Mas havia uma regra de ouro: certo ou errado, o gerente mandava! Com acesso fácil à Força Policial, quem ousava até mesmo cruzar as pernas para obter um pouco mais de conforto recebia um toque amigável para se assumir uma atitude correta. 

E hoje, sem a presença de um gerente, isso significa que as regras de etiqueta também não funcionam? 

Muito pelo contrário, é claro que mais do que nunca, devem ser seguidas para mantermos atitudes civilizadas de respeito para com nossos vizinhos de cadeira. É importante salientar que a falta de respeito entre as pessoas pode gerar reações extremas. Portanto, sejamos civilizados, educados e vamos seguir algumas regras que, infelizmente estão sendo esquecidas.

Primeiro: você não está em casa. Na nossa casa, a gente coloca as pernas para cima e refresca os pés cansados. Ninguém se incomoda. Em casa, recolhemos as pernas e ficamos à vontade, muitas vezes em roupas íntimas. No cinema, colocar os pés na poltrona em frente não é agradável, principalmente para quem fica com o rosto perto. Não pense que o escurinho do cinema oculta isso. Pelo contrário! Pior, ainda, é bater os pés na poltrona em frente. Não incomoda só quem está sentado no banco alvo das pancadas, mas, sim, uma fileira inteira!

Em consequência, se falar ao celular durante a seção é desagradável, ficar digitando o smartphone conversando por “What’sUp”, “Facebook”, “Twitter” e outras mídias sociais durante o filme ou mesmo no “trailer” incomoda muita gente. Desvia a atenção e vende sua imagem como a de um tolo, que paga um ingresso para continuar conversando com os amigos, o que pode ser feito em outro momento. Há quem alega questões profissionais. Profissionalismo é deixar tudo funcionando bem e dar valor ao seu momento de lazer!

Contar o filme, principalmente seu final, é um pecado imperdoável! O jovem Raymond Chatfield, ao contar um spoilingdo “Star Wars — O Despertar da Força”, foi espancado até à morte por fãs que aguardavam o momento de entrar no cinema. Não… Não foi verdade. Foi uma piada de um site humorístico, mas revelar surpresas dos filmes é algo tão desagradável que muitas mídias eletrônicas sobre cinema tiveram razão em ter acreditado que tal notícia tivesse sido verdadeira! Claro que podemos, com o devido cuidado, comentar algumas cenas do filme para provocar nossos amigos a assistirem, mas sem revelações! Podemos citar sobre a qualidade dos efeitos especiais, da fotografia ou da atuação dos atores. Mas, por exemplo, citar a presença de atores-surpresa é estragar o filme. E, cuidado, o fato de você até revelar que o filme é colorido, para certas pessoas, já é considerado spoiling.

Tem ainda as conversas. O filme começa e o assunto não termina. Nem as risadas! E, se há algum apelo (já não seria nem exigência nos dias de hoje) por silêncio, eis que os faladores estranham e falam e riem mais alto ainda!

Isso, nem falamos da limpeza. Que sujeira o pessoal deixa para trás! Não é porque as salas de cinema pagam a encarregados de limpeza executarem o serviço. Quem deixa sujeira para trás se revela exatamente como é: um descuidado despreocupado com a limpeza do ambiente onde está. Isso para não dizer o que realmente quero dizer: um porco!

E, finalmente, mas sem querer esgotar o assunto, tem a saída do cinema. Um turma de apressados se levanta mal o filme termina e fica em pé, parado, na fila das cadeiras, obstruindo a visão de quem está atrás. Certo, o filme já terminou, mas há quem goste de cinema e quer ler a relação do elenco e outros detalhes que os adoradores tanto gostam. Se você não gosta, não atrapalhe quem goste!

Tais comportamentos muitas vezes nos causa a vontade de fazer esperar e assistir ao filme comodamente em casa, sem nenhum mal-educado a nos incomodar, com todo o conforto que permitimos nos dar. Isso é, se o telefone não tocar perguntando qual é o nosso plano de celular…

Fonte de pesquisa: Cine Pop, E-Farsas

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