1. capa
  2. Negócios
  3. Economia
  4. Política
  5. Ambiental
  6. Cidades
  7. Opiniões
  8. Cultura
  9. Oportunidades
  10. vídeos

As Finanças do Governo Estadual no Espírito Santo

enviar por email

29/02/2016

Por:  Neide César Vargas*

Não é de agora que o governo estadual no Espírito Santo tem orientado a gestão de suas finanças pela lógica da responsabilidade fiscal. Desde o início dos 2000 houve uma guinada neste sentido encampando, a partir daí, a visão de Estado prevalecente no modelo federativo delineado no governo FHC. Olhando retrospectivamente, desde o lançamento do Plano Real, os tempos de forte descontrole das contas públicas no estado estão datados do período 1995/2002, sendo de natureza predominantemente fiscal. Os problemas financeiros que então se enfrentava estavam associados, em grande parte, a um endividamento de curto prazo conseqüente de gastos excessivos. Com esse perfil particular de endividamento prévio, a adoção da lógica da responsabilidade fiscal pela via do acordo de renegociação de dívida junto à União (março de 1998) e enquadramento às exigências da LRF, não foi tão traumática como em outros estados.

O principal indicador de endividamento, a relação Dívida Consolidada Líquida/Receita Corrente Líquida (DCL/RCL), nunca foi tão elevado aqui quanto alhures. Entre 2000/2007 ele apresentou um movimento decrescente, estável na casa dos 40% a partir daí, equivalendo, em 2015, a 31,37%, ante um limite legal de 200%. Além disso, o peso da parcela da dívida referente aos acordos de 1998,foi sempre relativamente baixo (em média 1/3 do total, chegando a ¼, em 2013). 

Entender objetivamente as razões desse quadro peculiar requer ir além de interpretações partidárias, que reputam resultados apenas a vontade política dos governantes de plantão. Requer destacar que o governo estadual contou,a partir de 2003,com condições estruturais mais favoráveis do que estados maiores (RJ, RS, MG, SP). A principal dessas condições envolveu o nível de endividamento prévio,relativamente menor e de natureza menos explosiva que nos demais. Dispôs, desta forma, de uma margem de manobra maior no uso de suas receitas, face ao baixo comprometimento com o serviço da dívida consolidada. Distintamente, estados como Rio Grande do Sul ou Rio de Janeiro, por exemplo, amargaram, desde fins dos 1990s, compromissos de reservar 13% de suas receitas líquidas reais para arcar com serviços de dívida junto à União. Esses montantes não eram suficientes para evitar que se gerasse um resíduo, incrementando o estoque de suas dívidas para além do efeito de expansão devido à correção monetária baseada no IGP-DI. 

O segundo fator a explicar a adesão mais tranquila do governo estadual ao regime responsabilidade fiscal foi a ampliação continuada de suas receitas desde 2003, em significativa medida conseqüente de aspectos que independeram de seus governantes e gestores. Viu-se um crescimento continuado das receitas face ao bom comportamento da Economia Brasileira entre 2003/2008, com breve crise em 2009, e quedas mais relevantes a partir de 2014. Adicionalmente, também desde 2003, recebeu crescentes ingressos de royalties de gás/petróleo, que só recentemente, com a queda do preço do petróleo, sofreram retração relevante. 

Considerando tais aspectos estruturais, os governos em exercício tiveram condições mais civilizadas e maior autonomia para adotar medidas fiscais e de reforma do Estado exigidos anualmente pela Secretaria do Tesouro Nacional. Ante tais condições, fez o chamado “dever de casa” no campo fiscal, empreendendo avanços na sua estrutura fazendária e introjetando uma cultura de gestão pautada na eficiência.

Afora os impactos localizados da crise internacional em 2009, houve um quadro de bonança entre 2003 e 2012, estimulando a receita e com ela a elevação dos gastos e a tomada de novos empréstimos. Os empréstimos se deram notadamente a partir de 2007, tomando recursos a baixos custos junto ao BNDES, CEF e BID, visando financiar novos investimentos e, no caso do Espírito Santo, sem comprometimento de suas finanças. 

Na esfera fiscal utilizou prioritariamente a ampliação de receitas(expansão real de cerca de 80%, entre 2003/2008) e o menor comprometimento com despesas financeiras para expandir investimentos públicos,exercitando, assim, fortemente,o viés desenvolvimentista arraigado na tradição política estadual. Ampliou a despesa com pessoal (no mesmo período citado, crescimento real de cerca de 40%), adotando uma política de reajustes salariais sempre abaixo da inflação,ao mesmo tempo que possibilitou novas contratações e qualificação de pessoal. 

No período mais favorável obteve superávits primários (2003/2008), acumulando reservas financeiras para 2009 e 2010. A partir de 2009 operou com superávits primários apenas em 2011 e 2012 sendo que os déficits se deviam aos investimentos financiados com operações de crédito, sem deixar de cumprir, até 2012, as metas estabelecidas anualmente com a STN.  

A reversão macroeconômica a partir de 2014, com taxas de crescimento da economia nulas e, em 2015, fortemente negativas, além de desvalorização sensível da taxa de câmbio, inflação na casa de dois dígitos, e queda dos preços do petróleo, gerou impactos perversos sobre as contas estaduais, em particular sobre as receitas. Antefortes desafios, o novo governo que assumiu em 2015 teve a seu favor a herança de 12 anos de contas públicas sob controle, com níveis de poupança corrente no último ano acima de 10%, com baixa variação de 2014 para 2015. A adoção rápida e firme de medidas fiscais duras (corte de investimentos de 71%, congelamento de salários,renegociação de débitos tributários) possibilitou fechar 2015 sem maiores problemas fiscais.

Todavia, é equivocado se inferir que as ações do governo estadual são aplicáveis,com resultados similares, em muitos estados da federação. A herança de endividamento de cada um e o peso das despesas financeiras é crucial para traçar os limites e alcances de uma atuação estritamente fiscal como aqui se deu.    

* Doutora em Ciências Econômicas, Professora da Universidade Federal do Espírito Santo e Coordenadora do Núcleo de Conjuntura.
 

Eliezer Batista Ligou A Vale Ao Resto Do Mundo

Galgando vários postos ao longo de sua carreira, até ser nomeado presidente da mineradora coube a ele transformar..


Dignidade de Liberdade

Para advogados, decisão do STF sobre casamento dá maior autonomia aos idosos...


Os Doces E Amargos Desafios Da Existência

Em "Chocolate Meio Amargo", a psicóloga Senia Reñones aborda as complexidades das relações humanas e as delícias de aprender...